Museu de História Natural de Nova York faz caverna contra o obscurantismo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A abastada região noroeste de Manhattan, ao sul do Harlem, ganhou uma caverna majestosa encomendada pelo Museu de História Natural de Nova York, instituição que estuda nosso planeta desde os tempos jurássicos.

Não se trata de celebrar uma nova Idade de Pedra, mas o Richard Gilder Center, a nova ala do venerando museu fundado em 1869, erguida numa vizinhança ainda conhecida por recatadas town houses, é a nova fonte de interjeições para quem atravessa a entrada e se depara com um átrio gigantesco de concreto e vidro.

O novo Gilder Center oferece atrações conhecidas como o viveiro de borboletas remodelado, um atraente insetário, uma biblioteca aconchegante, novas instalações para receber turmas de estudantes e a favorita dessa repórter, a instalação Mundos Invisíveis. Não é a primeira experiência em que o Museu de História Natural nos transporta para outros mundos, sejam eles células ou oceanos. Mas a experiência imersiva vai ser tão satisfatória quando a que certos adultos conseguem, com alguns estímulos químicos.

Qualquer turista que tenha visitado o Museu da História Natural de Nova York enfrentou, no passado, o desafio de percorrer não só milhões de anos de história, mas quilômetros de um emaranhado de 20 edifícios e alas que se acumularam na margem oeste do Central Park, ao longo de 150 anos. Gigantescos dinossauros nos recebem num edifício construído nos anos 1930, mas o Planetário é abrigado por um prédio contemporâneo de vidro, inaugurado em 2000.

O primeiro desafio do Gilder Center, que críticos locais consideram vencido, seria abrir atalhos para os visitantes tomarem múltiplos caminhos para a gigantesca coleção do museu.

O outro desafio é mais recente. Nos anos em que a agora presidente emérita do Museu Ellen Futter levantava US $465 milhões para a obra do Gilder Center, um presidente consagrou a era da pós-verdade e decretou o negacionismo científico uma opção aceitável para enfrentar a mudança climática ou a pandemia de Covid.

A partida de Donald Trump da Casa Branca, após a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, não fez arrefecer a hostilidade à ciência, agora alimentada por autoridades eleitas em estados conservadores. Não está fácil a vida de curador, acadêmico ou professor de ciência nos EUA, com bibliotecas banindo livros e escolas banindo currículos.

Ellen Futter deixou claro o que vê como missão de resistência de uma das maiores instituições de pesquisa de história natural do planeta na inauguração do Gilder Center.

Depois de três décadas à frente do museu, ela diz à Folha que sempre contou com uma parte do público para combater obscurantismo. “Os jovens estudantes são invariavelmente mais abertos,” diz. “Eles buscam a verdade. E hoje, estes jovens expressam um fervor singular pelo meio ambiente, sabem que seu futuro depende de sua proteção.”

O exibicionismo em arquitetura, que nos deu edifícios épicos como o rococó contemporâneo do museu Guggenheim em Bilbao, anda em baixa. O aquecimento catastrófico do planeta criou uma urgência que colocou em banho-maria egos como o do arquiteto Frank Gehry. Espetáculo é bem-vindo, mas desde que venha com certificado de bom-mocismo ambiental.

A “starchitecht” ou arquiteta-estrela por trás da concepção do novo centro do Museu de História Natural é Jeanne Gang, professora da Universidade de Harvard e veterana de projetos que exploram elementos da natureza, como a Aqua Tower de Chicago, a torre Solar Carve, na margem do parque High Line de Manhattan e uma joia de arquitetura cívica, a Rescue Company 2, um centro para treinar bombeiros em operações de resgate, no Brooklyn, em Nova York.

Jeanne Gang explica que o método de “shotcrete”, que injeta concreto em estruturas em alta velocidade, permitiu as formas sinuosas do prédio, já que dispensa moldes geométricos.

Quem tem crianças na família vai imaginar suas reações assim que entrar no átrio do novo Gilder Center e Jean Gang afirma: “Eu ainda sou uma destas crianças. Ser arquiteta é uma forma de estender a infância, a alegria de explorar espaços. Eu construía casas em árvores e fortes para brincar com meus amigos. Espero também que os adultos se sintam seduzidos pela alegria que quisemos transmitir”.

LÚCIA MONTEIRO / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS