SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Não vai ter arrego. Você tira o professor que eu tiro o seu sossego”, gritavam os mais de 2.000 estudantes da USP (Universidade de São Paulo) presentes em manifestação iniciada às 17h desta terça-feira (26) na Cidade Universitária com destino ao largo da Batata, também na zona oeste da cidade.
Eles protestam contra a falta de professores na instituição e incitam greve desde a última semana. Boa parte dos alunos já aderiu à paralisação.
Faixas pedindo a contratação de novos docentes puxavam a massa.
Nas duas últimas décadas, a USP ampliou o número de estudantes matriculados sem garantir o mesmo ritmo na contratação de professores, e a proporção de docente por aluno caiu 28% no período. Em 2002, a instituição tinha 0,07 educador para cada matriculado, em média. Em 2022, o número caiu para 0,05. Os dados foram obtidos pela Associação de Docentes a partir do anuário estatístico da universidade.
“Estamos lutando pelo nosso futuro e o de todos os que sonham em estudar na melhor universidade do país”, disse Pedro Cortez, 23, aluno do curso de letras, da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), onde foi iniciado o movimento pela contratação de professores.
O reitor da USP, Gilberto Carlotti Junior, é o alvo favorito dos manifestantes. Dentre xingamentos e pedidos, o nome dele é citado durante todo o percurso.
Defensores do reitor, contudo, se misturavam. Vestindo uma camisa da Poli (Escola Politécnica), dois jovens passaram xingando os manifestantes de vagabundos, esquerdistas e sem propósito. Não demorou para que fossem expulsos aos berros.
Transeuntes paravam para assistir ao desfile e demonstrar apoio. “Trabalhador, olha pra cá! Eu tô na rua pro seu filho estudar”, gritavam os uspianos.
“Isso, sigam firmes. É lindo ver a juventude unida”, respondeu a farmacêutica Sandra Lopes, 48, enquanto gravava a cena.
Duas viaturas da Polícia Militar acompanham os estudantes. No espaço marcado para o fim da caminhada, policiais da força tática aguardam os manifestantes. Há temor, relata um dos agentes à reportagem, de invasão e baderna dentro da estação Faria Lima do metrô, cujos acessos ficam no entorno do largo da Batata.
GREVE
O movimento de greve na USP começou no último dia 18, quando alunos dos cursos de letras e geografia pretendiam realizar um protesto contra a falta de professores.
Por volta das 19h daquele dia, a diretoria da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) enviou um email aos estudantes dizendo que todas as atividades estavam suspensas. Na sequência, os prédios foram esvaziados e trancados devido ao temor de que fossem invadidos. A guarda universitária foi acionada, e viaturas da PM foram enviadas ao local.
Após a ação, alunos de outros cursos da FFLCH -ciências sociais, história e filosofia- decidiram apoiar a paralisação.
Uma lista de exigências foi endereçada ao diretor do espaço, Paulo Martins: liberação dos prédios; saída dos agentes de segurança dos espaços estudantis; agendamento de reunião entre a reitoria e os alunos; e retratação pública de Martins, gravado xingando os estudantes.
Os três primeiros pontos foram atendidos. Em entrevista à Folha, Martins disse não pretender pedir desculpas por sua atitude e criticou os articuladores do movimento, dizendo que “usam as mesmas armas da direita bolsonarista”. A declaração gerou revolta.
Na noite desta segunda (25), alunos da Escola Politécnica decidiram apoiar a greve, assim como estudantes da Faculdade de Direito. A decisão foi tomada em assembleia com a presença de 630 estudantes. Segundo o Centro Acadêmico 11 de Agosto, 606 alunos votaram a favor da paralisação.
Até a noite desta terça, alunos da FMUSP (Faculdade de Medicina), da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária), da FOUSP (Faculdade de Odontologia), da FCF (Faculdade de Ciências Farmacêuticas) e da EEFE (Escola de Educação Física e Esporte) não tinham se manifestado sobre a greve.
BRUNO LUCCA / Folhapress