SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fundo árabe paga R$ 464 mi para assumir controle da rede de academias Bluefit e o que mais importa no mercado nesta segunda-feira (4).
**FUNDO ÁRABE ASSUME CONTROLE DA BLUEFIT**
A rede de academias Bluefit anunciou no sábado (2) que o Mubadala, ligado ao fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, irá pagar R$ 464,1 milhões para ficar com 51% das ações da companhia, assumindo seu controle.
A Bluefit disse que a operação está sujeita à aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e outras condições usuais para transações dessa natureza.
Em números: o fundo árabe irá pagar R$ 114,1 milhões para comprar ações de atuais sócios da rede de academias. Os outros R$ 350 milhões serão aportados na empresa via emissão de ações.
Setor bombado: o investimento do Mubadala na Bluefit acontece em um período de alta nos negócios do mundo fitness.
Há duas semanas o Gympass, plataforma de benefícios de bem-estar para o mundo corporativo, recebeu um aporte de US$85 milhões (R$ 419 milhões), que o avaliou em US$2,4 bilhões (R$ 11,8 bilhões).
A Smartfit, rede de academias que chegou à Bolsa em 2021, vê suas ações acumularem alta de 70% neste ano com balanços que agradaram ao mercado. Cotados a R$ 21,88, os papéis se aproximaram do preço do IPO (R$ 23).
Petrodólares: o momento também é de efervescência de aportes de países como Arábia Saudita e Emirados Árabes em empresas brasileiras.
O próprio Mubadala vem comprando ações da Zamp, grupo responsável pelas operações do Burger King no país, após ter sua oferta de aquisição recusada no ano passado. Hoje o fundo é o maior acionista da empresa, com 21% do capital.
O Salic, fundo soberano da Arábia Saudita, comprou em julho 10% do capital da BRF por R$ 1,6 bilhão via oferta de ações.
A Manara Minerals, outra empresa ligada ao reino da Arábia Saudita, adquiriu também em julho 10% da unidade de metais básicos da Vale, que foi avaliada ao todo em US$ 26 bilhões.
Quem é quem:
Bluefit: a rede de academias fundada em 2015, em Santo André (SP), terminou o segundo trimestre com 133 unidades, entre estabelecimentos próprios e franqueados, e 338 mil alunos ativos. A empresa até chegou a tentar um IPO em 2021, mas desistiu do processo com a piora do mercado acionário.
Mubadala: o braço de gestão de ativos do fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos administra US$ 284 bilhões (R$ 1,4 trilhão) ao redor do mundo. Além dos investimentos citados, o fundo também é dono da refinaria de Mataripe, na Bahia.
**STARTUP DA SEMANA: FROTA 162**
O quadro traz às segundas o raio-x de uma startup que anunciou uma captação recentemente.
A startup: fundada no ano passado, a Frota 162 reúne em uma plataforma a gestão de multas, condutores, as restrições de veículos, dados de documentos e outras informações destinadas às empresas frotistas.
Em números: a startup anunciou na última semana um aporte de R$ 3 milhões, seu primeiro desde que foi criada.
Quem investiu: a rodada foi liderada pela ACE Ventures, braço de investimento da aceleradora de mesmo nome, e teve participação do Fundo Soberano do Espírito Santo e da Venture Hub.
Que problema resolve: a startup diz que sua plataforma gera uma economia de 40% do custo com atrasos nos documentos e reduz em 80% o tempo que as empresas frotistas gastam com a gestão de multas e motoristas.
Por que é destaque: a startup, que já faturava com dois meses após ter lançado o produto no mercado, hoje cresce em média 15% ao mês, com o objetivo de multiplicar por quatro o tamanho da operação até o fim do ano.
A empresa tem em sua base mais de 44 mil veículos, 10 mil condutores monitorados e em sua carteira de 100 clientes estão nomes como Armac, Rodonaves, Framento, Lets Locadora e Kothe.
Números do mercado
Depois de um julho positivo, o mês de agosto veio para reforçar a expectativa de que o fundo do poço do investimento em startups latino-americanas pode ter ficado para trás.
Foram US$ 1,2 bilhões investidos em 79 rodadas. O patamar bilionário não era atingido pelo setor há 11 meses, segundo a Sling Hub, plataforma de dados sobre startups na América Latina.
Apesar do resultado ter sido puxado pelas rodadas de financiamento via dívida, que não envolvem aquisição de participação de startups, os investimentos em equity também subiram no período.
No Brasil, as rodadas de aporte acionário no setor somaram US$ 352 milhões em agosto, o melhor mês desde maio de 2022. Destaques para as captações de Gympass (US$ 85 milhões) e Nomad (US$ 62,6 milhões).
**BRASILEIRO MAIS ESCOLARIZADO VÊ RENDA DESABAR**
Os trabalhadores brasileiros que mais perderam renda e qualidade de emprego nos últimos dez anos foram aqueles com mais anos de estudo.
A conclusão é de pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da FGV com base em dados do IBGE.
Em números:
16,7% foi a queda do rendimento médio no período de 2012 a 2023 de quem estudou 16 anos ou mais.
27,5% foi o avanço da renda nesse intervalo de tempo daqueles com menos de um ano de estudo.
O que explica: os mais escolarizados foram empurrados para empregos de menor qualidade e poucos produtivos nos últimos dez anos, refletindo em vagas que pagam menos e que são, cada vez mais, informais.
Do outro lado, a renda dos que estudaram menos foi impulsionada a partir de 2020, quando chegou a pandemia e a mão de obra menos qualificada passou a ser mais valorizada diante do isolamento social.
Por que importa: os resultados mostram que o ensino superior está dando menos retorno no Brasil. É um problema para uma economia que ainda carece de mão de obra qualificada.
**A SURPRESA DO PIB**
O PIB brasileiro do segundo trimestre surpreendeu os especialistas ao crescer 0,9% em relação aos três meses anteriores.
Em números: analistas do mercado esperavam uma alta de 0,4% em relação ao crescimento de janeiro a março, que foi revisado de 1,9% para 1,8% pelo IBGE.
A surpresa fez economistas revisarem mais uma vez os cálculos para o desempenho da economia deste ano. Antes em cerca de 2,5%, agora as contas variam entre 2,8% e 3,1%.
Repercussão: o resultado fez a Bolsa registrar forte alta, o dólar cair, e foi celebrado por integrantes do governo.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que o desempenho da economia foi qualitativamente melhor. O ministro Fernando Haddad (Fazenda), porém, se disse preocupado com o terceiro trimestre.
Três pontos para entender o PIB do 2º tri:
1 – Na demanda: destaque para o consumo das famílias, que subiu 0,9% de abril a junho em relação ao trimestre anterior. O segmento responde por cerca de 60% do indicador.
O programa de incentivos do governo (para carros e combustíveis), o aumento do valor do Bolsa Família, a inflação controlada e a força do mercado de trabalho são apontados como motivos para o resultado.
2 – Na oferta: o PIB do agro mais uma vez foi bem. Apesar do recuo de 0,9% em relação a janeiro e março, quando o setor bombou com alta de 21%, no segundo trimestre o crescimento foi de 17% na comparação com o mesmo período do ano anterior, graças à supersafra.
Outros destaques foram as altas de indústria (0,9%) e serviços (0,6%).
3 – Opinião:
Sabia-se que o crescimento seria puxado por impulso fiscal, aumento da massa salarial e do crédito para pessoas físicas. Mas o resultado disso tudo no PIB foi maior do que o esperado, afirma Vinicius Torres Freire.
É possível que a taxa de crescimento da produtividade do trabalho seja maior do que imaginamos, escreve Samuel Pessôa.
ARTUR BÚRIGO / Folhapress