Mulheres com repetição de infecção urinária devem procurar urologistas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Metade das mulheres deve apresentar um caso de infecção urinária pelo menos uma vez na vida e, em 25% delas, a doença provavelmente vai se repetir, segundo estudo publicado no New England Journal of Medicine.

Por ser comum, a infecção é facilmente tratada por médicos generalistas. Mas quando os sintomas aparecem ao menos duas vezes em seis meses ou três vezes em um ano, talvez seja hora de recorrer a um especialista não muito procurado pela mulher: o urologista.

Apesar de ter a imagem associada ao cuidado do órgão genital masculino, o urologista é especialista no trato urinário comum aos dois sexos.

A orientação vale tanto para mulheres cis e homens trans, quanto para mulheres trans, que podem ter também uma maior facilidade para a infecção.

Um dos principais fatores da recorrência em mulheres é anatômico. As mulheres possuem uretra menor que a masculina, o que facilita a passagem de bactérias do intestino para a bexiga.

Dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) apontam que, em cerca de 8 a cada 10 casos, a infecção urinária é associada à bactéria Escherichia coli, normalmente localizada no trato gastrointestinal.

O médico Ubirajara Barroso Jr., diretor da Escola Superior de Urologia da SBU, cita ainda outros dois fatores: a proximidade da uretra com a vagina, que possibilita maior proliferação de bactérias, e o comportamento da mulher em relação à urina.

“Para um garoto é socialmente aceitável e às vezes até estimulado que urine em qualquer lugar, mas quando é a menina, os pais têm receio, então ela é estimulada a urinar em banheiros confiáveis. Tem meninas que precisam esperar chegar em casa para urinar —isso faz com que elas desde cedo posterguem a micção e com que a bexiga aumente a capacidade. Então serão adultas que passarão uma manhã sem urinar no trabalho ou irão ao banheiro só duas ou três vezes no dia”, diz.

A dificuldade para ir ao banheiro também facilita a infecção em mulheres trans. “Tem um agravante que é o medo de ir ao banheiro por conta de assédio moral, violência ou embaraços que podem ser criados”, afirma o médico, que é professor da Faculdade de Medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

A urina é a maior defesa do corpo contra as bactérias que provocam a infecção. “A bexiga vai se defender da bactéria tentando subir a partir do próprio fluxo de urina. Se beber água, faz mais urina, e se previne melhor”, diz a urologista Maria Claudia Bicudo.

É recomendado para as mulheres na menopausa que bebam pelo menos 1,5 litro de água por dia. A menopausa é mais um facilitador para a infecção do trato urinário na mulher.

“A vagina fica mais ressecada, diminui a proteção das bactérias normais lactobacillus, altera o ph, e com isso fica mais fácil que a bactéria do intestino chegue na bexiga”, afirma Bicudo.

A infecção urinária se divide basicamente em três localizações: pode afetar a uretra (uretrite), a bexiga (que ganha o nome comum de cistite) e os rins (pielonefrite).

Apesar de ser uma doença corriqueira, a infecção preocupa os médicos quando atinge os rins porque facilita a passagem da bactéria para a corrente sanguínea. Quando isso acontece, ela pode causar um quadro inflamatório, prejudicar outros órgãos ou provocar problemas de coagulação e necrose em membros.

“Se ela for associada a uma obstrução dos rins, o quadro pode ser muito grave e provocar até a morte”, afirma Barroso Jr.

Identificar a infecção urinária nos rins, porém, não é fácil. Diferente da cistite, que tem como sintomas o ardor ao urinar e a sensação de bexiga sempre cheia, a pielonefrite causa febre, dor nas costas e sintomas de mal-estar geral (cansaço, falta de apetite, calafrios, dores no corpo).

“Nesse caso, é preciso procurar ajuda médica urgente para fazer diagnóstico correto e introduzir o mais breve possível tratamento com antibióticos”, diz a uroginecologista Priscila Matsuoka.

A uroginecologia é também uma opção de especialista para mulheres que precisam tratar infecção urinária recorrente. “Tem uma visão mais geral da mulher, vamos nos preocupar com outras questões da vida da mulher que às vezes a formação do urologista não aborda”, afirma Matsuoka.

GEOVANA OLIVEIRA / Folhapress

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