Um dos pontos que tenho levantado em discussões é se uma pessoa que viveu a vida inteira sem ter consciência do seu propósito ou na sua zona de conforto é infeliz ou não alcançou a sua autorrealização. Até que ponto, seguir essas dicas e modelos de outros pode me fazer mais feliz.
Eu gosto sempre de pensar nos principais neurotransmissores relacionados à felicidade e ao bem-estar e nenhum impõe regras, pelo contrário. Uma pessoa pode alcançar a felicidade produzindo endorfinas através de uma boa atividade física diária e passar longe de muitas dessas regras “motivacionais”. Uma outra pode incorporar uma boa alimentação e conviver em espaços verdes e arejados e produzir serotonina.
Você pode se apaixonar ou conviver com pessoas incríveis e ter a oxitocina em níveis altos e ser muito feliz também. Ou ainda, trabalhar motivado, ser reconhecido pelo seu trabalho, pelos seus pares e ativar o sistema de recompensa do cérebro, produzindo dopamina. E aí me pergunto: um desses caminhos não é tão importante como os outros?
Eu tenho defendido que cada um pode escolher o seu caminho e não ter medo de ser feliz da sua forma. E um dos pontos principais da minha tese é não se comparar aos outros, buscar os modelos dos outros só vai interferir na sua autoestima e certamente vai te distanciar da sua própria felicidade e bem-estar. Para isso, conhecer um pouco do funcionamento do cérebro é importante para esse resultado.
E por que a mudança é tão incentivada? Existem ligações químicas e físicas no nosso cérebro e cada área é integrada às demais respondendo por funções e atividades individuais. Cada vez que aprendemos algo novo, estimulamos o cérebro a produzir esses neurotransmissores, expandimos e desenvolvemos células nervosas.
A área superior do cérebro, o neocórtex, se junta as outras áreas como o sistema límbico, responsável pelas expressões e emoções e aceleram o desenvolvimento do cérebro. Não tem nada a ver com zona de conforto. Já ouvi muitas vezes pessoas falando que a procrastinação tem a ver com economia de energia.
Nosso cérebro consome a mesma energia se estiver fazendo qualquer atividade, o que modula muitas vezes o não fazer é o medo. O medo de fazer, e principalmente, o medo do resultado. O nosso cérebro vai buscar a estabilidade, a rotina, porque os processos repetitivos vão dar mais eficácia, o cérebro precisa de segurança.
Abraham Maslow desenvolveu uma pirâmide das necessidades humanas, onde trouxe a primeira básica relacionada as questões fisiológicas como sede, fome, sono entre outras. A seguir ele apresenta como necessidade básica a segurança. É sobre esta segurança que me refiro, se sentir estável, é quase instintivo. Por isso, nossos medos são despertos quando não estamos estáveis, como sentimos sede quando o organismo está desidratado.
O medo é proteção, não é algo ruim, como muitos propagam. O problema maior é não ter consciência disso, e não perceber que muitas vezes para crescermos profissionalmente ou até nos desenvolver pessoalmente estamos mudando, e isso não tem problema algum, mas nós estamos mudando diariamente, isso é amadurecimento.
E neste processo de mudança diária, as vezes sentimos este medo porque ficamos com a sensação que nos falta a segurança, o que nem sempre é verdade. Quantas vezes mudamos algo na vida e percebemos que não foi bom e voltamos uma posição. A imposição por mudanças, nos força as vezes não voltar atrás por orgulho ou vaidade.
Qual o problema em reconhecer e dar um passo atrás? Para o cérebro nada demais. Tudo que a humanidade conquistou em sua trajetória tem a ver com a criatividade e a inovação, em mudanças significativas, e nem todas foram bem-sucedidas, mas chegamos até aqui. O cérebro vai produzir medo por desconhecer o novo, até se tornar rotina.
Por isso precisamos de uma quarentena, de um tempo, para mudar hábitos, para o nosso cérebro entender que é seguro aquele novo caminho. Fomos educados a ter rotina, a fazer o mesmo diariamente, formatados para isso. Tudo fica mais fácil na rotina. Acredito que a maioria dos leitores possui uma agenda ou algo parecido para garantir sua rotina. E qual o problema de manter esta rotina ou sair dela? Nenhum.
O que não podemos é nos deixar influenciar pelos outros, ter medo do que os outros vão pensar se quiser ter uma vida simples e confortável. Toda experiência é positiva, mas o medo serve para nos proteger, então não queira mudar num estalar de dedos. A criatividade e a inovação são características humanas também, e devem ser estimuladas como forma de trabalhar este medo, buscar o equilíbrio é fundamental para uma melhor qualidade de vida.
Já assistimos pessoas terminarem relacionamentos, saírem de empregos sólidos ou sair de uma faculdade influenciados por pessoas próximas ou influenciadores que propagam a ideia de “vai ser feliz” como se estas pessoas não estivessem até então.
Sair da zona de conforto é uma atitude individual e escolher o motivo certo para mudar faz parte desse desenvolvimento, e não mudar por moda, porque todos os amigos estão mudando também tenho que mudar. Então, se estiver com medo neste momento de dar um passo em alguma direção não fique constrangido, é seu cérebro te protegendo. Crie novos caminhos para realizar e mude sim, mas por você, não pelos motivos errados. E, se quiser, não mude. Saiba que esta é uma escolha exclusivamente sua, e se sinta bem com ela.