Leite cai mais de 35% no campo e diminui custo da cesta básica

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O preço do leite ao produtor teve queda de 35,82% em julho na comparação com o mesmo mês de 2022, segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz)/USP (Universidade de São Paulo).

O valor menor tem se refletido na cesta básica, trazendo alívio ao bolso do consumidor, e diminuindo a pressão sobre a inflação.

O movimento de queda vai na contração do que normalmente ocorre nos meses de abril a setembro, quando há entressafra do produto devido a seca e queda na qualidade das pastagens. Neste ano, desde maio, o litro do leite no campo teve redução, o que deve se manter ainda no mês de agosto, apontam os estudos do Cepea.

Na pesquisa mensal da cesta básica feita pelo Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de SP) em parceria com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), o leite é um dos cinco alimentos que tiveram redução de preço em julho, com queda de 5,27%, precedido por batata (-11,13%), feijão-carioca (-9,81%), salsicha (-7,13%) e frango resfriado inteiro (-6,71%).

A inflação do produto, medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que o leite teve, em julho de 2023, a maior queda desde julho do ano passado, com redução de 23,99% nos últimos 12 meses, segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). No mês, a redução foi de 1,86%. Em julho de 2022, o produto havia subido 25,46%. Em todo o ano passado, a alta do leite foi de 26,18%.

De acordo com Natália Grigol, pesquisadora de leite do Cepea, há uma combinação de fatores levando à queda do preço do leite no campo, o que se reflete no carrinho do supermercado, e surpreende em período de entressafra. A pesquisadora explica que os preços em 2023 tiveram comportamento atípico, com alta na safra e queda na entressafra, após o mercado tem sido pressionado nos últimos dois anos.

“A gente pode pegar o primeiro semestre e dividir em duas partes, até abril e depois de abril. O que a gente observou foi que até abril os preços do leite vinham com tendência de alta, com oferta limitada dentro do país. Havia uma produção muito enxuta, com as indústrias de laticínio competindo por fornecedores e, por conta disso, houve um estímulo dos preços”, afirma.

Depois de abril, com a compra de leite de fora do país e a queda no valor dos insumos por causa do dólar mais barato, a oferta dentro do país foi ampliada, o que se refletiu em preços menores no campo e, consequentemente, no carrinho do supermercado.

Natália diz que foram dois anos de preços muito pressionados, com falhas na política externa brasileira pressionando ainda mais o dólar e os insumos no campo, como soja e fertilizantes, alem de pandemia de Covid-19, mudanças climáticas e Guerra da Ucrânia, com aumento de commodities energéticas e elevação de gastos com luz e combustíveis.

“Por conta da guerra e efeito da Covid, houve uma disruptura na cadeia de abastecimento, aumentando a inflação ao redor do mundo. No Brasil, houve um efeito de destaque. Ao mesmo tempo que a inflação aumentava, houve uma desvalorização muito grande moeda nacional”, afirma.

Nos últimos dois anos, muitos produtores deixaram o setor e os que tiveram condições de seguir no negócio e conseguiram ampliar seus investimentos em tecnologia têm tido bons resultados. Esse é o caso dos produtores do leite Xandô, especializados em leites tipo A e A2, mais leve que o tradicional.

Na Fazenda Colorado, no interior do estado de São Paulo, os investimentos para manter a temperatura ideal para as vacas produzirem mais leite —a exemplo do que vem sendo feito na Itália— ampliou a quantidade extraída por dia, que passou dos cem mil litros.

Hoje, são extraídos 41 litros de leite por vaca, por dia. A meta é chegar a mais de 42 litros neste ano. Para isso, a temperatura ideal a que o rebanho é submetido fica entre 20 a 25 graus Celsius, conforme explicam Carlos Alberto Pasetti, presidente do conselho consultivo do grupo, e Sergio Soriano, gestor geral da Fazenda Colorado.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, o leite está entre os seis produtos mais importantes da agropecuária brasileira, com papel relevante papel na geração de emprego e renda. Além disso, do ponto de vista nutricional, o produto tem alto valor por ser rico em cálcio, proteínas e vitaminas.

Hoje, o país tem o segundo maior rebanho do mundo, com cerca de 70 milhões de animais, e produção de mais de 35 bilhões de litros por ano. O agronegócio do leite é responsável por aproximadamente 40% dos postos de trabalho no meio rural.

Neste mês, o governo federal anunciou a compra pública de leite em pó, no valor total de R$ 200 milhões, para reduzir o estoque do alimento produzido por meio da agricultura familiar. O leite será destinado a pessoas em condições de insegurança alimentar e nutricional.

Outra medida de incentivo ocorreu em julho e agosto, quando a Camex (Câmara do Comércio Exterior), com revogação da redução de impostos de importação dos produtos lácteos.

CRISTIANE GERCINA / Folhapress

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