BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas no rotativo do cartão de crédito subiu em julho para 445,7% ao ano, segundo dados do Banco Central divulgados nesta segunda-feira (28).
Houve uma elevação de 8,7 pontos percentuais na comparação com junho, quando o juro estava em 437% ao ano. No mês passado, a inadimplência na linha de crédito mais cara do mercado atingiu 49,5%.
O rotativo do cartão de crédito vem sendo alvo de uma intensa disputa travada nos bastidores nas negociações entre representantes de bancos, varejo e diferentes setores do mercado de cartões com o governo Lula (PT), o BC e o Congresso Nacional.
O tema foi inserido no projeto de lei que recebeu o conteúdo do Desenrola Brasil, programa de renegociação de dívidas lançado pelo governo petista, em tramitação na Câmara dos Deputados.
No relatório, o deputado Alencar Santana (PT-SP) estipulou um prazo de 90 dias para que, por autorregulação, as instituições financeiras definam um patamar menor de juros para o rotativo e para o crédito parcelado.
Se nada for feito, será aplicável um teto que limita a dívida ao dobro do montante original nas duas modalidades. O texto não aborda o parcelamento de compras sem juros.
Segundo o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a matéria poderá ser votada já nesta semana.
O rotativo é um tipo de crédito acionado quando o cliente não paga o valor integral da fatura do cartão na data de vencimento. É uma linha pré-aprovada e recomendada por especialistas somente para casos emergenciais.
O cliente pode passar no máximo 30 dias no rotativo. Desde 2017, as instituições financeiras são obrigadas, após um mês, a migrar essa dívida para um crédito parcelado, que tem juros mais baixos.
Em julho, a taxa média do parcelado do cartão aumentou 2,3 pontos percentuais, para 198,4% ao ano contra 196,1% um mês antes. Segundo dados do BC, a inadimplência na modalidade seguiu a tendência de alta e atingiu 10,3%, após elevação de 0,4 ponto percentual no mês na comparação com junho.
Quanto às taxas médias de juros praticadas nas operações de crédito livre com pessoas físicas, houve queda de 0,6 ponto percentual em julho, para 58,5% ao ano.
“A redução na taxa média de juros no mês foi influenciada, principalmente, pela alteração da composição das carteiras de crédito (efeito saldo)”, disse a autoridade monetária em nota.
Segundo Fernando Rocha, chefe do departamento de estatísticas do BC, o efeito saldo é causado pela agregação de diversas taxas de juros, tendo como fator de ponderação a magnitude de cada modalidade.
“Como elas [as taxas] são agregações ponderadas, se os saldos das modalidades mais caras crescem menos, essa modalidade fica menos importante no total. Se elas [linhas mais caras] ficaram menos importantes, a taxa de juros pode cair, mesmo que tenha tido aumento nas taxas de juros dessa modalidade”, afirmou.
“Isso aconteceu agora. Por exemplo, os juros do crédito rotativo aumentaram no mês de julho. Mas o saldo das operações de crédito rotativo diminuiu. Isso é um exemplo de efeito saldo, que, quando a gente pega as taxas agregadas, apresenta uma redução”, continuou.
O rotativo teve uma queda no saldo em 2% em julho, a R$ 76 bilhões, enquanto o montante no cartão de crédito parcelado teve um crescimento de 0,7% no mês, atingindo R$ 58 bilhões.
“Exatamente por essa queda no rotativo, que é a modalidade mais cara do crédito que existe na economia brasileira, que se tem um efeito saldo reduzindo as taxas médias de juros”, disse o técnico do BC.
As operações do cartão de crédito à vista chegaram a R$ 374 bilhões, com crescimento de 1,2% no mês. Elas representam um pouco menos de 60% das operações totais.
Já as concessões no cartão de crédito caíram 1,2% no mês, puxadas pela queda de 8,1% no rotativo. Também houve redução na liberação de crédito parcelado (3,9%).
“Isso provavelmente quer dizer que mais pessoas conseguiram pagar a fatura do seu cartão de crédito em dia, não levando montante desse valor para o rotativo”, afirmou Rocha.
Nas operações contratadas com pessoas jurídicas, a taxa média de juros ficou em julho em 23,3%, com elevação de 0,3 ponto percentual no mês. “Esse movimento foi determinado pelo efetivo aumento das taxas, disseminado nas principais modalidades (efeito taxa)”, segundo o BC.
Nas operações de crédito com recursos livres, incluindo pessoas físicas e jurídicas, a taxa média de juros atingiu em julho 44,3% ao ano, com diminuição mensal de 0,3 ponto percentual e, em 12 meses, expansão de 3,9 pontos percentuais.
NATHALIA GARCIA / Folhapress