LUANDA, ANGOLA (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) questionou nesta sexta-feira (25), durante viagem a Angola, a modalidade do pagamento da dívida que os países africanos possuem com o Fundo Monetário Internacional (FMI), atualmente próxima de US$ 800 bilhões (R$ 3,9 trilhões). A declaração foi feita perante cerca de 800 empresários brasileiros e angolanos no Fórum de Negócios Angola-Brasil.
“Os países africanos estão com uma dívida de quase US$ 800 bilhões com o FMI. Por que o fundo não faz um acordo e transforma essa dívida em dinheiro para investir no desenvolvimento em vez de pagar para ele? Ou fazer as obras no continente africano, sobretudo, a questão energética?”, questionou.
Em Luanda desde a noite de quinta-feira (24) para uma visita de dois dias após a cúpula do Brics em Joanesburgo, na África do Sul, Lula esteve reunido com o presidente angolano, João Lourenço. O petista viaja com uma delegação composta por seis ministros e 170 empresários brasileiros e justificou a visita ao dizer que “Angola é importante porque dá estabilidade”. “Angola paga, não vive devendo”, disse.
“Voltamos à África para dizer aos empresários brasileiros e aos angolanos que vamos voltar a fazer financiamento para os países africanos. Vamos voltar a fazer investimento na Angola, que é um bom pagador das coisas que o Brasil investiu aqui”, disse, acrescentando que Angola sempre foi um país que “deu certeza de que cada dólar investido seria ressarcido”, em referência a quitação, até 2019, de uma dívida que o país africano tinha com o Brasil.
No seu discurso no Fórum de Negócios, o presidente angolano aproveitou para propor ao seu homólogo brasileiro uma aproximação entre a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), principal grupo multilateral do sul do continente africano, e o Mercosul, bloco que reúne países sul-americanos.
Com PIB de US$ 470 bilhões (2,3 trilhões) e população estimada em 210 milhões de habitantes, a SADC reúne 16 países da região sul de África: Angola, Botsuana, Comores, República Democrática do Congo, Essuatíni, Lesoto, Madagáscar, Maláui, Maurícias, Moçambique, Namíbia, Seychelles, África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue.
Antes, na sexta, Lula convidou Angola para participar em dezembro da reunião do G20, grupo dos países com as maiores economias do mundo, porque, segundo o presidente, a “África oferece ao Brasil as oportunidades que o país, às vezes, fica procurando em outros lugares”.
O presidente brasileiro disse que hoje, o Brics representa 32,1% do Produto Interno Bruto Mundial. Com a entrada de mais seis países, em janeiro de 2024, passará a responder por quase 37% do PIB de paridade.
Para Lula, isso demonstra “pura e simplesmente, que os países do Sul resolveram se organizar”, e uma reaproximação com o continente africano traria benefícios não apenas ao país, como ao Mercosul. O petista ainda voltou a criticar Jair Bolsonaro (PL) devido ao distanciamento do antecessor com a África.
“O Brasil se afastou. Por falta de visão de longo prazo. Ou por falta do imediatismo de achar que o investimento tem que trazer um retorno no dia seguinte. Não é assim que as coisas acontecem. A volta do Brasil ao continente africano não deveria ser uma volta, porque nós nunca deveríamos ter saído do continente africano. O Brasil não tem noção de quantas coisas nós poderemos fazer junto com os países do continente africano”, disse Lula.
O presidente brasileiro que foi condecorado com a mais alta distinção do governo de Angola, a medalha António Agostinho Neto, conclui nesta sábado (26) a visita a Angola após um encontro com a comunidade brasileira residente naquele país, estimada em 27 mil cidadãos –a maior comunidade no continente africano, seguida da África do Sul, com três mil.
A visita de Lula a Luanda resultou na assinatura de acordos em diferentes áreas, com destaque para a Defesa, que prevê o fortalecimento da Marinha de Guerra Angolana e a formação de tropas nacionais para a Organização das Nações Unidas (ONU).
Depois de Angola, Lula viaja para São Tomé e Príncipe, onde participará na 16ª conferência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
FABIANA ANDRÉ / Folhapress