SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quais são as vozes que mais ricocheteiam entre os maiores influenciadores evangélicos?
Alguns nomes podem vir à cabeça, como os dos pastores Silas Malafaia e Marco Feliciano ou o do bispo Edir Macedo. Todos homens.
Mas um levantamento feito em agosto de 2023, baseado em 44 perfis evangélicos com mais de dois milhões de seguidores no Instagram, mostra que as mulheres transitam melhor nessa cúpula. Elas são 7 dos chamados 10 “megainfluenciadores” desse nicho cristão.
Eyshila, uma conhecida cantora gospel que também pastoreia na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, igreja de Malafaia, lidera a lista. Outra integrante da Vitória em Cristo, a pastora Camila Barros vem em segundo lugar. Michelle Bolsonaro, a ex-primeira-dama, está na nona posição.
As exceções masculinas são o cantor Anderson Freire (3º), o pastor André Valadão (5º) e o youtuber motivacional Deive Leonardo (7º).
Para estabelecer o grupo com maior potencial de influenciar entre si, o estudo da consultoria Nosotros, especializada em religião e conservadorismo nos costumes, mediu as interconexões que existem entre essas 44 contas do Instagram. “Quem segue quem” e “quem deixa de seguir”, em suma.
O antropólogo Juliano Spyer, colunista da Folha e sócio da Nosotros, faz uma analogia para explicar a métrica: “Pensa nestes seriados sobre escolas nos EUA: quem fala com quem, quem ignora quem, quem é mais conhecido, quem é o mais bem informado etc.”.
Eyshila, a líder do grupo, totaliza 66 conexões a soma de influenciadores que a acompanham e a quem ela acompanha. No público geral do Instagram, ela é seguida por 4,4 milhões de pessoas, menos do que outros nomes, como o de Aline Barros, sua colega no gospel, que tem 7,4 milhões de seguidores. Mas circula melhor pela elite virtual evangélica.
Segundo a pesquisa, essa turma se qualifica por ser mais diplomática, evitar confrontos e “passar pano” em situações polêmicas. Assim, não se indispõe com outros e continua relevante. Uma espécie de Itamaraty evangélico.
No polo oposto estão os “megaisolados”, que são os perfis virtuais com menos vínculos uns com os outros. No topo vem Priscilla Alcantara, o que não chega a surpreender.
A artista virou uma pária entre pares após trocar uma carreira no gospel pela indústria pop não religiosa. Também manifesta posições pouco populares no andar de cima evangélico, como a aversão ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o apoio à causa LGBTQIA+. Ela só tem seis conexões com os outros perfis.
Mas também há espaço para o bolsonarismo nesse rol: o deputado Marco Feliciano (PL-SP), por exemplo, ocupa o quarto lugar entre os influenciadores ilhados, com 12 conexões.
Para Spyer, o levantamento significa, “entre outras coisas, que estamos olhando para as pessoas erradas quando consideramos o campo evangélico”.
“Existem as pessoas que, por motivos diversos, são vistas como porta-vozes, como é o caso do Feliciano. Ele é importante, mas, em relação a esse grupo de influenciadores com mais de dois milhões de seguidores, aparece como megaisolado. Mesmo influenciadores importantes nas redes como André Valadão têm menos força do que mulheres.”
Ao revelar “quem influencia o influenciador”, o estudo é “uma fotografia daqueles que comandam a atenção desse grupo”, diz o antropólogo. “Serve como referência da influência que eles têm no campo, na medida em que as relações, ou a ausência delas, mostra os caminhos de circulação de informação.”
Se a informação chega à Eyshila ou ao Deive Leonardo, portanto, ela fluirá mais do que se alcançar Feliciano ou Priscilla Alcantara, por exemplo.
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER / Folhapress