SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Disponível no WhatsApp desde 2017, o recurso apagar mensagens para todos não impede a pessoa do outro lado da linha de ver a mensagem mesmo após a exclusão. O conteúdo enviado pode ficar salvo em computador ou smartphone do remetente de diferentes formas.
Pior, o aplicativo não previne os usuários dessa possibilidade. A extensão para Google Chrome Wa Web Plus, de origem turca, por exemplo, disponibiliza a opção de recuperar mensagens de texto deletadas por contatos enquanto o usuário está online no WhatsApp Web.
Procurado pela Folha de S.Paulo, o WhatsApp afirma que essa extensão viola as políticas do aplicativo. “Estamos estudando as ações necessárias. O WhatsApp não é compatível com aplicativos ou extensões não oficiais, pois não podemos validar as medidas de segurança implementadas por eles.”
A extensão também não explica por quais meios permite bisbilhotar as mensagens apagadas, mas afirma, em seu site, que não salva as mensagens dos usuários.
Os informes de privacidade da ferramenta afirmam que o programa acessa dados gravados no navegador e os processa localmente no computador, sem enviá-los a outros servidores.
Segundo informações da loja de extensões do Google Chrome, o WA Web Plus foi revisado por programadores do Google.
Ainda assim, o aplicativo representa um risco a privacidade de quem escolhe usá-lo, avalia o tecnologista de interesse público do Instituto Aaron Swartz Lucas Lago, também mestre pela Escola Politécnica da USP. Para funcionar, essa extensão armazena tudo o que o usuário envia e as pessoas por trás do aplicativo podem manipular essas informações de diferentes formas.
“Instalar essa extensão é potencialmente expor todas as suas conversas no WhatsApp para os desenvolvedores.”
O aplicativo Notification History disponível na loja de aplicativos da Google, Play Store, funciona de forma similar: grava o texto de todas as mensagens recebidas a partir das notificações do celular, embora não consiga ter acesso a imagens e áudios.
“É um pesadelo do ponto de vista de segurança e me impressiona o Google manter isso na loja deles”, diz Lago.
Na biblioteca digital de programação GitHub, há também um código registrado sob o nome Whats Hidden que mostra em detalhes como recupera as mensagens. O programa acessa os conteúdos diretamente pelo servidor do WhatsApp a partir da verificação por QRCode (a mesma usada para acessar o WhatsApp Web). Nesse caso, o aplicativo acessa também imagens, vídeos e áudios.
O próprio criador desse código afirma que ele não é uma pessoa confiável. “Considere que essa aplicação vai ter acesso total à sua conta. Porém, esse projeto pelo menos tem código aberto e pode ser entendido diferente de aplicativos obscuros para Android e Google Chrome.”
Baixar extensões e aplicativos de fontes desconhecidas sempre incute risco de contaminação do dispositivo por programas maliciosos e de vazamento de dados.
A área de informações sobre o recurso de apagar mensagens do WhatsApp ainda informa que as pessoas que usam o aplicativo em aparelhos da Apple podem manter cópias dos arquivos de mídia recebidos no app Fotos, mesmo depois de o interlocutor as apagar.
O WhatsApp previne ainda que o usuário não receberá uma notificação se não for possível apagar sua mensagem para todos.
A quem quer evitar mal mal-entendidos na plataforma de mensagens a qualquer custo, não restam opções afora redobrar os cuidados ao enviar mensagens e garantir que o texto chegue ao remetente correto.
O WhatsApp anunciou o recurso apagar para todos em 2017, há seus anos. À época, o usuário tinha cerca de sete minutos para excluir a mensagem. Desde 2022, esse prazo foi estendido para por volta de dois dias após o envio.
Administradores de grupos também podem apagar mensagens enviadas por outros participantes. Eles também têm cerca de dois dias para acionar o recurso.
Na seção de dúvidas e respostas do aplicativo, o WhatsApp afirma que não é possível recuperar mensagens apagadas por um administrador, embora seja possível fazê-lo com auxílio do WA Web Plus e outras extensões e aplicativos.
PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress