Ex-subordinado de Braga Netto recebeu de empresa investigada, diz PF

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um coronel da reserva subordinado por mais de dois anos ao general Walter Braga Netto recebeu R$ 25 mil da empresa investigada sob suspeita de corrupção no Gabinete de Intervenção Federal no Rio de Janeiro, comandado pelo ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL).

Em mensagem apresentada no inquérito, o coronel Robson Queiroz afirma que participaria em março de 2020 de um jantar com Braga Netto no qual, para investigados, poderia interceder em favor da empresa.

Queiroz foi nomeado em dezembro de 2016 para o Comando Militar do Leste a pedido de Braga Netto e atuou na intervenção em 2018 também comandada pelo general da reserva. O depósito feito pela CTU Security foi feito em setembro de 2019, quando o suspeito ainda estava lotado no CML, já sob comando de outro general.

A Operação Perfídia, deflagrada na última terça-feira (12), investiga os crimes de patrocínio de contratação indevida, dispensa ilegal de licitação, corrupção ativa e passiva e organização criminosa supostamente praticadas por servidores públicos federais quando da contratação de empresa norte-americana CTU para aquisição de 9.360 coletes balísticos com sobrepreço estimado em R$ 4 milhões.

Queiroz foi um dos alvos de busca e apreensão. Braga Netto teve o sigilo telemático quebrado na investigação.

Em nota, o ex-interventor afirmou que “os contratos do Gabinete de Intervenção Federal (GIF) seguiram absolutamente todos os trâmites legais previstos na lei brasileira”.

“É preciso destacar que a suspensão do contrato foi realizada pelo próprio GIF, após avaliação de supostas irregularidades nos documentos fornecidos pela empresa”, disse Braga Netto.

A Folha de S.Paulo não localizou a defesa do coronel Queiroz.

O Gabinete da Intervenção chegou a emitir uma carta de crédito de R$ 35,9 milhões para a CTU em 23 de janeiro de 2019. O contrato foi posteriormente suspenso em 12 de setembro do mesmo ano por suspeitas na documentação da empresa e a carta de crédito, anulada no dia 24 de setembro.

Mensagens que constam no inquérito mostram que, logo após a suspensão, em 15 de setembro de 2019, representantes da CTU mantiveram contato com o general da reserva Paulo Roberto Corrêa Assis. O militar afirmou que poderia atuar em favor da empresa norte-americana, a fim de destravar o processo. Nas conversas, ele citou proximidade com Braga Netto.

Segundo a Folha apurou, quem indicou o general Paulo Assis foi o coronel Robson Queiroz, com quem representantes da CTU tiveram contato no Gabinete de Intervenção.

O acertado entre os representantes da firma norte-americana e Assis foi o pagamento de R$ 50 mil, uma metade para o general da reserva e outra para o coronel. Os depósitos foram feitos no dia 18 de setembro, quando Queiroz ainda ocupava um cargo no CML, já sob comando do general Júlio Cesar de Arruda.

Queiroz está na reserva remunerada desde 2002. Contudo, foi nomeado em dezembro de 2016 para um cargo no Departamento de Engenharia e Construção no CML, dois meses após Braga Netto assumir o comando da unidade. Em novembro de 2017, ele se tornou adjunto da assessoria de Relações Institucionais do então comandante.

A nomeação de Queiroz no Gabinete de Intervenção não consta em documentos públicos. No entanto, ele compareceu a uma audiência pública em março de 2018 se apresentando como membro do gabinete.

De acordo com áudio enviado por Glauco Guerra (representante da CTU no Brasil) ao irmão Gláucio Guerra, (também intermediário da firma norte-americana), Queiroz afirmou ao grupo ser da mesma turma de formatura da Aman (Academia das Agulhas Negras) de Braga Netto, em 1978.

“O Queiroz, Braga Netto e Sérgio são da turma de 78, são amigos, tanto é que General Braga Netto foi nomeado interventor no Rio, quem foi o chefe de gabinete dele? General Sérgio. E quem era o assessor do General Sérgio? Coronel Queiroz. O Queiroz é o intendente do negócio, o cara que organiza as compras, o que faz as operações de orçamento, entendeu?”, disse Glauco.

A PF não identificou a qual “general Sérgio” Glauco se referia. Possivelmente trata-se do general Sérgio José Pereira, secretário da Intervenção Federal —ele não foi alvo de busca e apreensão nem consta como investigado.

Queiroz só deixou o CML em 1º de novembro de 2019, quando já havia recebido para atuar em favor da CTU.

A investigação mostra que as conversas perduraram até março de 2020, antes da chegada da pandemia do novo coronavírus. Em 6 de março, Queiroz pede para Glauco o pagamento de uma passagem para Brasília para participar de um jantar com Braga Netto. Naquela altura, o contrato já havia sido suspenso e a CTU era alvo de uma investigação administrativa no governo.

ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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