BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Jair Renan, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi alvo nesta quinta-feira (24) de uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal relacionada a um grupo suspeito de estelionato, falsificação de documentos, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
Os investigadores cumpriram dois mandados de busca contra Renan, um em Balneário Camboriú (SC), onde ele mora atualmente, e um outro em Brasília.
Em nota, a Polícia Civil disse que, no Distrito Federal, “as ordens foram cumpridas em Águas Claras e no Sudoeste, em desfavor do alvo principal e dois comparsas”.
Um dos “comparsas” seria Renan, segundo as investigações. Foram apreendidos nos endereços vinculados a ele um celular, um HD e alguns papéis com anotações.
A polícia prendeu o mentor do esquema e tentou capturar um segundo envolvido, que teve decretada sua prisão, mas que ainda se encontrava foragido no final da tarde. Essa segunda pessoa, de acordo com a corporação distrital, era também procurada por crime de homicídio ocorrido no Distrito Federal.
O inquérito apontou a “existência de uma associação criminosa cuja estratégia para obter indevida vantagem econômica passa pela inserção de um terceiro, ‘testa de ferro’ ou ‘laranja’, para se ocultar o verdadeiro proprietário das empresas de fachada ou empresas ‘fantasmas’, utilizadas pelo alvo principal e seus comparsas”, diz o comunicado da polícia.
A defesa de Jair Renan afirmou que ele estava “surpreso” com a operação, mas “absolutamente tranquilo com o ocorrido”.
O ex-presidente Jair Bolsonaro não havia comentado a operação em suas rede sociais até o final da tarde. Após ser internado na quarta (23) no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, para exames de rotina, ele teve alta nesta quinta e passaria a noite em Brasília.
De acordo com a apuração da Polícia Civil do DF, dois dos investigados usavam uma identidade falsa (nome Antonio Amancio Alves Mandarrari) para abertura de conta bancária e para figurar como proprietário de empresas na condição de “laranja”.
Há suspeitas de que os suspeitos forjaram informações empresariais, incluindo faturamento, usando dados de contadores sem o consentimento destes.
A polícia identificou também indícios de movimentações financeiras suspeitas entre eles, inclusive com o possível envio de valores para o exterior.
O caso está a cargo da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Ordem Tributária, da área de combate à corrupção e ao crime organizado da Polícia Civil do DF.
A operação foi batizada de Nexum, referência a instituto contratual do direito romano, que representa a passagem do dinheiro e transferência simbólica de direitos.
Os nomes de Bolsonaro e dos filhos já foram ligados a casos sobre funcionários fantasmas, evolução patrimonial suspeita, vínculo com miliciano e caixa dois eleitoral.
Em alguns casos, a família é diretamente investigada, em outros, teve o nome mencionado em depoimento ou manteve algum vínculo indireto com os envolvidos.
Bolsonaro foi recentemente condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por mentiras e ataques ao sistema eleitoral, ficando assim inelegível pelos próximos oito anos, e ainda enfrenta uma série de ações na Justiça, como no caso das joias e sob a suspeita de responsabilidade nos ataques de 8 de janeiro.
No ano passado, em meio a outras investigações diante de suspeitas de tráfico de influência e lavagem de dinheiro, o filho 04 de Bolsonaro negou as acusações de recebimento de propina e de defender interesses empresariais junto ao governo.
“Eu me sinto revoltado com tudo isso que tá acontecendo. Nunca recebi nenhum cargo, nenhum dinheiro, nunca fiz lavagem de dinheiro, e estão tentando me incriminar numa coisa que não fiz”, afirmou na ocasião.
Em agosto do ano passado, a Polícia Federal afirmou em relatório final da investigação sobre a atuação de Jair Renan que não havia encontrado crimes na suposta atuação do filho do então presidente em favor de empresários.
Na época, o caso foi encerrado na superintendência da PF no Distrito Federal sem nenhum indiciamento.
O inquérito foi aberto em março de 2021, após pedido do Ministério Público Federal baseado em denúncias feitas por parlamentares da oposição ao governo.
Como revelou a Folha de S.Paulo, a cobertura com fotos e vídeos da festa de inauguração da empresa do 04 em Brasília foi realizada gratuitamente por uma produtora que tem contratos com o governo federal.
A revista Veja, por sua vez, mostrou a abertura da empresa e como Renan solicitou ao gabinete da Presidência da República uma audiência para tratar de interesses comerciais de um de seus patrocinadores do Espírito Santo.
Empresas capixabas chegaram a doar um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil para um projeto parceiro da empresa de Renan, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia.
Também no ano passado, o então presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que não tinha certeza sobre a inocência do filho 04 e jogou a responsabilidade em sua ex-mulher, a mãe de Jair Renan.
“O moleque tem 24 anos agora, acho que ninguém [aqui] conhece ele, vive com a mãe, há muito tempo está longe de mim, mas recebo ele de vez em quando aqui. Tem a vida dele, não sei se está certo ou se está errado, mas peço a Deus que o proteja”, disse Bolsonaro na ocasião.
MARCELO ROCHA / Folhapress