Futebol amador atrai multidões a vilarejo na China

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-jogador inglês Michael Owen ficou impressionado com o que viu na internet. “Quero parabenizar o Cun Chao por todo o sucesso, pelos resultados. Desejo o melhor. Tenho certeza de que vocês se tornarão melhores e melhores”, afirmou.

Cun Chao, expressão que pode ser traduzida como Liga dos Vilarejos, foi um campeonato de futebol amador realizado entre maio e julho no condado de Rongjiang, na província de Guizhou. Pessoas de toda a China viajaram ao sudoeste do país para acompanhar as partidas, com um ar de várzea e elaboradas apresentações musicais nos intervalos.

Os vídeos se multiplicaram nas redes sociais chinesas, com visualizações na casa das centenas de milhões no Weibo, similar ao Twitter, e superior aos 3 bilhões no Douyin, correlato do TikTok. Foi um desses vídeos que chegou ao entusiasmado Owen.

As imagens exibem um jogo relativamente descontraído, com atacantes rindo de si mesmos com gols perdidos. Há também lances bonitos, e a opinião geral dos frequentadores é que o nível apresentado é alto para os padrões do país, que, mesmo com robusto investimento na liga profissional, fracassou na tentativa de desenvolvê-la de maneira mais significativa.

Os jogadores são açougueiros, ladrilhadores, trabalhadores rurais, de 15 a 40 anos de idade, membros de grupos étnicos minoritários, como Dong e Miao. Os intervalos ganham cores folclóricas com apresentações típicas desses públicos, com locais usando tradicionais adornos de cabeça e dançando ao som do “lusheng”, instrumento musical feito com bambus.

A rural Rongjiang foi uma das últimas da China declaradas livres da extrema pobreza. É comum a migração da região a outras do país, com trabalhadores em busca de emprego em fábricas e na construção civil. Em 2019, ganhou a internet um vídeo no qual três crianças imploravam aos pais, prestes a fazer essa migração, que ficassem em casa.

O Cun Chao provocou o movimento contrário, com membros da maioria Han, mais de 90% da população, indo ver as partidas, que não tinham cobrança de ingressos. De acordo com estatísticas do governo regional, a média de público foi superior a 10 mil pessoas por jogo, número parecido com o da oficial, profissional e bilionária Chinese Super League.

Há quem conteste a espontaneidade e o amadorismo do Cun Chao. O desenvolvimento das áreas rurais é política de Estado do líder Xi Jinping, secretário-geral do Partido Comunista. A mídia nacional, controlada pelo governo, tem se mostrado entusiasmada. Pessoas ligadas à Administração Estatal de Esportes e ao Ministério da Agricultura foram ao local, ver a festa com os próprios olhos.

Segundo Li Mingxing, chefe da associação de futebol de Rongjiang, o condado tem 14 campos de futebol no tamanho regulamentar e mais de 30 times. “As melhorais nos equipamentos esportivos ofereceram uma base sólida para eventos como esse florescerem e encorajaram a população a praticar atividades físicas, disse Lin.

A iniciativa, de sucesso ainda mais palpável do que a CunBA -evento similar de basquete, em Taipan, também na província de Guizhou-, vem aquecendo a economia local com o turismo. Nos dias da competição, geralmente de sexta a domingo, de 200 a 300 estandes vendiam comida. Xiong Zhuqing, que planta e vende melancias, disse que faturou até 4.000 yuans (R$ 2.715) por noite.

O Cun Chao terminou em 29 de julho, com triunfo dos jogadores do vilarejo de Chejiang. Ao vencedor, o boi, prêmio dado ao time campeão. O segundo colocado ganhou três porcos; o terceiro, três bodes.

O campeonato acabou, mas o futebol continua movimentado na região e em boa parte do país. Está em andamento um torneio com quase 300 equipes amadoras de toda a China. Cada uma tem o nome de uma comida.

Há quem aposte que seja moda passageira, mas o estádio de Rongjiang continua recebendo grandes públicos. E o governo Xi promete mais de cem eventos esportivos estabelecidos nas áreas rurais até 2035.

MARCOS GUEDES / Folhapress

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