Jovens acreditam menos na democracia, indica pesquisa global

BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) – Há uma mudança geracional em curso em relação ao apoio da população mundial aos regimes democráticos. A tendência é capturada pelo resultados de uma nova pesquisa global conduzida pela Open Society Foundations e publicada hoje no relatório “Barômetro Open Society: A Democracia Cumprirá suas Promessas?”

A pesquisa entrevistou 36.344 pessoas a partir de 18 anos de idade entre maio e julho de 2023 em 30 países. O formulário utilizado contém 43 perguntas para todos os locais envolvidos, com exceção de Arábia Saudita, Egito e Ucrânia, onde algumas questões foram removidas ou reformuladas devido a sensibilidades políticas, segundo a organização.

A pesquisa sugere que, embora o apoio à democracia seja amplo e disseminado no mundo (86% dizem preferir viver em um Estado democrático), crescem diferenças entre faixas etárias quanto à validade desse sistema político-social para resolver os problemas de cada país.

Exemplo disso são os 57% dos jovens de 18 a 35 anos entrevistados que consideram a democracia preferível em relação a outros tipos de governo; o percentual vai a 71% em faixas etárias mais velhas. Ao mesmo tempo, 42% dos jovens acreditam que um regime militar seja uma forma correta de governo, e 35% desse grupo etário acham que um líder forte que não se preocupa com eleições seja um caminho positivo para o governo; entre as pessoas acima de 56 anos, esses percentuais são de 20% e 26%, respectivamente.

No caso do Brasil, 74% dos entrevistados no país preferem a democracia, acima da média global. Esse percentual é maior que o registrado nos Estados Unidos (56%), no Reino Unido (58%), na França (60%) e na Itália (69%).

“Nossas descobertas são preocupantes e alarmantes. Pessoas ao redor do mundo ainda querem acreditar na democracia. No entanto, a cada nova geração, essa fé diminui enquanto aumentam as dúvidas sobre sua capacidade de trazer melhorias concretas à vida das pessoas”, afirma Mark Malloch-Brown, presidente da Open Society Foundations.

“É gratificante ver que pessoas ao redor do mundo continuam tendo fé na democracia, mesmo em um cenário de preocupações crescentes e comuns com desafios como desigualdade econômica, clima e corrupção. Porém, os resultados também mostram que as democracias precisam fazer jus a essa fé, proporcionando a prosperidade e a estabilidade”, diz Pedro Abramovay, vice-presidente de programas da organização.

Apesar do apelo ainda alto do sistema democrático, é alta também a preocupação de que a instabilidade política leve a episódios de violência no próximo ano.

Dos entrevistados, 58% têm episódios de violência decorrentes da política como perspectiva para 2024 no mundo. O percentual chega a 79% no Quênia, a 77% na Colômbia e a 73% no Paquistão e na Argentina. No Brasil, 60% dos entrevistados têm esse receio —número acima da média global, mas abaixo de outros países latino-americanos avaliados.

A expectativa de violência decorrente de instabilidade política afeta também a percepção da população em países desenvolvidos e recentemente submersos em momentos de convulsão: Estados Unidos e França marcam 66% de respostas nesse sentido.

Os Estados Unidos convivem com a expectativa de episódios violentos motivados pela política ao menos desde janeiro de 2021, quando extremistas a favor do então presidente Donald Trump invadiram o Congresso para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições do ano anterior. Cinco pessoas foram mortas na ocasião.

Em março deste ano, protestos violentos irromperam por dias em diversas cidades da França diante da aprovação de reforma da Previdência pelo governo de Emmanuel Macron, que preferiu ativar polêmico dispositivo constitucional e atropelar a Assembleia Nacional na decisão; centenas de manifestantes foram presos.

O apoio aos direitos humanos também é alto. Entre os entrevistados, 72% identificam os direitos humanos como uma “força para garantir o bem no mundo”. Por outro lado, percentual não insignificante (42%) vê esses valores serem usados por países ocidentais para punir nações em desenvolvimento.

GUILHERME BOTACINI / Folhapress

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