SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Walewska, que morreu na última quinta-feira (21), aos 43 anos, foi uma jogadora de vôlei reconhecida por seu enorme talento. A mineira de 1,90 m era uma central de excelente passe e assim conquistou rapidamente seu espaço na seleção brasileira, com cuja camisa obteve resultados bastante expressivos.
Ela já estava no time nacional aos 20 anos, em 2000, quando conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney. Obteve ainda uma prata no Mundial, duas na Copa do Mundo e triunfou três vezes no Grand Prix. Aí, em 2008, alcançou sua grande glória no esporte, o ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
“Era excepcional. Todo técnico, toda comissão, gostaria de ter uma atleta como ela. Madura, tranquila, mas com uma vontade incrível de fazer e realizar as coisas”, afirmou José Roberto Guimarães, técnico que dirigiu a jogadora na maior parte de sua passagem pela seleção verde-amarela.
O ouro olímpico fez Walewska chegar à conclusão de que sua missão no time estava concluída. Já existia uma substituta de talento, a então jovem Thaisa, e a campeã decidiu dar maior atenção a sua família. À época, ela atuava no vôlei da Rússia e, quando chegava ao Brasil, geralmente tinha logo que se apresentar para treinos com o grupo nacional.
“Vi que estava perdendo um pouco a vida com a minha família. Eu vinha para o Brasil e, três dias depois, estava em Saquarema treinando com a seleção. Então, tive que tomar uma decisão, e minha família era a prioridade. Resolvi deixar a seleção para continuar desbravando o vôlei fora do Brasil, que era o que me alimentava naquele momento”, disse recentemente à ESPN.
A atleta ainda tinha 28 anos, com qualidade de sobra para permanecer no time. Zé Roberto sabia disso e tentou convencê-la a voltar antes dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Ela recusou e celebrou a distância a conquista de mais uma medalha de ouro, com a pupila Thaisa apresentando ótimo desempenho. Depois, teve breve retorno, em 2013.
“Eu troquei a medalha de 2012 pela minha família. E tem outro ponto também: uma jogadora treinou o ciclo inteiro para disputar uma Olimpíada, e eu tiraria um sonho de uma pessoa se aceitasse. Um jogador não vive só de esporte, vive do pós-carreira, das relações que conseguiu cultivar. Eu poderia estar hoje com duas medalhas olímpicas e sozinha. Será que valeria a pena?”
Revelada pelo Minas Tênis Clube nos anos 1990, Walewska passou em seguida pelo Rexona/Curitiba, dirigido por Bernardinho, que a levaria à seleção. Após sua carreira internacional, defendeu o Vôlei Futuro, e voltou a trabalhar com Bernardinho, no Campinas. Depois, atuou no Minas e no Osasco, mas ficou mesmo marcada por seu vitorioso período no Praia Clube e se aposentou aos 42 anos.
“Foi uma menina que eu vi se transformar em uma mulher incrível. Uma pessoa com uma energia lá em cima e, dentro de quadra, uma guerreira, amiga… Sempre demonstrou um carinho enorme com todos, aquele abraço que acolhia a todos. Uma aspirante que se tornou uma campeã. E realmente participei da transformação daquela largartinha numa borboleta linda, que voou pelo mundo, conquistou tantas coisas, mas nos deixou tão jovem, tão cheia de energia”, disse Bernardinho.
Já Zé Roberto disse ter perdido “uma filha”. Ele continua à frente da seleção brasileira e teve de lidar com a notícia da morte pouco antes da partida contra a Turquia, válida pelo torneio pré-olímpico. A equipe jogou de luto, em Tóquio, com homenagens a campeã, e acabou derrotada por 3 sets a 0.
“A gente fica sem chão. É muito duro. É um momento para nós muito difícil, conhecendo a Walewska como nós conhecíamos. Ela foi um exemplo de dedicação, de comprometimento, de tudo de bom que uma atleta pode ser. Sempre fez o que podia fazer da melhor maneira possível desde pequena”, afirmou o treinador.
Thaisa, que recebeu da mineira o bastão na seleção, chorou ao fim do jogo. “Ela foi um dos ícones de quando eu cheguei. Era uma das veteranas da seleção brasileira e foi um espelho para mim. Eu aprendi muito com ela. Tinha postura, elegância, charme, educação. É muito difícil. É inacreditável. Grande ícone. Tinha muita força e muito amor pelo esporte.”
Redação / Folhapress