SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando Ney Matogrosso subiu ao palco do The Town, neste domingo (3), a plateia para vê-lo não era das maiores. Ele foi uma das atrações do palco The One no segundo dia da primeira edição do festival paulistano, dos mesmos criadores do Rock in Rio.
Não foi difícil de entender tratou-se de uma questão de estilo e também geracional. Logo antes de Ney, passaram pelos palcos principais nomes de outros gêneros musicais como o trapper Matuê e a cantora pop Luisa Sonza, que reuniram multidões de um público majoritariamente jovem.
Os atrasos nesses shows, aliás, obrigaram Ney a subir no palco 20 minutos depois do horário marcado, às 17h30. Ele também teve que cortar músicas do repertório, diminuindo a apresentação, que ainda assim foi bastante parecida com as turnês que ele vem fazendo nos últimos anos.
Mas, em cima do palco, Ney se mostrou magnético como sempre. Com uma roupa brilhante colada ao corpo, o cantor de 82 anos começou o show com um quê de mistério, que foi desfeito ao longo da performance ascendente de “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua”.
Mesmo nunca ficando abarrotada, a plateia foi aumentando ao longo da apresentação. O público, especialmente aquele mais velho, se animou em “Jardins da Babilônia”, de Rita Lee, um rock com pegada de blues dançante.
O repertório mostrou a polivalência da interpretação de Ney. Ele emendou “O Beco”, dos Paralamas do Sucesso, “Já Sei”, de Itamar Assumpção, “Pavão Mysteriozo”, de Ednardo, e “A Maçã”, de Raul Seixas.
A cola de tudo foi a voz de Ney, um patrimônio da música popular brasileira. Mesmo após tantas décadas de estrada, não foi possível notar desgastes no canto do artista, que se mantém límpido, delicado e expressivo.
Antes de “Yolanda”, de Chico Buarque e Pablo Milanés, levada no pandeiro e na guitarra, o público gritou em coro o nome de Ney prática que se tornaria comum dali em diante. Ele respondeu com uma performance encantadora, e abriu o zíper do macacão para revelar o peitoral.
Ele passou por “Postal do Amor”, de Fagner, voltou a Rita Lee com “Corista de Rock” e a Itamar Assumpção com “Já Que Tem Que”. Evocou batidas do funk brasileiro em “Último Dia”.
Um dos momentos mais celebrados foi a performance de “Sangue Latino”, clássico dos Secos e Molhados lançado há 50 anos. A música foi tocada em roupagem mais arrojada, um rock encorpado por sopros, em oposição aos violões da versão original.
Acabou com “Homem Com H”, com a plateia dançante e sem medir esforços nos aplausos. Ney saiu do palco dizendo que adorou cantar no festival, mas informando que o tempo havia acabado, e ele não poderia cantar mais.
O show não trouxe grandes novidades e foi um tanto encurtado pelos atrasos anteriores a ele. Ainda assim, serviu como um acompanhamento digno para o fim do dia no Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, desta vez quente e, pelo menos até então, sem chuvas.
LUCAS BRÊDA / Folhapress