Pai de Heloisa diz ter se sentido intimidado por agentes da PRF no hospital

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – William Souza, pai de Heloisa dos Santos Silva, 3, morta por agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no Rio de Janeiro, disse que os policiais não demonstraram empatia após terem atingido a criança com tiros de fuzil e que se sentiu intimidado por agentes que estiveram no hospital onde a menina foi internada.

Vinte e oito policiais estiveram no Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, de acordo com o depoimento de uma tia da menina que estava no carro com a família no momento dos disparos. Heloisa morreu no sábado (16) após nove dias de internação.

Questionada sobre as declarações do pai da criança, a PRF afirma que “todas essas informações estão sendo apuradas pela Corregedoria e compartilhadas com o órgão investigativo competente (PF)”.

Souza e a mãe da menina, Alana Santos, prestaram depoimento à Procuradoria nesta terça (19).

Na saída do prédio do Ministério Público Federal, no centro do Rio, Souza disse a jornalistas que os agentes queriam que ele prestasse depoimento enquanto a filha passava por uma cirurgia.

“Não tiveram nem um pouco de empatia. Lembro perfeitamente a frase do policial: ‘você não é médico, se você estiver aqui ou não, você não vai poder fazer nada’. Isso daí me entristeceu muito, muito, muito mesmo. Mesmo assim eu acatei o pedido deles, nós fomos [tentar depor]”, disse.

A família, contudo, encontrou a delegacia fechada. “De manhã, voltei [ao hospital] com roupas para a minha esposa. Tive que comprar as coisinhas da Helo, lençol que o hospital pediu. Lá estavam eles de manhã. Disseram que se eu não fosse [depor] eles iam entender que eu não estava querendo ir”.

Souza afirma que, nesse momento, sentiu-se intimidado.

“Eu me senti coagido, sim. Me senti coagido. Na verdade, eles deviam estar ali confortando a gente nesse momento de covardia”, disse.

Souza disse que prestou novo depoimento na Procuradoria porque espera justiça. “Que a justiça seja feita. Porque não é o primeiro caso. Para que não venha ter outros casos e fique só numa estatística, como sempre tem ficado.”

“Nada que a gente faça vai trazer a vida da minha filha de volta”, desabafou. “Eles nos atacaram dessa forma cruel, tirando a vida de uma menina de três anos. Três anos. E foi para matar mesmo, porque poderia ter morrido todo mundo”, acrescentou Souza.

Além de Heloisa, no carro estavam a irmã mais velha da menina, uma tia e os pais. Eles não se feriram.

Em depoimento dado no início da investigação, a tia da criança contou que, ao ver o estado de Heloisa, entrou em desespero e passou a gritar. E disse que, nesse instante, um policial teria dito a ela para “calar a boca”.

A mãe de Heloisa estava com Souza, mas não quis dar entrevista. O casal estava acompanhado do advogado da família, Jairo Beck.

O procurador Eduardo Benones, do Controle Externo da Atividade Policial, afirma que pretende recorrer da decisão da Justiça que negou a prisão preventiva dos agentes envolvidos no caso.

Os policiais Fabiano Menacho Ferreira, Matheus Domicioli Soares Viegas Pinheiro e Wesley Santos da Silva ficarão em serviço administrativo e em recolhimento domiciliar noturno. Também terão de usar tornozeleira eletrônica e não poderão se aproximar do carro da família e de testemunhas.

COMO FOI O CRIME

Heloisa estava com a família indo para casa, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na quinta (7).

De acordo com relatos dos parentes e de testemunhas, uma viatura da PRF passou a seguir o carro em que a menina estava, na altura do município de Seropédica, na Baixada Fluminense. Os agentes abriram fogo após o pai da criança, William Silva, dar sinal de parada.

A PRF iniciou a abordagem após o veículo apontar como roubado. Em depoimento, Souza disse que não sabia da situação do veículo adquirido há dois meses.

No carro, além de Heloisa estavam seus pais, uma irmã de oito anos e uma tia. O caso é investigado pelo Ministério Público Federal, pela Polícia Federal e pela Corregedoria-Geral da PRF.

Segundo a equipe médica que atendia a menina, Heloisa tinha várias perfurações por arma de fogo. Ao menos dois tiros a atingiram: um deles no ombro e outro na nuca, que se fragmentou.

Em depoimento à Polícia Civil, o agente Fabiano Menacho Ferreira admitiu ter atirado contra o carro em que estava a menina com três disparos. Ele alegou que ouviu barulhos de tiro e, por isso, fez os tiros.

A versão, no entanto, não bate com o que disse o pai de Heloisa e uma testemunha que presenciou a movimentação dos agentes. Segundo eles, não houve nenhum barulho de tiro antes de o policial atirar.

A responsável pela área temática dos direitos humanos da PRF, Liamara Cararo Pires, afirmou à Folha de S.Paulo que a morte de Heloisa vai contra as diretrizes da corporação. “No mínimo, a gente pode dizer que os resultados não foram aqueles que são esperados nem desejados”, afirmou.

BRUNA FANTTI / Folhapress

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