RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em meio a pressões de governo e sindicatos pela revisão da venda da refinaria da Bahia, a Petrobras anunciou nesta segunda-feira (4) acordo com o fundo Mubadala, que comprou a unidade em 2021, para avaliar oportunidades em combustíveis renováveis.
O movimento é visto como uma oportunidade para começar a debater o retorno da estatal à refinaria, maior ativo vendido pela empresa nos últimos anos, e hoje em disputas com a Petrobras em órgãos de defesa da concorrência.
A Refinaria de Mataripe tem um projeto bilionário de construção de uma unidade de biorrefino para produzir combustíveis 100% renováveis com o uso de matéria-prima vegetal, que foi incluído no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), lançado no início de agosto no Rio de Janeiro.
A produção de combustíveis com base em óleos vegetais é também um dos focos da Petrobras para os próximos anos. A companhia separou em seu último plano estratégico US$ 600 milhões para investimentos nas refinarias de Cubatão (SP), Paulínia (SP), Duque de Caxias (RJ) e do Paraná.
Depois, incluiu a possibilidade de uma planta também no Polo Gaslub, em Itaboraí (RJ), o antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), que foi inicialmente projetado para abrigar uma refinaria e um polo petroquímico, e hoje recebe aportes apenas em uma unidade de tratamento de gás natural.
O acordo foi assinado no domingo (3) entre Petrobras e o fundo MIC Capital Partners (Brazil Strategic Opportunities), que pertence ao Mubadala, controlador da empresa que opera a Refinaria de Mataripe, a Acelen. Segundo a estatal, a parceria “visa apoiar a participação da Petrobras em projetos de biorrefino”.
“Este memorando está alinhado à nossa visão estratégica, que visa preparar a Petrobras para um futuro mais sustentável e contribuir para o sucesso dos nossos planos de transição energética”, disse, em nota, o presidente da empresa, Jean Paul Prates.
O texto distribuído pela estatal cita o projeto de biorrefino da Mubadala Capital na Refinaria de Mataripe, como iniciativa que “reforça o papel do Brasil como fornecedor estratégico de combustíveis renováveis, capitalizando os recursos naturais abundantes presentes no país”.
Na estatal, a avaliação é que a aproximação pode facilitar futuras negociações sobre a reentrada da empresa na refinaria, embora o desejo de voltar ao projeto ainda não seja público e dependa de acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
A venda da unidade respondeu a acordo com o órgão de defesa da concorrência no governo Jair Bolsonaro (PL), que corroborou estratégia de redução da atuação da estatal aos mercados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, revista pelo governo Lula.
Das oito refinarias colocadas à venda na ocasião, a Petrobras vendeu três: além da unidade na Bahia, foram vendidas unidades no Amazonas e no Paraná. As outras não receberam propostas consideradas adequadas pela estatal.
Ao assumir, Lula determinou a suspensão do processo de venda de ativos da empresa para reavaliação. A área de refino foi excluída totalmente. Nesta segunda, a Petrobras cancelou as negociações para venda de campos de petróleo no Amazonas e na Bahia e suas operações na Argentina.
A possibilidade de recompra da Refinaria de Mataripe vem sendo defendida publicamente pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para quem o desinvestimento durante a gestão Bolsonaro foi “irresponsável”.
Sindicatos que apoiaram a reeleição de Lula e hoje têm cargos no comando da Petrobras também são partidários da ideia.
NICOLA PAMPLONA / Folhapress