SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma semana de agosto no Brasil com temperaturas superiores a 30°C em São Paulo e próximas a 40°C no Rio de Janeiro e no Centro-Oeste. Segundo especialistas, parte da culpa desse calor em pleno inverno cai sobre o El Niño e outra sobre uma massa de ar fria que já começou a agir em parte do país.
Em primeiro lugar, ondas de calor, como a atual, em agosto, não são tão incomuns, afirma Maria Clara Sassaki, meteorologista da Climatempo. “O que impressionou foram as expectativas de temperatura acima da média histórica e a possibilidade de bater recorde em São Paulo [algo que acabou não se concretizando]”, afirma Sassaki.
Segundo a meteorologista, na década de 1950 foram registradas temperaturas tão elevadas quanto as vistas nesta semana em São Paulo.
O calor acentuado atual foi potencializado por alguns fatores, entre eles o El Niño, que está de volta, segundo o CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O El Niño é caracterizado pelo aumento anômalo da temperatura da superfície do mar (ultrapassando 0,5°C de crescimento) na região do cceano Pacífico equatorial.
O centro de estudos afirma que, mais perto da costa da América do Sul, o aumento de temperatura da superfície da água chega a ultrapassar 3°C.
Os modelos climáticos, segundo o CPTEC, indicam mais de 90% de probabilidade de as condições de El Niño permanecerem nos próximos meses e durarem até o final do ano. Enquanto alguns modelos indicam a possibilidade de um El Niño moderado (temperatura da superfície do Pacífico central superior a 1°C), outros apontam para um fenômeno forte (temperatura da superfície do mar superior a 1,5°C).
O efeito do El Niño, porém, não fica só no mar. O fenômeno também muda o padrão da circulação atmosférica, o transporte de umidade, temperaturas e chuvas, especialmente nas regiões tropicais, diz o CPTEC.
Na região Sudeste, por exemplo, que tem visto altas temperaturas durante essa semana, o fenômeno leva a um moderado aumento de temperaturas médias, em especial no inverno e no verão, aponta o centro de previsão do tempo.
“Temperaturas mais altas no inverno são fenômenos meteorológicos da variabilidade natural do clima, principalmente quando há um fenômeno de El Niño”, disse o climatologista Carlos Nobre, que cita o fenômeno ainda está ganhando força.
Os especialistas apontam que o El Niño faz com que as massas de ar fria que viriam do Sul, muitas vezes acabem mais estacionadas sobre a região, sem força para avançar sobre Sudeste, podendo levar, assim, aos aumentos de temperatura nessa área e potencialmente no Centro-Oeste.
Segundo Sassaki, além do El Niño, as temperaturas mais elevadas desta semana também foram influenciadas por uma situação conhecida como pré-frontal. A ideia pode ser resumida da seguinte forma: “Sempre que temos uma frente fria, antes da chegada dela, não importa quando, a temperatura vai subir”, afirma Sassaki.
Helena Turon Balbino, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), diz ainda que estamos em um período seco, sem chuvas. “Sem nuvens, a radiação solar incide direto sobre o solo”, o que também contribuiria com as temperaturas mais altas.
CULPA DA CRISE DO CLIMA?
Especialistas dizem que é preciso ter cuidado com associações diretas entre a crise climática e episódios isolados, ainda que já esteja consolidado o conhecimento de que a crise climática levará a eventos extremos, como ondas de calor mais frequentes e mais intensas.
É possível fazer associações do tipo a partir de estudos de atribuição, que analisam qual seria a chance de um evento extremo ocorrer sem a presença da crise climática causada por nós. Ou seja, apenas com modelagens climáticas mais completas é possível dar uma resposta segura.
Em linhas gerais, não basta ver que os termômetros estão elevados para ter a certeza que é culpa da crise climática causada pelo ser humano. Isso, porque, como diz, Carlos Nobre, existe uma variabilidade natural do clima.
Redação / Folhapress