Morre João Carlos Cauduro, conhecido pela identidade visual do Metrô e da Paulista

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morreu nesta quarta feita, dia 23, o arquiteto João Carlos Cauduro, expoente do design gráfico moderno no Brasil e pioneiro do chamado Design Total. Ao lado de seu sócio Ludovico Martino, morto em 2011, foi responsável por projetos icônicos, tanto no mundo corporativo quanto no setor público.

A dupla ficou conhecida principalmente por trabalhos na cidade de São Paulo, mas atuou em diversas partes do país. Juntos, idealizaram projetos como o mobiliário urbano e sinalização da avenida Paulista, além da identidade visual dos ônibus, trens e metrô de São Paulo e do zoológico da cidade. No mundo corporativo, tiveram como clientes a TV Cultura, além do banco Banespa, a antiga Tam e a escola Cultura Inglesa.

Em 1960, Cauduro se formou arquiteto na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde mais tarde se tornaria professor notório. Após receber seu diploma, conquistou uma bolsa e partiu para Florença estudar desenho industrial. Lá conheceu nomes de peso entre Le Corbusier e Tomás Maldonado.

De volta a São Paulo, se juntou ao designer industrial alemão Karl Heinz Bergmiller, com quem projetou mobiliários urbanos da USP. A parceria com Ludovico começou logo na sequência, quando atuaram juntos pela primeira vez em uma exposição. A sociedade se concretiza na fundação do escritório Cauduro Martino Arquitetos Associados, em 1964.

O escritório funcionou por 48 anos, criando projetos para mais de 350 empresas privadas e públicas do país. Trabalhos que marcaram a vida de milhões de cidadãos que olham e se orientam por seu trabalho todos os dias, mesmo que não conheçam o designer por trás daquelas sinalizações e mobiliários.

Nem tudo sobreviveu às constantes reconstruções da cidade. Na avenida Paulista, por exemplo, sobrou apenas um resquício do seu projeto original. Os totens foram um dia coloridos. Os azuis indicavam pontos de ônibus, os verdes informavam a direção dos bairros. Hoje, sobraram os pretos, indicando as ruas que cruzam a avenida. “Projetamos estruturas retas porque sua forma não atrapalha a visão panorâmica da avenida, como acontece com os postes encurvados. A Paulista é marcada por edifícios e os mastros seguem essa forma”, explicou Cauduro.

Os pontos de ônibus e o mobiliário urbano desenhados por Cauduro e Martino, feitos em fibra de vidro, também não existem mais. Em seu livro, “Design Total”, o designer Celso Longo avalia que os totens são hoje um patrimônio abandonado. “O projeto subsiste sucateado pela falta de manutenção e de interesse pelas sucessivas administrações públicas”.

O trabalho da dupla se enquadra no conceito de Design Total ao apresentar projetos sistêmicos de identidade visual corporativa e ambiental. A intenção era pensar o espaço urbano e arquitetônico como parte de uma mesma identidade unificada, acessível e massificada. O projeto de arquitetura na mão de João e Ludovico ganhou importância, abraçando todos os aspectos da usabilidade de prédios e cidades.

Para Cauduro e Martino, o design é parte indissociável da sua função didática e orientadora. A dupla abraçou as lições da Bauhaus e do modernismo, advogando em nome da simplicidade e da clareza, superando a estética complexa que ainda dominava grande parte do design brasileiro.

Se o passante de maneira geral não repara no trabalho de Cauduro e Martino, esse talvez seja o maior elogio possível para a dupla. A proposta era justamente integrar o design de maneira tão eficaz na cidade que seu trabalho fluísse de maneira natural para o público. Em entrevista à revista Superinteressante, quando perguntado sobre a sensação de andar pela cidade e ver sua obra por todos os lados, o próprio Cauduro assumiu que “Ah, a gente estava acostumado. Eu nem percebia.”

CAIO SENS / Folhapress

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