Sabine Boghici fez testamento para deixar herança para filho adotivo de esposa

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Sabine Coll Boghici, 49, que morreu nesta quinta-feira (14) após cair de um prédio no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, fez um testamento em que deixa toda a sua herança para o filho adotivo de Rosa Stanesco Nicolau. As duas se casaram no ano passado.

A união ocorreu pouco antes da prisão delas, em agosto de 2022. À época, Sabine, Rosa, que se apresentava como vidente, e mais duas pessoas foram presas sob suspeita de envolvimento num golpe de cerca de R$ 720 milhões. A vítima era a mãe de Sabine, a francesa Geneviève Rose Coll Boghici.

Em março deste ano, a Justiça concedeu liberdade provisória a Sabine por avaliar que ela não era uma pessoa de alta periculosidade. Outros dois suspeitos, um homem e uma mulher, também foram soltos.

Rosa, a única denunciada que se encontra presa, foi informada no Complexo Penitenciário de Bangu sobre a morte da esposa.

De acordo com a Promotoria, ela teria arquitetado o golpe com Sabine, inclusive orientando como seriam feitas as agressões à idosa.

Geneviève afirmou, em depoimento, que era agredida pela filha e obrigada a limpar o apartamento sozinha, uma cobertura vizinha ao Copacabana Palace.

A reportagem não localizou a defesa de Rosa. O último advogado cadastrado no Tribunal de Justiça deixou seu defesa em julho.

Procurado, o advogado de Sabine, Vanildo Júnior, disse que não iria se manifestar.

Em agosto, o advogado de Geneviève, Ary Brandão, afirmou que a mãe acreditava que a filha também era vítima do esquema.

Sabine seria submetida a um exame de sanidade mental em novembro. A decisão foi tomada em maio pelo juiz Guilherme Schilling, da 23ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, após um pedido da defesa de Geneviève Boghici, 84.

A reportagem apurou que o intuito da defesa, em caso de constatada a insanidade mental de Sabine, seria anular o casamento que ela havia firmado com Rosa.

CONSULTAS ESPIRITUAIS

De acordo com a versão de Sabine, ela e Rosa se conheceram após a mãe fazer consultas espirituais, em 2020.

Já a Promotoria diz que as consultas começaram após um acordo entre Sabine e Rosa, quando Geneviève teria sido convencida por supostas videntes a pagar por um tratamento espiritual que evitaria a morte da filha.

Na ocasião, a idosa foi abordada na rua por uma das envolvidas dizendo que em breve a filha “iria morrer por influência de um espírito”, mas que ela poderia evitar esse destino.

Após realizar oito transferências que totalizaram R$ 5 milhões em duas semanas, a idosa desconfiou do golpe. Diz, então, ter ficado em cárcere e perdido quadros, joias, além de um total de R$ 9 milhões em dinheiro. Entre as obras retiradas do apartamento, estava o quadro “Sol Poente” (1929), de Tarsila do Amaral, que fora encontrado pelos investigadores debaixo de uma cama.

Dos quadros desviados, somente três obras não foram recuperadas. Elas foram vendidas ao Malba (Museu de Arte Latino-americana), em Buenos Aires, na Argentina, e estão em exposição.

O dinheiro da família tem origem no trabalho do marchand Jean Boghici (1928-2015), que foi um dos principais colecionadores de obras de arte do Brasil. Nascido na Romênia, ele foi marido de Geneviève e pai de Sabine.

A herança deixada é avaliada em R$ 1 bilhão, de acordo com processo judiciário, sendo as beneficiárias além de Geneviève, Sabine e outra filha. O inventário era administrado pelas três.

Na decisão judicial que determinou o exame de sanidade mental, o juiz escreveu que a mãe já duvidava da sanidade mental da filha, desde quando procurou a polícia.

“A dúvida quanto à sanidade da acusada já encontrava-se positivada nos autos desde a primeira inquirição da vítima, ainda na fase inquisitorial, oportunidade em que afirmou que sua filha desde a adolescência sofria de problemas psicológicos e graves, especialmente a depressão”, escreveu.

O juiz também afirmou que “a situação voltou a ser ventilada no bojo do depoimento de algumas testemunhas”. Além disso, disse que o exame seria “de especial relevância, inclusive para eventual compreensão de situações afetas à prova que guardam pertinência com o que é debatido nestes autos”.

O enterro de Sabine está previsto para este final de semana. Uma carta, endereçada à Rosa, foi encontrada no apartamento.

Redação / Folhapress

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