A revitalização de Congonhas deverá permitir que o aeroporto da zona sul de São Paulo passe a operar voos internacionais.
A informação foi dada nesta segunda-feira (25) pelo espanhol Santiago Yus, diretor-presidente da Aena no Brasil, durante apresentação dos projetos da concessionária que vai assumir a gestão do aeroporto por 30 anos, a partir do próximo dia 17 de outubro.
Entre os anúncios está o deslocamento da pista de táxi, para adequar Congonhas a normas internacionais. Para isso, será preciso a construção de um novo terminal.
Também está previsto o aumento de 12 para no mínimo 20 pontes de embarque. A concessionária ainda estuda como será a reformulação, mas terá de entregar as obras até junho de 2028.
“Pelo projeto, poderemos ter uma área reversível para o caso de alguma companhia aérea estar interessada em operar aviação internacional”, afirmou o executivo, em entrevista coletiva.
Hoje não há voos para fora do país que partem de Congonhas ou que cheguem ao aeroporto paulistano.
Segundo dados da Infraero, estatal que atualmente administra o aeroporto, entre janeiro e agosto deste ano, foram cerca de 153,5 mil pousos e decolagens no aeroporto, mas nenhum deles vindo de outro país ou partindo para o exterior. O número é 22% superior aos 125 mil movimentos registrados no mesmo período de 2022.
Neste ano, até agosto, passaram cerca de 14,3 milhões de passageiros.
Para Yus, a operação de voos internacionais a partir de Congonhas será uma decisão de mercado. “Quem vai definir não somos nós, mas as companhias aéreas com suas estratégias”, afirmou.
Os voos a partir de Congonhas serão para países próximos, em rotas de 4 ou 5 horas.
“Por causa do comprimento da pista [1.940 metros], aqui não pode chegar um 787 [modelo da Boeing de grande porte] ou aviões que cruzam o Atlântico”, disse o diretor-presidente, que várias vezes chamou Congonhas do aeroporto “dos brasileiros”.
Na entrevista, Yus citou a possibilidade de se criar uma ponte aérea entre São Paulo e Buenos Aires, ou para Santiago, no Chile. “A estrutura poderá estar pronta para aviação internacional voar na região da América Latina.”
No ano passado, foi concluída a infraestrutura para permitir a operação internacional da aviação geral executiva em Congonhas, suspensas desde a década de 1980.
De acordo com a Infraero, após receber R$ 2,5 milhões em investimentos, o terminal internacional da aviação executiva passou a contar agora com instalações para a Polícia Federal, Receita Federal, Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Questionada sobre o que Congonhas precisa para liberar destinos internacionais às companhias áreas, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) não havia respondido até a publicação desta reportagem.
CRESCIMENTO
Congonhas é o segundo mais movimentado do país, ficando atrás apenas do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na região metropolitana.
Ao ser perguntado sobre aumento no número de pousos e decolagens, o diretor-presidente foi cauteloso. Disse que para apostar no acréscimo de capacidade é preciso que muitas instituições trabalhem em conjunto, incluindo as de tráfego aéreo e as companhias de aviação.
O executivo também citou a polêmica sobre o barulho no entorno do aeroporto e na emissão de gases -no ano passado, associações de bairros próximos a Congonhas tentaram na Justiça tentaram barrar a concessão.
Eles pediram, ainda, a inclusão em contrato para que a futura concessionária tivesse responsabilidades por impactos ambientais e de trânsito provocados pelo aumento na movimentação de pousos e decolagens em Congonhas. As associações de bairro não ganharam a causa.
“Tem que ver o monitoramento de ruído”, disse Yus, Entretanto, ele admitiu que o contrato de concessão prevê 35 milhões de passageiros ao ano em congonhas, contra os 22 milhões atuais.
Desde março, o aeroporto está liberado para operar 44 movimentos de pousos e decolagens por hora, três a mais que em 2022.
Os voos de Congonhas (SP) para o Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e para Brasília respondem por menos da metade dos passageiros que embarcam ou desembarcam no aeroporto carioca atualmente.
O aeroporto passou desde o ano passado a concentrar as principais rotas domésticas do mercado aéreo brasileiro que antes pertenciam, sobretudo, a Guarulhos.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress