Em show no The Town no domingo, Matuê coroa o hip-hop que celebra o Nordeste

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Numa praia longe do Brasil, em Luanda, a capital da Angola, Matuê se sentiu em casa. Não só pelo acolhimento do público local -algumas dezenas de milhares de pessoas se apinhavam para o show do rapper no país, em maio deste ano-, mas também por encontrar ali a condição que enfrentara no início de sua carreira.

“Me identifiquei com alguns artistas de lá, que tiveram de buscar reconhecimento em outro lugar, por conta dessa minha condição de estar em Fortaleza, no Ceará”, afirma.

Quando Matheus Brasileiro surge como Matuê para a música do país com o single “Rbn”, de 2016, já se passavam dez anos do lançamento de “Dinheiro, Sexo, Drogas e Violência”, do Costa a Costa.

Responsável por ter posto Fortaleza no mapa do hiphop nacional, o álbum então soava como uma memória antiga da cidade engolfada pela onipresença do forró moderno. “No início, a galera dava risada quando eu falava o que ia fazer”, conta. “Mas era uma visão que a gente acreditava.”

A visão de Matuê era a de que, a longo prazo, a partir de lançamentos rarefeitos e uma linguagem particular, ele lideraria uma nova forma de fazer rap no país, o trap.

Se o álbum do grupo Costa a Costa havia se inserido no rap brasileiro ao nacionalizar uma abordagem local -exatamente o que fazia o eixo Rio-São Paulo, sem nunca levar a pecha de regional–, Matuê fez o hip-hop nacional gravitar em torno de si ao universalizar suas perspectivas locais e subjetivas.

“Além de rapper, um cara que vive o cenário do trap, eu sou amante da música”, diz. “Meu repertório vai de Aphex Twin até Shabba Ranks. O próprio Twin me passa uma sensação de lugares vazios, ambientes inóspitos, salas gigantes. É algo como sentir conforto na estranheza. O universo desses diferentes artistas é o que me move.

No universo de Matuê cabem referências como Charlie Brown Jr e Kenny G, ambos mencionados em faixas do rapper, além de ficção científica e filmes de máfia, cenários de games e animes de cores púrpuras, lisergias e histórias de vitória e sexo. É um conjunto que parece alheio ao mundo do rap -e por isso expande o hip-hop.

Hoje, Matuê ostenta números que o põem entre os grandes não só do trap, mas também da música brasileira -cada vez mais preenchida pelo rap e pelo funk, entre outras práticas do hip-hop. Matuê é o primeiro rapper do país a ter 20 músicas com mais de 100 milhões de reproduções no Spotify. Seu único disco até então, “Máquina do Tempo”, alcançou 4,6 milhões de reproduções ao ser lançado -400 mil a mais do que o álbum “Kisses”, de Anitta.

Esses marcos são também fruto do trabalho coletivo com a produtora 30PRAUM, que ele fundou e lidera junto com a diretora Clara Mendes. “A gente não fazia ideia de onde ia chegar, mas éramos organizados e até hoje é assim. A gente cria um plano de 15 anos e traça o plano de trás para frente”, diz.

Parte desse plano era se tornar um farol para o hip-hop no Nordeste. Matuê enxerga a 30PRAUM em posição de destaque hoje. Além dele próprio, o cearense WIU e o baiano Teto são dois nomes de peso do selo. “Não sei se é a vivência, as belezas, mas tem uma coisa que nos conecta. Há uma questão do nordestino em si. É recorrente para o nordestino ter de se provar”, afirma

Essa disposição, diz Matuê, é algo que norteou seus ensaios para o The Town. “A gente vem trabalhando em passar essa sensação de futuro, um futuro que vem do Nordeste enquanto ponto de inovação cultural”, diz.

“A gente é uma butique. O que nos faz enigmáticos é o que torna a Ferrari enigmática. Não são milhares de carros lançados, é apenas um -e dentro daquele carro tem um grande trabalho de engenharia”, diz o rapper, que tem se dedicado a produzir seu próximo álbum.

Nesse horizonte, o artista também vislumbra Fortaleza ao lado de outros polos do hip-hop ao redor do país. Em abril, a 30PRAUM realizou o Plantão, festival de rap que se tornou marco no calendário da capital cearense logo na primeira edição.

“Tivemos uma confirmação enorme do que fazemos quando vimos aquelas 20 mil pessoas cantando os sons de cabo a rabo”, afirma. “Apostei na minha cidade, na minha área. E isso é nós por nós.”

MATUÊ NO THE TOWN

Quando Dia 3 de setembro, às 15h, no palco The One.

Entradas esgotadas para o dia 3

Onde Autódromo de Interlados – av. Sen. Teotônio Vilela, 261, São Paulo

FELIPE MAIA / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS