Candidata de esquerda e liberal largam na frente em eleições no Equador

QUITO, EQUADOR (FOLHAPRESS) – Dois ex-deputados largaram na frente na disputa pela Presidência do Equador: a esquerdista Luisa González, ligada a Rafael Correa, presidente de 2007 a 2017, e o empresário liberal Daniel Noboa, um “outsider” de centro-direita. Com 55% das urnas apuradas, ela aparece com 33%, enquanto ele soma 24%.

Caso essa tendência se confirme, haverá um segundo turno no dia 15 de outubro e eleito assumirá em 30 de novembro. Isso porque, pelas regras do país sul-americano, para ser eleito já no primeiro turno, um candidato precisa levar mais de 40% dos votos e ainda dez pontos percentuais de diferença para o segundo colocado.

Em terceiro lugar aparece Christian Zurita (16%), que substituiu Fernando Villavicencio, assassinado a tiros 11 dias antes do pleito. Depois, vêm o direitista Jan Topic (15%), o centrista Otto Sonnenholzner (7%) e o líder indígena Yaku Pérez (4%). Bolívar Armijos e Xavier Hervas não chegam a 1% cada um.

Os equatorianos foram às urnas neste domingo (20) antecipadamente porque, em maio, o presidente Guillermo Lasso dissolveu a Assembleia Nacional e convocou novas eleições para escapar de um impeachment. Assim, o novo líder só exercerá seu mandato por um ano e meio, até maio de 2025.

O tempo é considerado curto para resolver a crise na segurança vivida pelo país, que viu a guerra entre gangues de narcotraficantes explodir nas ruas e nas prisões nos últimos dois anos. A taxa de homicídios triplicou nesse período, de 7,8 para 25,9 por 100 mil habitantes, resvalando até na corrida presidencial.

A explosão de violência ocorreu num contexto de aumento da produção global de cocaína, que fez os estratégicos portos do país ganharem relevância na rota aos EUA, à Europa e à Ásia. Assim, grupos locais cresceram, armados e financiados por cartéis colombianos e mexicanos, sem qualquer preparo do Estado.

Luisa González é uma das únicas que propõe “reafirmar o monopólio do Estado sobre as armas” para reduzir a criminalidade —em abril, Lasso autorizou o porte de armas a civis ao decretar estado de emergência parcial no país. Ela também promete reduzir a impunidade, aperfeiçoar a capacidade de investigação e implementar programas educativos, sem detalhar como fará isso.

A ex-deputada já vinha se destacando nas pesquisas, mas havia dúvidas se o assassinato de Villavicencio lhe tiraria votos, já que ele era um grande opositor de Correa. González concorre pelo Movimento Revolução Cidadã, sigla fundada pelo ex-presidente, que se exilou na Bélgica após ser condenado por corrupção.

Já Daniel Noboa é filho do conhecido empresário Álvaro Noboa, que já tentou chegar à Presidência cinco vezes sem sucesso, inclusive contra Correa. Entre suas propostas para a segurança pública estão a militarização dos portos e das fronteiras do país para combater o tráfico de drogas. Ele também fala em criar empregos para jovens e atrair investimento estrangeiro ao país.

Noboa foi uma surpresa, já que todos os outros candidatos estavam embolados atrás de González nas sondagens. Formado em administração pública na Universidade de Harvard, nos EUA, ele teve um perfil mais comedido como congressista, mas começou a se soltar desde que se candidatou à Presidência e cresceu a partir do debate eleitoral do dia 12, pelo jeito direto e firme de falar.

Os dois adversários que agora vão ao segundo turno perderam seus mandatos quando Lasso fechou a Assembleia, há três meses. Agora, também foram eleitos 137 novos legisladores, que assumirão em 26 de outubro —o partido de Luisa González sai na frente por enquanto. Sem maioria na Casa, Lasso não conseguiu governar.

Contrariando o clima de medo e tensão que dominou a reta final da campanha, com a morte de um presidenciável e diversos outros episódios de violência armada envolvendo candidatos, o Equador atravessou este domingo de eleição sem registrar maiores incidentes.

A segurança dos locais de votação foi reforçada com efetivos maiores de militares na porta das salas e policiais nas entradas das escolas, revistando mochilas e bolsas. Em algumas cidades, os eleitores tiveram que passar inclusive por revistas corporais e detectores de metais.

Já os candidatos votaram sob um forte aparato de segurança. “Nas eleições passadas usei o TikTok, desta vez venho com colete à prova de balas”, disse o postulante Xavier Hervas, vestindo a proteção por baixo da camisa. Chamou atenção o caso de Christian Zurita, substituto de Villavicencio, que usou um capacete e foi coberto por uma manta à prova de balas na hora de votar, após relatar ameaças.

Esse contexto não diminuiu a participação nas urnas, como se temia: 83% dos equatorianos participaram, índice levemente superior ao dos últimos primeiros turnos. A soma de votos nulos e em branco também foi a mais baixa dos últimos dez anos (8,7%), apesar da grande indecisão que rondou o pleito “express”.

JÚLIA BARBON / Folhapress

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