RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Ministério Público Federal pediu que seja recolhido todo o arsenal da equipe da PRF (Polícia Rodoviária Federal) envolvida no caso da menina Heloisa dos Santos Silva, 3. Ela foi baleada na nuca e no ombro durante ação da PRF na última quinta-feira (7), no Arco Metropolitano, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. A criança está em estado gravíssimo.
O caso é investigado pela Corregedoria-Geral da PRF, pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. O procurador à frente do caso, Eduardo Benones, vai pedir que a PF faça a perícia em todas as armas usadas pelos policiais envolvidos.
“Nós pedimos a perícia de todas as armas dos agentes, usadas e não usadas. Queremos a relação de todas as armas e os calibres delas. Isso será mandado para a perícia e se tornará provas com validade forense para ser usadas numa eventual judicialização do caso”, disse Benones à reportagem.
A arma de onde teriam partido os tiros que atingiram Heloisa já apreendida. Três agentes também foram afastados de suas funções. Entre eles está o policial Fabiano Menacho Ferreira, que admitiu ter atirado contra o carro em que estava a menina. A reportagem não conseguiu localizar a defesa do policial.
Heloisa foi baleada enquanto passava com a família pelo Arco Metropolitano, na altura de Seropédica. De acordo com relatos dos parentes e de testemunhas, uma viatura da PRF passou a seguir o carro em que a menina estava. Os agentes abriram fogo contra o veículo, após o pai da criança, William Silva, dar sinal de parada.
Dentro do carro estavam Heloisa, seu pai, sua mãe, uma irmã de oito anos e uma tia. O veículo, que também foi levado para a perícia, foi acertado por ao menos três disparos.
O Ministério Público já ouviu o depoimento do pai de Heloisa. A versão de Silva contradiz o que disse o policial rodoviário federal à delegacia de Seropédica. Ferreira havia afirmado que ouviu barulhos de tiros e, por isso, fez os disparos.
Silva, por sua vez, afirma que não teve nenhum som de tiro antes de o carro em que sua família estava ser alvejado. Ele conta que os policiais não deram nenhum sinal para que ele parasse. Mesmo assim, ele deu a seta para encostar o carro. Os agentes, porém, atiraram antes.
O depoimento de Silva é corroborado pela versão de uma testemunha, que filmou a ação da PRF. Esse homem também diz que não ouviu nenhum disparo antes de os policiais abrirem fogo contra o carro da família. Na gravação feita por ele, é possível ouvir os gritos da mãe de Heloisa ao constatar que sua filha havia sido baleada.
O MPF afirmou que pensa em pedir escolta para a testemunha.
No depoimento que deu à delegacia, o policial disse ainda que a equipe começou a seguir o carro da família após constatar que ele era roubado. O pai de Heloisa afirmou que comprou o veículo recentemente e não sabia que estava em situação irregular.
MENINA ESTÁ EM ESTADO GRAVÍSSIMO
O Ministério Público Federal vai ouvir nesta terça-feira (12) a tia de Heloisa que estava no carro ao lado da menina. Segundo o procurador, caso o depoimento dela confirme o que disse o pai, eles não vão ouvir a mãe da menina. Isso porque Alana Santos acompanha a filha na UTI do Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, onde a criança está internada.
Heloisa está em estado gravíssimo e, segundo a equipe médica que a atende, ainda corre risco de vida. Ela tem ferimentos na cervical, na cabeça e na escápula. A menina precisou passar por uma cirurgia para reduzir a pressão dentro do crânio e, desde então, está em coma induzido e respira por aparelhos.
Segundo a equipe médica, Heloisa precisa ficar em repouso absoluto para que seu corpo descanse e, assim, consiga reagir ao trauma que sofreu. Ela está sob vigilância neurológica intensiva e os próximos passos do tratamento dependem de como ela reage a cada dia.
O procurador espera ter uma conclusão do caso dentro de até 30 dias. Além da conduta dos policiais, a procuradoria também investiga por que um agente da PRF entrou à paisana dentro da UTI onde Heloisa está internada.
A PRF já identificou o policial, mas ainda não enviou o ofício com a identificação do agente para o Ministério Público Federal. Até o momento, a Procuradoria sabe apenas o primeiro nome dele, Milton.
O policial entrou na UTI sem se identificar nem pedir autorização da segurança do hospital e da equipe médica. Ele apenas disse que o motivo para estar lá era “assunto policial”. O agente chegou a conversar com o pai de Heloisa. Ao MPF, Silva disse que foi uma conversa normal e não estranhou.
A Procuradoria vai investigar o que exatamente o agente foi fazer na unidade médica, principalmente na ala em que está Heloisa. De acordo com o MPF, a depender do que apontar a investigação, o policial pode ser denunciado à Justiça Federal por abuso de autoridade.
“Podemos dizer que o que ele fez foi uma espécie de carteirada. Não vejo nenhuma razão para ele entrar na UTI sem se identificar. Se ele tem alguma explicação para fazer isso, que ele nos dê”, diz Benones.
Após o depoimento da tia de Heloisa nesta terça-feira é que Benones vai pedir ou não o reforço da segurança no hospital. Por ora, o procurador diz que não quer tornar o clima mais hostil do que já está.
De toda forma, a direção do hospital afirma que já intensificou o controle da entrada e saída de visitantes, principalmente da UTI.
CAMILA ZARUR / Folhapress