SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Empresários da região central de São Paulo querem convencer as gestões do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a apoiarem a instalação de grandes painéis eletrônicos na esquina das avenidas Ipiranga e São João.
A ideia é fazer dos luminosos uma atração turística nos moldes da Times Square, cruzamento que é símbolo cultural da cidade de Nova York, nos Estados Unidos.
Integrantes do primeiro escalão das equipes de Nunes e de Tarcísio demonstram simpatia pela proposta. Seria uma forma de aumentar a arrecadação para ações voltadas à requalificação do centro, estigmatizado pelo espraiamento das cenas de consumo ao ar livre de crack.
Os luminosos integrariam um projeto de recuperação do trecho inicial da avenida São João, que considera a reabertura de edifícios históricos e salas de cinema desativadas. Um corredor turístico seria formado por casas de espetáculos, centro de convenções e hotéis. O projeto tem sido informalmente chamado de Broadway paulistana, também fazendo alusão à região nova-iorquina que concentra apresentações de musicais.
“Nosso sonho é fazer disso um lugar iluminado, como uma Times Square, um Soho [bairro central da capital britânica Londres]”, diz Antonio Souza Neto, síndico da Galeria do Rock e um dos responsáveis pela revitalização do local.
Ele é um dos diretores da associação Pró Centro, coletivo de empresários locais que vem dialogando com o poder público.
Em fase de definição quanto aos equipamentos culturais a serem instalados, a proposta do corredor turístico poderá ser oficialmente anunciada ainda neste ano.
Uma das etapas previstas é a concessão ou venda para a iniciativa privada de três edifícios no quarteirão que fica atrás do Theatro Municipal. O desativado Cine Marrocos e o antigo hotel Esplanada, assim como um galpão entre os dois, seriam convertidos em complexo para hospedagem e eventos.
Tais edifícios fazem parte de acordo de troca de imóveis entre prefeitura e estado que prevê a redistribuição de órgãos públicos na capital. As concessões já estavam previstas na proposta de transferência do centro administrativo do estado de São Paulo para o parque Princesa Isabel, também no centro.
“Em determinados prédios nós podemos antecipar a desativação [de órgãos públicos estaduais] para contribuir com o projeto da prefeitura de revitalização”, afirma o secretário estadual de Projetos Estratégicos, Guilherme Afif Domingos. Ele inclui na lista um prédio do chamado triângulo histórico da capital, a quase 1 km dali. É o antigo Banco de São Paulo, atual sede da Secretaria de Esportes do Estado, que também poderia entrar nesta leva de privatizações.
Ainda no corredor da São João, precisamente no entorno do largo do Paissandu, os antigos cinemas Art Palácio, Olido, Dom José e Paissandu, entre outros imóveis, seriam reformados para receber musicais, peças teatrais e, algum deles, até mesmo reativados como sala de exibição de filmes. A intenção é recuperar a tradição cultural da área conhecida como cinelândia paulistana entre os anos 1930 e 1960.
No vazio deixado pelo desmoronamento do edifício Wilton Paes de Almeida em 2018, também no Paissandu, um novo edifício com volume semelhante ao anterior mesclaria habitação social e equipamentos culturais ou comerciais na fachada. A promessa já foi feita antes, nas gestões Bruno Covas (PSDB) e Nunes, mas ainda não começou a sair do papel.
Se por um lado o corredor é apontado como viável pelos atuais gestores públicos, por outro, a incrementação com os painéis enfrenta desconfiança.
Principal obstáculo, o tamanho gigante das placas não passa pelo funil da Lei Cidade Limpa.
A legislação que em 2007 fez sumir anúncios que escondiam a cidade é uma marca da prefeitura de Gilberto Kassab (PSD), atualmente secretário de Tarcísio e nome influente na política paulistana.
Saída para o impasse seria a criação de uma exceção específica, com parte da arrecadação com publicidade direcionada para a revitalização do centro e atendimento à população em situação de rua.
Análise jurídica já em curso no município irá determinar se a brecha é viável, segundo o secretário-chefe da Casa Civil da prefeitura, Fabrício Cobra Arbex. “É uma lei que permite exceções, justamente para valorizar o mobiliário urbano”, diz.
A cidade de São Paulo fez recentemente ajustes na lei para esse tipo de publicidade em vitrines de lojas.
Flexíveis, curvos, ou em cubos de diferentes dimensões, os painéis em LED poderiam ser adaptados para cobrir empenas inteiras de prédios.
Richard Albanesi, presidente da The Led, empresa especializada no ramo, conta que a tecnologia permite alternar mensagens e vídeos publicitários de diversos anunciantes em um único equipamento. É, portanto, um negócio com grande potencial para atrair investidores e gerar arrecadação para os cofres municipais.
O momento político é visto como oportuno para a construção do acordo que permitiria esse tipo de exceção às restrições impostas pela Cidade Limpa. Além do alinhamento com estado e empresários, a gestão Nunes tem feito suas pautas urbanísticas avançarem.
Conseguiu, após anos de atraso, aprovar a revisão do Plano Diretor, a lei que direciona o crescimento da cidade. Agora, a prefeitura está ajustando ao plano a Lei de Uso, Parcelamento e Ocupação do Solo.
A liberação dos painéis pode ser discutida neste processo de revisão do zoneamento, avalia o relator do projeto na Câmara, vereador Rodrigo Goulart (PSD). “É uma matéria urbanística e pode ser provocada [no período em que o tema será levado a audiências públicas] pelo Executivo ou por qualquer representante da sociedade”, diz.
Admitindo “passos para trás” no decorrer da pandemia, o secretário municipal de Planejamento, Fernando Chucre, acrescenta que, independentemente da instalação ou não dos painéis, há neste momento a articulação de diversas propostas para o centro.
Ele cita o projeto para a restrição da circulação de veículos aos domingos no trecho inicial da avenida São João. Isso criaria uma rota de pedestres para integrar o vale do Anhangabaú à praça da República, chegando até o Minhocão, a via elevada que já é fechada para carros aos finais de semana. “Estamos montando um grande quebra-cabeça para fazer essa requalificação”, diz.
CLAYTON CASTELANI E ANA PAULA BRANCO / Folhapress