BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Um prédio de 20 andares de estilo moderno e fachadas de vidro se ergue na Praça Sete, região central de Belo Horizonte, no coração da capital. O edifício foi inaugurado em 1968 para ser a sede de um banco, o Mercantil do Brasil, originado do Banco Mercantil de Minas Gerais, fundado em 1943.
O prédio continua na Praça Sete. O banco, não.
Aos 80 anos, o Mercantil do Brasil, além de ter acabado de trocar a sede por cinco andares em um edifício comercial na região sul, reduziu o número de agências no país, incluindo Minas Gerais, processo concluído no final da década de 1990, e passou a ter como principal negócio, nos últimos cinco anos, o crédito consignado a aposentados do INSS.
A instituição, que também trocou de nome agora é Banco Mercantil, teve um destino melhor do que o de outros bancos nascidos no estado. O Nacional quebrou em 1995. O Banco Real foi assumido em 1998 pelo holandês ABN-Amro Bank, que não opera mais no Brasil.
A passagem pelos anos 1990, turbulentos principalmente para o setor financeiro no país, é justificada pela empresa com uma opção por negócios de baixo risco.
“É o DNA do banco, que desde sempre prezou por fazer negócios que fossem seguros, lucrativos e que pudessem manter a instituição operando”, afirma o vice-presidente do Mercantil para os setores de clientes, crescimento e marketing, Bruno Simão, 40.
“O Mercantil é um dos poucos bancos que realmente passou por todo esse movimento sem ter sido adquirido, sem ter quebrado e manteve-se como um banco de porte médio”, acrescenta o executivo, que tem passagens por empresas do setor financeiro de São Paulo.
Os negócios seguros aos quais o vice-presidente se refere para permanência do banco no mercado são financiamentos a grandes empresas do estado. O banco sempre trabalhou com pessoas físicas, mas tinha parcela importante de sua atuação no fomento a empresas.
“O Mercantil foi um banco para pessoas jurídicas durante muito tempo. [A instituição] foi fundamental para o crescimento de muitas empresas mineiras. Isso é muito forte no histórico do banco”, diz Simão.
O principal negócio do Mercantil atualmente, no entanto, talvez seja ainda mais seguro que o empréstimo para grandes empresas.
Entre 50% e 60% dos negócios do Mercantil hoje, segundo o vice-presidente, são operações de crédito consignado a aposentados, aqueles empréstimos descontados diretamente do benefício pago pelo INSS.
Se forem somadas as operações de adiantamento de FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), outra de risco baixo, esse percentual sobe para 70% dos negócios da empresa, segundo Simão.
O Mercantil é o quinto maior pagador de benefícios do INSS do Brasil, segundo o executivo.
“O que é ser o quinto maior? Se a gente pensar que no Brasil existem cinco grandes bancos, e esses cinco grandes bancos dominam 90% do mercado, e se a gente é o quinto maior banco, isso significa que estamos à frente de um dos cinco maiores bancos do Brasil em pagamento de benefícios”, afirma Simão.
Para ter o direito de realizar o pagamento de benefícios do INSS, instituições financeiras precisam participar de leilões feitos pelo governo federal.
No caso do Mercantil, o banco pode continuar recebendo aposentados e pensionistas que entram no sistema até 2024. Em 2025, será feito um novo leilão pelo INSS e o banco poderá participar.
O perfil de clientes fez com que a instituição decidisse passar a se apresentar como o “banco dos 50+”, segundo diz o executivo, se referindo a clientes com mais de 50 anos.
Para essa estratégia, e levando-se em conta o atual nível de digitalização dos bancos, o Mercantil tenta se equilibrar em duas formas de atendimento: nas agências e via redes sociais e aplicativos. É comum pessoas de mais idade terem dificuldades com a internet.
O banco, porém, vem aproveitando algo que inclusive os idosos passam a dominar cada dia mais: o WhatsApp.
Segundo dados da instituição, o número de contratos iniciados e concluídos por clientes pelo WhatsApp subiu 197% entre o primeiro trimestre de 2023 na comparação com o mesmo período do ano passado.
ASSÉDIO DO MERCADO
O vice-presidente do banco não comenta possíveis propostas que possam ter sido feitas por outras instituições financeiras para aquisição do Mercantil.
Além de fechar agências, deixar a sede e trocar de nome, a empresa iniciou também processo de extinção da Cava (Caixa de Assistência Vicente Araújo), um braço do banco para apoio a funcionários.
A Cava mantinha plano de assistência médica a empregados, previdência e chegou a ter, nos anos 1980, até um supermercado em Belo Horizonte onde os funcionários faziam compras e tinham os valores cobrados no contracheque.
As atividades da Cava foram sendo reduzidas e, atualmente, a caixa vem apenas pagando benefício de previdência privada a ex-funcionários que contribuíram com o sistema, o que também deixará de ocorrer via negociações com os ex-empregados. O banco não comenta o encerramento das atividades da Cava.
HISTÓRIA
O Mercantil foi criado como empresa familiar e segue assim. Foi fundado pelos irmãos Osvaldo, Milton e Vicente Araújo, de Dores do Indaiá, na região oeste de Minas Gerais. Hoje, o comando da empresa está nas mãos dos netos dos fundadores. O CEO é Gustavo Araújo, neto de Osvaldo Araújo.
O prédio em que funcionava o banco na Praça Sete era da instituição. Com a mudança, pelo governo federal, nas regras do setor bancário na década de 1990, que alteraram o formato para a manutenção do patrimônio físico de instituições financeiras, o edifício foi vendido a um fundo.
Desde então, até a mudança para os andares do prédio na região sul de Belo Horizonte, o banco pagava aluguel pelo uso do edifício. Uma agência, porém, será mantida no andar térreo do prédio da Praça Sete.
*
RAIO X – BANCO MERCANTIL
Lucro* – R$ 100 milhões
Patrimônio – R$ 1,4 bilhão
Inadimplência – 2,8%
Número de funcionários – 3.332
Clientes – 7 milhões
Principais acionistas – Família Araújo
*No segundo trimestre de 2023
Fonte: Banco Mercantil
LEONARDO AUGUSTO / Folhapress