SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ano era 2012. O mês, janeiro. O dia, 24. A cantora inglesa Florence, da banda indie Florence and the Machine, ia tocar pela primeira vez no Brasil, no festival Summer Soul, em São Paulo.
Não era a atração principal da noite, o que parecia surpreendente para um grupo de pessoas, do qual eu fazia parte, que a achava o máximo e ainda acho. É a Daisy Jones da vida real, milênios antes de a personagem fictícia existir em livro ou série de TV.
A apresentação levou ao Anhembi um bando de fãs da cantora ruiva que não tinham o mínimo interesse no nome que vinha a seguir, no horário mais nobre da noite. Era Bruno Mars. Assim que Florence saiu do palco, a plateia foi junto. Na verdade, houve uma troca, e acabei me misturando com a turma que chegava. Fui ficando.
Quando Mars entrou, com uma banda enorme e visual meio retrô, com todos vestidos igual, ele com um topete alto e uma energia infinita, quem, como eu, tinha sobrado naquela plateia, sem saber muito bem o porquê, compreendeu nos primeiros minutos do show a razão de ele ser a principal atração da noite.
Hoje é difícil encontrar alguém que não tenha tido uma experiência semelhante à minha de ser pega de surpresa com o talento de Mars. Mas não foi sempre assim.
Nascido em Honolulu em 8 de outubro de 1985 e batizado Peter Gene Hernandez, Mars foi criado também na capital do Havaí por uma família de artistas. Sua mãe, filipina, morta há dez anos, era cantora e dançarina de hula-hula. O pai, multi-instrumentista, nasceu em Nova York, mas sua família é porto-riquenha. O casal teve seis filhos.
Eles viviam de shows. O pai e a mãe faziam parte de uma banda chamada The Love Notes, que se apresentava cinco noites por semana, com outros parentes e músicos convidados. Os filhos, conforme cresciam e demonstravam interesse em algum instrumento, também começavam a se apresentar com os pais.
Bruno estreou aos três anos de idade, cantando músicas de Michael Jackson, The Isley Brothers e The Temptations, junto com seu tio, que era cover de Elvis Presley. Em seguida, ele mesmo passou a se apresentar e ser chamado de “Mini Elvis” ou “Little Elvis”. Foi assim que ele foi identificado na primeira entrevista que deu, em 1990, para a revista MidWeek.
Alguém em Hollywood leu a reportagem, e Bruno fez uma participação como “Mini Elvis” no filme “Lua de Mel a Três”, de 1992, com Nicolas Cage e Sarah Jessica Parker.
Nos créditos, ele aparece como Bruno Hernandez. Bruno, aliás, é um apelido que ele ganhou ainda bebê, dos irmãos mais velhos, que riam do garotinho, confiante desde sempre, independente, ambicioso e até um pouco bruto daí o apelido.
Depois que estreou, Bruno entrou de vez para a banda da família e logo virou a estrela do show. Incluiu Michael Jackson na sua lista de covers e passava horas ensaiando as coreografias complexas, cheias de giros, gestos cortados e passos rápidos, muitos deles inventados por Michael.
Mars, que significa Marte em inglês, ele adotou como sobrenome artístico quando decidiu se mudar para Los Angeles, assim que concluiu o ensino médio, para tentar uma carreira profissional e solo. Já tinha bem mais de dez anos de experiência de palco e, mesmo sem nunca ter tido aulas, passou a vida tocando bateria, piano e guitarra.
Mas para virar pop star não basta tocar instrumentos, ter boa presença de palco e experiência. Tem que ter algo a mais, um diferencial, aquela coisa inexplicável, mas que não passa despercebida. E nem toda a ambição e dedicação de Mars eram suficientes.
Os primeiros anos na Califórnia foram muito sofridos. Ele não conseguia abrir nenhuma porta, nem sequer uma brecha, para mostrar o que tinha. Então, junto com o compositor Phillip Lawrence, apresentado por um amigo músico, Bruno decidiu começar a criar as próprias músicas, o que nunca tinha feito.
Com a primeira canção pronta, ele bateu na porta de uma gravadora. Um dos executivos o recebeu, ouviu a música e gostou, mas quis comprá-la para apresentar a outro cantor, em vez de lançar Mars como uma novidade.
“Eu estava quebrado e lutando com tudo que tinha, mas não tive opção. Tive que vender a música e deixar que outro intérprete a apresentasse”, disse Bruno em uma entrevista para a revista Rolling Stone. “Aí desisti de me apresentar como artista e decidi centrar esforços em escrever e produzir músicas para outros cantores. Entrei no mundo da música dessa forma.”
No começo dos anos 2000, Mars já tinha músicas cantadas por vários artistas de sucesso, como Flo Rida, Brandy, Beyoncé, Jay-Z, Alicia Keys, Kanye West, Adam Levine e Knaan. Em 2010, ele escreveu “Nothin on You” para o rapper B.o.B., mas, quando apresentou a música, o cliente o convidou para participar da gravação também. Mars apareceu ainda no clipe da canção, cantando e tocando bateria.
“Nothin on You” fez tanto sucesso que chegou ao primeiro lugar da lista de singles mais tocados da revista Billboard. Foi assim que Mars deixou o lugar que ocupava como compositor invisível e virou um cantor-sensação.
Poucos meses depois, lançou o primeiro single solo, “Just the Way You Are”, hit do primeiro álbum só dele, “Doo-Wops & Hooligans”. No ano seguinte, ele teve mais uma vitória pessoal a música “It Will Rain” foi parar na badalada trilha sonora do primeiro filme da saga “Crepúsculo”, lançado no final de 2011.
Alguns meses depois, Mars viria ao Brasil para o show no festival Summer Soul a que assisti ainda sem saber quem ele era. Desde então, ganhou diversos Grammy e fincou o pé na indústria musical como um artista completo e cheio de energia, que mistura estilos musicais e faz homenagens a James Brown, Jimi Hendrix, Elvis Presley e Michael Jackson em suas performances.
Uns anos atrás, surgiu uma teoria de que Mars era, na verdade, filho de Michael Jackson, que morreu em junho de 2009. Tudo começou com uma entrevista de Joe Jackson, pai de Michael. Ele disse que, no fim da vida, seu filho teria deixado um quarto descendente, além de Prince, Paris e Blanket, e que esse filho era um cantor e dançarino incrível.
Quando surge um boato de que você pode ser filho de Michael Jackson, mesmo que seja mentira, é porque o mundo está prestando atenção. Mars se apresentou no intervalo do Super Bowl em 2014 e voltou em 2016, ao lado de Beyoncé e a banda Coldplay. Seu segundo disco, “Unorthodox Jukebox”, venceu o Grammy de álbum do ano.
O terceiro, “24K Magic”, de 2016, fez mais sucesso ainda do que os dois primeiros e levou seis Grammys. O último disco, “An Evening with Silk Sonic”, foi lançado em 2021 com o rapper Anderson Paak.
Os shows que ele vem fazendo nos últimos meses tem uma setlist variada, mas nunca ficam de fora os maiores hits, como “Uptown Funk”, “24K Magic”, “Billionaire”, “Just the Way You Are”, “Runaway Baby”, “Locked Out of Heaven”, “The Lazy Song”e “Leave the Door Open”.
Mars não é o tipo de cantor que dá golpe no público, daqueles que não cantam os maiores sucessos nos shows ou fazem arranjos novos que deixam as músicas irreconhecíveis. Ele veio para entreter. E faz isso como ninguém.
BRUNO MARS NO THE TOWN
– Quando Dom. (3 e 10), às 23h
– Onde Palco Skyline
TETÉ RIBEIRO / Folhapress