RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Depois de um semestre em queda, o diesel passou a dar dor de cabeça a consumidores e governos pelo mundo. Com oferta reduzida e estoques em baixa, as cotações internacionais dispararam nas últimas semanas, um cenário que deve perdurar até o fim do ano.
No Brasil, mesmo após os reajustes promovidos pela Petrobras no dia 16 de agosto, a defasagem do preço interno do diesel voltou a atingir patamares elevados, principalmente depois da escalada das cotações do petróleo na semana passada.
Fundamental para o transporte de cargas no país, o produto já vem sendo pressionado nas bombas pelos repasses do reajuste e de importações mais caras e, mais recentemente, pela retomada parcial da cobrança de impostos federais.
Nesta segunda-feira (11), o petróleo do tipo Brent, referência internacional negociada em Londres, permanece acima dos US$ 90 por barril, marca superada na última terça (5) após extensão dos cortes de produção da Arábia Saudita e da Rússia.
Foi a primeira vez em dez meses que o Brent superou a casa dos US$ 90 e especialistas acreditam que o cenário deve perdurar. A demanda, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia), bateu recorde em julho e a previsão era de novo recorde em agosto -o relatório do mês ainda não foi divulgado.
“Os estoques da indústria estavam [em junho] 115,4 milhões de barris abaixo da média dos últimos cinco anos, com aperto principalmente nos estoques de derivados de petróleo”, diz a agência. “Dados preliminares indicam que os estoques caíram ainda mais em julho e agosto.”
Nos Estados Unidos, por exemplo, atingiram no fim de agosto o menor patamar desde 1985, segundo boletim da EIA (Agência de Informação em Energia, do Departamento de Estado) publicado no dia 1º de setembro. Os estoques de diesel em julho estavam 15% abaixo da média de dez anos para a estação.
“O que estamos vendo hoje é um aperto na oferta”, diz o especialista em combustíveis da Argus, Amance Boutin. “Não é só um impacto momentâneo, vai continuar até o fim do ano.”
Ele explica que o diesel vem sendo mais pressionado porque o petróleo que saiu do mercado tem melhor rendimento na produção deste combustível. A gasolina, por sua vez, é favorecida pela produção de líquidos de gás natural nos Estados Unidos.
Além disso, diz a AIE, refinarias europeias operaram com capacidade reduzida diante da onda de calor pelo continente, que é grande consumidor e produtor do combustível. Entre o início de julho e o início de setembro, o preço médio do diesel na Europa subiu 20%, segundo dados da Comissão Europeia.
No Brasil, a Petrobras diz que não repassa volatilidades momentâneas aos preços internos e que só ajusta seus preços ao entender que o cenário internacional atingiu um novo patamar. Foi a explicação dada para os reajustes do dia 16 de agosto, quando o petróleo Brent estava na casa dos US$ 85 por barril.
Naquela ocasião, a defasagem entre o preço do diesel nas refinarias da estatal e a paridade de importação calculada pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) chegou a bater R$ 1,29 por litro.
Agora, com a escalada recente do preço do petróleo, a defasagem nas refinarias da estatal chegou a R$ 0,74 por litro, nesta segunda. Na média nacional, o preço do diesel nas refinarias está R$ 0,66 abaixo da paridade calculada pela Abicom.
Boutin destaca que o cenário é amenizado pelas importações de diesel russo, que é mais barato, e representa hoje cerca de três quartos das compras externas do combustível. Ainda assim, o produto da Rússia vem acompanhando a alta das cotações internacionais.
A situação ainda pode ficar mais apertada, caso as projeções passem a apontar inverno rigoroso no hemisfério norte, impulsionando a demanda por diesel e óleo de calefação. Normalmente, essa corrente de produtos encarece no fim do ano.
Em nota publicada nesta segunda, a Argus lembra que, “os consumidores foram poupados de uma onda de preços elevados e voláteis no ano anterior, principalmente porque o inverno no hemisfério Norte se revelou muito mais ameno do que o habitual.
“Poderia muito bem ser o caso, novamente. Mas esta é uma grande aposta, com a oferta de destilados médios tão escassa”, alerta.
NICOLA PAMPLONA / Folhapress