Nova terapia para diabetes não tem aprovação no Brasil para perda de peso

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tirzepatida, aprovada nesta segunda-feira (25) pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento de diabetes tipo dois, teve resultados promissores também na redução do peso nos pacientes avaliados em um ensaio clínico global.

Comercializada pelo nome Mounjaro, a tirzepatida é uma droga injetável semanal com ação nos receptores de dois hormônios produzidos naturalmente no organismo, o GLP-1 (peptídeo do tipo glucagon 1) e o GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose). Eles atuam no controle do nível glicêmico do sangue e na sensação de saciedade.

O programa Surpass, que combinou ensaios clínicos de fase três (a última antes da aprovação por agências regulatórias) contou com mais de 19 mil participantes com diabetes tipo dois em todo o mundo, incluindo o Brasil. Além da redução do índice glicêmico em 92% dos pacientes para abaixo do preconizado pela Associação Americana de Diabetes (7%), a metade (51%) dos participantes do maior estudo do programa atingiu uma taxa glicêmica inferior a 5,7%, considerando a dosagem mais alta da droga (15 miligramas).

Além disso, 15% dos participantes na dosagem mais baixa (5 mg) tiveram perda de peso igual ou maior que 15 kg, passando para 24% dos indivíduos que receberam a dosagem intermediária (10 mg) e 36% naqueles com a dosagem elevada (15 mg). Em comparação, só 8% dos participantes que receberam a semaglutida (Ozempic) tiveram perda de peso igual ou superior.

Em média, a redução de peso nos participantes do estudo foi de 12,4 kg, o dobro do observado no braço que recebeu apenas a terapia com semaglutida. Os pesquisadores apontam ainda que essa redução no peso corpóreo foi mais rápida para os usuários de tirzepatida em relação ao uso de semaglutida (12 contra 24 semanas, respectivamente).

Apesar desses resultados animadores, a Anvisa aprovou a tirzepatida somente para o tratamento de diabetes tipo dois. Vale lembrar que no programa global de estudo clínico da farmacêutica Eli Lilly, os participantes foram recrutados para participar dos ensaios para tratamento de diabetes tipo dois em adjunto à dieta e exercícios.

No Brasil, o Ozempic (semaglutida), apesar de também ter seu uso aprovado para diabetes tipo 2, tem sido usado off-label para emagrecimento, isto é, com a prescrição para tratamento de uma condição que não está na bula original da aprovação da Anvisa.

O sobrepeso é um dos principais fatores de risco dos pacientes com diabetes tipo dois. Em 2021, no Brasil, 57% dos adultos com 18 anos ou mais apresentam sobrepeso, segundo dados do Vigitel. Além de ser ele próprio um fator de inflamação crônica, o excesso de peso ou obesidade pode também afetar o sistema pancreático, com a liberação constante do hormônio glucagon na corrente sanguínea. Esse hormônio é responsável por aumentar o índice glicêmico quando a glicemia está baixa. A grosso modo, ele atua da maneira inversa da insulina, que reduz a taxa glicêmica.

“Essa nova classe de drogas tem uma ação chamada pleiotrópica, isto é, a mesma molécula exerce funções diferentes de acordo com o local onde atua”, explica o médico Fábio Moura, diretor da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

“Além da regulação no pâncreas das células beta e alfa, que produzem, respectivamente, insulina e glucagon, a tirzepatida [assim como a semaglutida] atua no hipotálamo [glândula encontrada na base do sistema nervoso central, responsável pelo controle dos neurotransmissores associados ao prazer], no sistema que a gente chama de fome e saciedade, por isso ela reduz a ingestão calórica e acelera o gasto energético.”

Esse seria um mecanismo que faz com que usuários de Ozempic, por exemplo, percam a vontade de ingerir muitas calorias ou até bebidas alcoólicas. “A hipótese principal é que essas drogas agem no sistema fisiológico relacionado à fome, mas também no sistema hedônico, que é a via de prazer de comer. Como já sabemos que a obesidade tem muito provavelmente um componente também psíquico, é esperado que essas drogas tenham como efeito a redução do peso”, completa.

Para ele, é uma questão regulatória até essas drogas serem aprovadas para o controle da obesidade. “Já tem estudos mostrando que essa droga é bastante útil para obesidade. Não tenha nenhuma dúvida que elas vão ser usadas para o tratamento de obesidade no futuro”, avalia.

Diferentemente do observado com o Ozempic, porém, nos estudos do programa Surpass a tirzepatida não atingiu o chamado “platô” na perda de peso. “Essa discussão é fundamental, porque é importante que os médicos orientem os pacientes quanto ao chamado platô. O fato é que na dosagem mais alta da tirzepatida, os benefícios do ponto de vista metabólico foram elevados, com a maximização da redução da glicemia e da perda de peso, podendo adiar a fase de platô”, avalia Alexander Benchimol, pesquisador do Departamento de Endocrinologia da Escola Médica da PUC-Rio.

Segundo Moura, da Sbem, é importante lembrar que todo tratamento, seja ele para diabetes, seja para obesidade, deve ser acompanhado também de uma mudança comportamental. “Não adianta gastar uma nota com medicamentos e não controlar a dieta, não fazer atividade física. Na verdade, o que esses estudos mostram é como esses remédios podem ser uma ferramenta muito importante, mas tem que aliar com alimentação correta e exercício físico.”

ANA BOTTALLO / Folhapress

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