Colégios estimulam senso crítico ao usar ChatGPT em sala de aula

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para lidar com ferramentas de IA (inteligência artificial) como o ChatGPT, lançado pela OpenAI no ano passado, colégios apostam na capacitação de professores e intensificam o estímulo ao senso crítico dos estudantes. O movimento acontece tanto por iniciativa das próprias escolas quanto como resposta ao uso entre alunos.

Marcelo Cavalcante, professor de redação do Colégio Anglo Morumbi nos anos finais do ensino fundamental, desconfiou do uso da ferramenta em suas turmas ao se deparar com dois textos que empregavam mais palavras difíceis que o comum. Acessou o ChatGPT e, com alguns comandos, descobriu que eram produções feitas pelo robô.

Em vez de anular a atividade, permitiu que os estudantes entregassem outra versão -desta vez, feita por eles- e abraçou a opção gratuita do ChatGPT como instrumento de trabalho. Hoje, ele utiliza a plataforma para preparar aulas (pesquisando estratégias pedagógicas e dicas de avaliação, por exemplo) e para incentivar o hábito de pesquisar.

“Se estou trabalhando o texto dissertativo-argumentativo, que é cobrado nos vestibulares, posso pedir para a turma buscar modelos e conferir a estratégia de argumentação daquela redação. Nós analisamos o que foi dado pelo ChatGPT e, depois, os alunos criam seus próprios textos.”

A experiência começou com as turmas do oitavo ano e, neste semestre, foi expandida para as classes de sexto e sétimo ano do colégio, localizado na zona oeste de São Paulo.

Para Cavalcante, a mediação dos docentes no uso da IA pelos estudantes foi essencial para gerar consciência de ética na escrita, melhorar a qualidade dos textos entregues e até mesmo para desenvolver o raciocínio lógico -que ajuda a dar os comandos corretos aos robôs.

“Depois de fazer o trabalho de análise e crítica do que o ChatGPT trouxe, percebi que houve um interesse maior dos alunos em refletir, pesquisar e comparar o que a ferramenta respondeu com outra fonte, e isso inibiu o copia e cola de informações.”

A percepção é compartilhada por Mateus Bôdo Domingues, 13, estudante do oitavo ano do Colégio Anglo Morumbi, que descobriu o ChatGPT por conta própria e aprova a aplicação em sala de aula.

“Com o projeto dos professores, nos aprofundamos mais na ferramenta. Isso não só impediu um pouco da cola como permitiu que tivéssemos mais um recurso disponível na hora de fazer redações.”

Habilidoso em matemática, Mateus utiliza a IA para tirar dúvidas ao estudar em casa e até para ajudar a mãe na segunda graduação. “Ele que me apresentou o ChatGPT. Eu não conhecia e comecei a usar por intermédio dele”, conta Danielle Duque Bôdo Domingues, 40, fisioterapeuta e estudante de biomedicina.

A capacitação do corpo docente para novas plataformas é praxe no Colégio Pentágono, que possui duas unidades na capital (Perdizes e Morumbi) e uma em Alphaville.

A escola também investe no senso crítico para promover o uso responsável de todas as ferramentas, mas, com o ChatGPT e outras IAs, a diferença está na velocidade de mudança, que demanda atualização constante da equipe, diz Bruno Alvarez, vice-diretor de inovações pedagógicas.

“Já tínhamos habilidades ligadas à leitura crítica, à interpretação de textos e à avaliação da fidedignidade das informações, especialmente a partir do sexto ano, para trabalhar temas como fake news. Quando o ChatGPT chegou com uma capacidade monstruosa de produção, essas competências passaram a ser mais mobilizadas.”

Alvarez explica que, em sala, os estudantes são orientados sobre pontos como a alucinação dos robôs -ou seja, a invenção de informações-, mesmo que a resposta pareça convincente por não apresentar erros gramaticais.

“O ChatGPT e outras ferramentas não só podem enganar como fazem isso muito bem, são convictas de informações erradas. O aluno precisa entender, portanto, que não pode encerrar a pesquisa ali e que é responsável pelo que a IA produz. O ChatGPT é algo com que temos que fazer o que sempre deveríamos ter feito: questionar.”

A aplicação da IA no Pentágono extrapola a produção de redações e vai além do lançamento da OpenAI. Em uma aula de geografia do sétimo ano, por exemplo, o Google Lens foi utilizado por alunos para identificar espécies da fauna e da flora da mata atlântica no bosque de uma das unidades do colégio.

Já na Escola Lourenço Castanho, com unidades na Vila Nova Conceição e no Alto da Boa Vista, o uso do ChatGPT está voltado às pesquisas em atividades multidisciplinares que existem nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio -nesta etapa, os adolescentes pesquisam temas de seu interesse durante dois anos, de modo semelhante a um trabalho de conclusão de curso.

“Os trabalhos são inscritos em eventos como a Febrace [Feira Brasileira de Ciências e Engenharia], na qual temos muitos alunos premiados. Um dos quesitos é o ineditismo, passando por banca, e os reconhecimentos continuam”, diz Cristina Tempesta, diretora-geral da área pedagógica.

Os docentes exploram a plataforma para apresentar recursos e testar a IA com base nos conteúdos do currículo, com orientações sobre responsabilidade autoral.

“Nosso primeiro cuidado diante do ChatGPT foi reunir professores em cursos de formação -o que é, quais vantagens traz no cotidiano acadêmico, quais cuidados são importantes no uso com os alunos-, porque entendemos que, na escola, a responsabilidade é dos adultos.”

**Colégio Anglo Morumbi**

Modalidades: da educação infantil ao ensino médio

Mensalidade: de R$ 2.102,03 a R$ 3.006,32

Unidade: Vila Suzana (zona oeste de SP)

Mais informações sobre matrícula estão disponíveis no site da instituição

**Colégio Pentágono**

Modalidades: da educação infantil ao ensino médio

Mensalidade: de R$ 3.395,67 a R$5.570,17

Unidades: Alphaville (Santana de Parnaíba, SP), Morumbi (zona sul de SP) e Perdizes (zona oeste de SP)

Mais informações sobre matrícula estão disponíveis no site da instituição

**Escola Lourenço Castanho**

Modalidades: da educação infantil ao ensino médio

Mensalidade: em média R$8.000

Unidades: Vila Nova Conceição e Alto da Boa Vista (ambos na zona sul de SP)

Mais informações sobre matrícula estão disponíveis no site da instituição

MARINA COSTA / Folhapress

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