ESTEIO, RS (FOLHAPRESS) – Se os pelegos da Expointer servissem como divã, como nas crônicas do Analista de Bagé, o grande assunto para terapia de grupo entre produtores, políticos e outros atores do agronegócio gaúcho na edição de 2023 seria a estiagem.
As medidas de prevenção e enfrentamento ao fenômeno climático –que novamente castigou o Rio Grande do Sul em 2023– estiveram no centro da programação da feira de agronegócio, que é uma das maiores do país e acontece anualmente em Esteio (RS).
Outros destaques foram o volume de negócios acima das expectativas e a ausência de representantes mais graúdos do governo federal na feira. Nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e nem o vice-presidente, Geraldo Alckmin, visitaram o Parque de Exposições Assis Brasil.
“A estiagem já foi tema de muita discussão em outros anos. Mas me parece que, em anos passados, era só começar a chover para que o tema fosse esquecido. Depois de três anos consecutivos de estiagem, finalmente observo o pessoal aqui lidando com o assunto como um problema crônico, que precisa ser resolvido com vontade política, recursos e inovação”, diz o secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, Giovani Feltes.
Feltes cita um estudo do Banco Mundial que estimou os prejuízos com a estiagem de R$ 41,2 bilhões entre 1995 e 2019, colocando o Rio Grande do Sul como o estado que mais sofreu com o problema neste período no Brasil. Em resposta, o governo gaúcho detalhou em eventos na Expointer um programa que concederá R$ 15 mil para cada pequeno agricultor requerente para investimento em irrigação. A meta é aumentar a área irrigada do estado em até 6.000 hectares.
O tema também esteve presente em debates sobre inovação. Uma startup de Entre Ijuís, no noroeste do estado, chamada ByAgro apresentou na feira um sistema de monitoramento remoto de pontos de irrigação por pivô. O sistema funciona em rede e cruza dados como umidade do solo, volume acumulado de chuva e períodos de tempo entre a irrigação de cada área em uma propriedade.
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, esteve presente na feira na quinta-feira (31). Em um encontro com produtores rurais, prometeu linhas de crédito via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de até R$ 3,5 bilhões para produtores afetados.
Fávaro foi o nome mais graúdo do governo federal a comparecer ao Parque de Exposições Assis Brasil. Reservadamente, expositores disseram que já esperavam a ausência do presidente Lula, em razão da simpatia ao setor com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Esperavam, todavia, presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, a quem Feltes disse ter feito um convite em mãos.
“Convidamos e não vieram. Lamentamos”, diz Feltes.
Outra ausência sentida foi a do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, a quem os organizadores esperavam que comparecesse ao Pavilhão da Agricultura Familiar. O espaço onde se comercializa a culinária e artesanato do interior do Rio Grande do Sul é considerado “xodó” da feira e ganhou ainda mais destaque em 2023.
Antes da edição deste ano, governo do Rio Grande do Sul e expositores sabiam ser remotas as chances de a Expointer de 2023 bater os números do ano anterior, que teve números espantosos. Após uma edição cancelada e outra reduzida em razão da pandemia, a feira de 2022 levou 742 mil pessoas ao Parque de Exposições de Esteio, um aumento de 78% em comparação a 2019 (antes da pandemia).
O volume de negócios foi R$ 7,1 bilhões, o maior já movimentado pela feira. Os números da edição de 2023 serão divulgados neste domingo (3), mas com base no tempo firme nos primeiros sete dias de feira e em balanços parciais dos bancos presentes na feira, o governo do RS espera bons números.
Em 2019 foram R$ 6,5 bilhões movimentados, cifra que poderá ser atingida neste ano.
CAUE FONSECA / Folhapress