RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou para 0,23% em agosto, após subir 0,12% em julho, apontam dados divulgados nesta terça-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A principal pressão veio da alta da energia elétrica no mês passado, enquanto o grupo alimentação e bebidas mostrou nova trégua, com a terceira queda consecutiva.
Mesmo com a aceleração, o IPCA de agosto (0,23%) ficou abaixo da mediana das previsões do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,28%.
Em 12 meses, a inflação acumulada acelerou para 4,61% até agosto, ante 3,99% até julho, informou o IBGE. A nova taxa é a maior desde março deste ano, quando o IPCA marcava 4,65%.
A aceleração do índice acumulado, contudo, já era aguardada por analistas no início do segundo semestre devido à base de comparação.
É que o efeito das deflações (quedas) registradas pelo IPCA na segunda metade de 2022 começa a sair do cálculo de 12 meses.
No segundo semestre do ano passado, o índice havia perdido força com a redução artificial dos preços de itens como os combustíveis. A baixa ocorreu em meio ao corte de tributos promovido pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições.
Apesar da alta maior do IPCA em 12 meses, o economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, vê um cenário mais benigno para a inflação, com perda de força de preços menos voláteis.
“A trajetória desses preços tem mostrado essa dinâmica”, diz. Mercadante, por outro lado, pondera que o mercado de trabalho resiliente ainda traz desafios para o combate à inflação de serviços.
“De modo geral, a leitura qualitativa do indicador [IPCA] veio em linha com o nosso esperado, seguindo saudável e atendendo às expectativas”, aponta relatório assinado pelos economistas Marco Antonio Caruso e Igor Cadilhac, do PicPay.
LUZ MAIS CARA
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, 6 tiveram alta de preços em agosto. Habitação registrou o principal impacto positivo (0,17 ponto percentual) e a maior variação (1,11%) no índice.
A energia elétrica residencial, que faz parte desse grupo, subiu 4,59% no mês passado. Individualmente, foi a contribuição mais relevante (0,18 ponto percentual) para a alta do IPCA em agosto.
De acordo com o IBGE, o avanço da energia elétrica refletiu o fim da incorporação do bônus de Itaipu, creditado nas faturas do mês anterior. Além disso, houve reajustes de tarifas em áreas pesquisadas pelo instituto.
“O aumento na energia elétrica foi influenciado, principalmente, pelo fim da incorporação do bônus de Itaipu, referente a um saldo positivo na conta de comercialização de energia elétrica de Itaipu em 2022, que foi incorporado nas contas de luz de todos os consumidores do Sistema Interligado Nacional em julho e que não está mais presente em agosto”, disse André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA.
PREÇOS DA ALIMENTAÇÃO VOLTAM A CAIR
Do lado das quedas, o destaque ficou com o grupo alimentação e bebidas, que teve baixa de 0,85%, a terceira consecutiva. Com isso, o segmento registrou impacto de -0,18 ponto percentual no índice de agosto.
O resultado foi puxado pelo recuo dos preços da alimentação no domicílio (-1,26%). Nesse caso, o IBGE destacou as baixas da batata-inglesa (-12,92%), do feijão-carioca (-8,27%), do tomate (-7,91%), do leite longa vida (-3,35%), do frango em pedaços (-2,57%) e das carnes (-1,90%).
“De maneira geral, a gente pode dizer que a queda dos preços alimentícios tem sido influenciada pela maior oferta [de produtos] no mercado”, afirmou Almeida.
Neste ano, o Brasil vive os reflexos do aumento na safra agrícola. Conforme Almeida, melhores condições climáticas beneficiam a produção de grande parte dos alimentos e, como consequência, geram alívio para os preços neste período do ano.
O arroz (1,14%) e as frutas (0,49%), por outro lado, subiram em agosto. Limão (51,11%) e banana dágua (4,90%) também ficaram mais caros.
“O limão tem peso pequeno dentro da cesta de consumo, mas teve essa variação expressiva, relacionada principalmente com a diminuição da oferta, mais acentuada em agosto. Os preços já haviam subido em julho”, disse Almeida.
Na relação dos grupos, outros destaques vieram das altas de saúde e cuidados pessoais (0,58% e impacto de 0,08 ponto percentual) e transportes (0,34% e 0,07 ponto percentual).
No segundo caso, houve avanço dos preços do automóvel novo (1,71%) e da gasolina (1,24%). O óleo diesel subiu 8,54%, enquanto o etanol (-4,26%) e o gás veicular (-0,72%) caíram.
Ainda dentro de transportes, as passagens aéreas registraram baixa em agosto (-11,69%), após alta em julho (4,97%). A redução dos bilhetes contribuiu para o alívio da inflação de serviços no IPCA, que desacelerou a 0,08% no mês passado, depois do avanço de 0,25% na divulgação anterior.
No acumulado de 12 meses, o índice de serviços atingiu 5,43% até agosto. É a menor alta desde janeiro de 2022.
META DE INFLAÇÃO E JUROS
O IPCA serve como referência para o regime de metas do BC (Banco Central). No acumulado de 2023, o centro da medida perseguida pela autoridade monetária é de 3,25%.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo até dezembro.
Analistas do mercado financeiro, porém, projetam IPCA de 4,93% no acumulado de 2023, acima do teto, de acordo com a edição mais recente do boletim Focus. O relatório foi publicado pelo BC na segunda (11).
Neste ano, a autoridade monetária virou alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que defende a redução da taxa básica de juros, a Selic, como forma de impedir uma forte desaceleração da economia.
Após a trégua da inflação nos meses iniciais de 2023, o primeiro corte da Selic no governo petista veio em agosto. Na ocasião, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) reduziu a taxa de juros em 0,5 ponto percentual, de 13,75% para 13,25% ao ano.
O colegiado volta a se reunir na próxima semana, nos dias 19 e 20 de setembro. Analistas preveem novo corte de 0,5 ponto percentual.
Para Danilo Igliori, economista-chefe da fintech Nomad, não houve surpresas significativas no IPCA de agosto. Por isso, ele avalia que os dados não devem mudar a rota prevista para a política monetária.
“Por ora, as apostas que o mercado vinha fazendo sobre a possibilidade de um aumento no ritmo de corte da Selic devem perder força”, afirma Igliori.
A divulgação referente a agosto é a primeira do IPCA após a cerimônia de posse de Marcio Pochmann como presidente do IBGE. A indicação do economista ligado ao PT para o comando do instituto gerou críticas de uma ala de pesquisadores.
LEONARDO VIECELI / Folhapress