Twitter apresenta falhas para banir pornografia infantil na plataforma

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Usuários do Twitter disseminam conteúdos de pornografia infantil, em sua maioria divulgados por meio de links para outras redes sociais de bate-papo.

A maior parte dos usuários que compartilham esses conteúdos é formada por membros que criaram a conta há poucos meses e seguem poucas pessoas na rede social, estratégia apontada por especialistas como uma forma de não deixar rastros.

A reportagem tentou contato com o Twitter no dia 28 de junho e no dia 27 de julho. Na primeira ocasião, a empresa encaminhou a mensagem automática com o emoji de cocô, resposta para todas as solicitações da imprensa desde março.

Na segunda, respondeu “vamos retornar em breve”, mensagem anunciada no dia 21 de julho como a nova resposta automática da empresa de Elon Musk.

A Folha observou que usuários que consomem o conteúdo criminoso costumam se comunicar por meio de hashtags com as iniciais do termo em inglês para “child pornography” (pornografia infantil, em português).

Apesar de Musk já ter dito que o combate à exploração sexual infantil seria a prioridade da empresa, a reportagem encontrou conteúdos do tipo ao longo de um mês de investigação.

Alguns dos posts são publicados com a hashtag e fotos de pratos de comida, conforme constatado pela reportagem. Nos comentários desses posts, outros membros publicam links que redirecionam para grupos do Telegram e sites com imagens e vídeos de exploração sexual infantil.

Em alguns o usuário é redirecionado para sites em que, sem necessidade de cadastro, já é possível ter acesso a fotos de crianças exploradas sexualmente.

É comum que algumas postagens sejam deletadas ou que as contas sejam suspensas por conter conteúdos impróprios. A reportagem, no entanto, encontrou posts que permaneceram por mais de dez dias na rede e alcançaram quase 380 mil usuários.

Para burlar ferramentas de segurança da plataforma, os usuários costumam misturar emojis ou números no meio da URL e orientam os usuários sobre como proceder para acessar o conteúdo criminoso.

Em maio de 2023, o Ministério Público de São Paulo afirmou que investigava a presença de pornografia infantil nas redes sociais. Em um documento, são listadas contas do Twitter que divulgam o conteúdo. Apesar de essas contas terem sido banidas, usuários ainda conseguem encontrar o conteúdo criminoso na rede social.

Em janeiro deste ano, o Twitter informou que havia suspendido 404 mil contas que criaram, distribuíram e engajaram com conteúdo de exploração sexual infantil, o que, de acordo com a empresa, representava um aumento de 112% das suspensões desse tipo de material.

No mês seguinte, o jornal The New York Times apontou que criou um robô para fazer pesquisas automatizadas em busca de materiais de pornografia infantil. De acordo com a reportagem, não foi difícil encontrá-los. Além disso, estes teriam sido promovidos pelo algoritmo de recomendação do próprio Twitter.

Ao pesquisar o termo “pornografia infantil” na busca da plataforma, o Twitter avisa que não tolera nenhuma forma de exploração sexual infantil e solicita que o usuário denuncie caso encontre esse tipo de material.

Também indica que o usuário procure a SaferNet, organização que mantém um canal de denúncias de crimes e violações de direitos humanos na internet.

O presidente da SaferNet, Thiago Tavares, afirma que antes a entidade mantinha contato com ao menos três funcionários da empresa. Agora, só restou uma pessoa localizada no México, o que, ressalta ele, dificulta o contato.

Ele diz ainda que um conselho que a SaferNet integrava foi dissolvido poucos minutos antes de uma reunião, após seis anos de funcionamento. “Todos os integrantes eram voluntários, tinham reuniões regulares e era um espaço de interlocução com a empresa, em que podíamos apontar tendências, levar casos e discutir possíveis soluções.”

Pelo fato de o Twitter permitir a publicação de nudez e pornografia na plataforma, Tavares afirma que sempre foi um desafio banir conteúdos relacionados à exploração sexual infantil.

ISABELLA MENON / Folhapress

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