Leci Brandão: celebre seu aniversário e conheça história real do “Zé do Caroço”

Hoje é aniversário da cantora, compositora, política e ativista Leci Brandão, um dos mais importantes nomes da música popular brasileira de todos os tempos. Nesta matéria, além de conhecer mais sobre a trajetória de Leci Brandão, confira também a história real que inspirou a a música “Zé do Caroço”, famosa em sua voz.

Foto: Marcos Hermes/Divulgacao

Leci Brandão

Nascida no bairro de Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1944, Leci Brandão foi criada no bairro de Vila Isabel e é formada em Direito pela Universidade Gama Filho, onde ficou em 2º lugar no I Festival da Gama Filho com a música Cadê Marilza.

Antes disso, já tinha participado com êxito do programa de calouros A Grande Chance, de Flávio Cavalcanti, na extinta TV Tupi.

Primeira mulher a participar da ala de compositores da Mangueira

Leci começou a compor aos 19 anos e iniciou oficialmente a carreira musical no início da década de 1970, tornando-se a primeira mulher a participar da ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira, do Rio de Janeiro. 

Isso se deu exatamente em 1972, quando a única mulher a integrar a ala de compositores de escolas de samba ainda era Dona Ivone Lara, na Império Serrano, desde 1965. Ambas passaram por cima de muito machismo e preconceito para chegar neste lugar.

Leci Brandão – por exemplo – teve que escrever uma carta aos 40 homens que faziam parte da ala, justificando os motivos pelos quais deveria ser aceita (ela comparou a Mangueira a uma Universidade do Samba) e ainda passou por um ano de “estágio”.

Primeiro álbum e ativismo

Premiadíssima, Leci lançou o seu primeiro álbum – Antes que eu Volte a Ser Nada – em 1975, com 11 faixas, sendo oito delas compostas por ela. A artista conta que compõe letra e melodia sem auxílio de nenhum instrumento, apenas usando um gravador.

Uma das mais importantes intérpretes de samba da música popular brasileira, ao longo de sua carreira, gravou 25 álbuns, entre eles, três compactos, e dois DVDs.

Entre 1975 e 1980, gravou cinco discos, ficando sem lançar nada por cinco anos – até 1985 – quando mudou de gravadora. Isso ocorreu porque suas canções tinham um cunho bastante político e social e Leci não queria abrir mão disso.

A artista já estava fazendo política e sendo uma ativista muito antes disso tornar-se oficial, trazendo em suas letras um olhar crítico para a sociedade e para o amor. No período em que ficou sem lançar discos, intensificou sua participação em campanhas políticas, realizando shows em defesa das minorias, dentro e fora do Brasil.

Entre 1984 e 1993, Leci foi comentarista dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, pela TV Globo. Após uma pausa de seis anos, voltou a comentar o Carnaval carioca de 2000 a 2001. Entre 2002 e 2010, comentou os desfiles das escolas de samba de São Paulo pela mesma emissora. 

Na política

Em 2004, tornou-se Conselheira da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, permanecendo nesses postos por dois mandatos (quatro anos). 

Morando na capital paulista desde o ano 2000, encarou sua primeira eleição pelo PCdoB (Partido Comunista do Brasil) em 2010, transformando-se na segunda mulher negra deputada estadual da história da Assembleia Legislativa de São Paulo (a primeira foi a professora Theodosina Rosário Ribeiro). Atualmente, a parlamentar está em seu quarto mandato, tendo sido reeleita em 2014, 2018 e 2022. 

Como parlamentar, Leci Brandão dedica-se especialmente à promoção da igualdade racial, ao respeito às tradições de matriz africana e à defesa da cultura popular brasileira.

A artista também levanta a questão das populações indígenas e quilombolas, da juventude, em especial pobre e negra, das mulheres e da população LGBT+. Foi membro da Comissão de Direitos Humanos e vice-presidente da Comissão de Educação e Cultura

Atriz

Como atriz, Leci Brandão atuou nos filmes:

  • Antônia, de Tata Amaral, em 2010; 
  • Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, de José Padilha, em 2010;
  • e O Samba, de Georges Gachot, em 2015.

Na televisão, foi a líder quilombola Severina na telenovela Xica da Silva, de Walcyr Carrasco, exibida pela TV Manchete, entre 1996 e 1997.

Primeira cantora do Brasil a se pronunciar publicamente como uma mulher lésbica

Leci Brandão foi primeira cantora do Brasil a se pronunciar publicamente como uma mulher lésbica, em entrevista publicada em novembro de 1978, na sexta edição do militante jornal Lampião da Esquina, direcionado ao público LGBT+ da época. 

Mas essa não foi a primeira vez que Leci abordou esse tema, tendo escrito – em 1976 e 1977 – músicas como As Pessoas e Eles:

As pessoas não entendem

Porque eles se assumiram

Simplesmente porque eles descobriram

Uma verdade que elas proíbem

E Ombro Amigo:

Você vive se escondendo

Sempre respondendo

Com certo temor

Eu sei que as pessoas lhe agridem

E até mesmo proíbem

Sua forma de amor

A história da música “Zé do Caroço”, famosa na voz de Leci Brandão

Uma das canções mais importantes de Leci Brandão, Zé do Caroço – lançada em 1985, mas composta em 1978, em plena ditadura militar, não podendo ser lançada antes – é uma história real. Um amigo dela, chamado Cláudio, morava em uma rua de Vila Isabel, onde começa o Morro do Pau da Bandeira

Nesta rua tinha um prédio, onde morava uma mulher de um militar, que reclamou porque não conseguia escutar a novela das oito por conta do serviço de alto-falante do morro. E essa mulher fez todo um movimento para que o alto falante não acontecesse naquele horário.

O Zé do Caroço (Leci conta que ele tinha alguma doença que dava uns caroços no braço) era um líder comunitário que anunciava quando havia vacinação, matrícula na escola, e outras informações importantes para a comunidade – no alto-falante. 

Zé do Caroço é a história de um Brasil. Quando Seu Jorge gravou a canção, em 2005 (antes ela havia sido gravada pelo Art Popular e pelo Grupo Revelação), ele substituiu a frase “E na hora que a televisão brasileira / Distrai toda gente com a sua novela” por “E na hora que a televisão brasileira /Destrói toda gente com a sua novela”.

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