RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – São oito meses de espera e a classe artística continua na expectativa para que seja retomada a obrigatoriedade das cota de tela, que prevê um percentual mínimo de filmes nacionais exibidos nas salas de cinemas. Suspensa há quase dois anos, a medida tem sido exigida não só pelos atores como os diretores das produções brasileiras.
Além da ocupação quase que massiva dos filmes de Hollywood, praticamente todos os filmes nacionais -inclusive os mais comerciais- são exibidos nas sessões anteriores às das quatro da tarde, horário em que os cinemas ficam mais vazios. Segundo dados da Ancine, a Agência Nacional de Cinema, vinculada ao Ministério da Cultura, em 2021, a participação na venda de ingressos para filmes brasileiros caiu de 13% para 1,8%. Em 2022, a participação foi de cerca de 4,2%. Números que desanimam as produções.
Durante o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, evento realizado na noite desta quarta-feira (23), no Rio, o assunto foi um dos mais comentados. Urgência e pressão eram as duas palavras mais ouvidas nas rodinhas de conversas entre os atores, diretores e produtores.
“Estamos lutando pela institucionalização dessa cota, que por direito nós temos, o mais rápido possível. Estamos pressionando e temos pressa, sim”, comentou Dira Paes.
A morosidade em resolver a questão irrita Antônio Pitanga. Uma das figuras emblemáticas do Cinema Novo, o ator reclamou: “O Brasil é o país das leis que não são cumpridas. O que mais me entristece é que se discute daqui, se discute de lá, e não se resolve nada”, lamentou.
Secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro no governo de Eduardo Paes, Marcelo Calero é autor de um projeto de lei de 2021 (quando era deputado federal), que torna obrigatória a adoção da cota de telas até 2031. “Acho que em meados de setembro esse projeto de lei volta à Câmara para ser votado. O arcabouço fiscal [novo regime para as contas públicas do país] passou e não há mais razão nem explicação para a demora de uma definição”.
“Se não tiver essa medida de cota de tela, não tem como disputar o mercado com os filmes americanos. Impossível”, reclamou Alice Braga.
Conhecida por atuar tanto no mercado nacional como internacional, a atriz comentou ser essencial para a sobrevivência das produções brasileiras não só fazer cinema, mas, exibir o que é feito para o público. “Existe um movimento da classe e nós estamos pressionando e cobrando porque é a nossa cultura. Um país sem cultura não é nada”.
ANA CORA LIMA / Folhapress