TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) – As ações da gigante taiwanesa TSMC, maior fabricante de chips avançados no mundo, caíram para o nível mais baixo em quatro meses, com investidores estrangeiros se desfazendo do equivalente a US$ 1,9 bilhão em uma semana, até terça-feira (26).
De modo geral, o mercado de ações em Taipé, capital de Taiwan, perdeu cerca de US$ 15 bilhões desde junho, com a debandada de fundos internacionais.
Um dos motivos é a alta no rendimento dos títulos do Tesouro americano, que está tirando aplicadores também de outros mercados financeiros pelo mundo e levando à depreciação acelerada da moeda taiwanesa, no momento com o pior desempenho na Ásia.
Outra explicação é que baixou a expectativa com a demanda de chips para inteligência artificial. O banco de investimento Morgan Stanley instruiu expressamente seus clientes a adotarem cautela com empresas taiwanesas mais vinculadas a IA, caso da TSMC.
A projeção de uma demanda explosiva das empresas de IA, como a americana Nvidia, pela fabricação de chips avançados pela TSMC, havia mantido a valorização da empresa taiwanesa no início do ano, mesmo diante da retração no consumo global de produtos eletrônicos.
Retração que prossegue. O ministério taiwanês da economia divulgou que as encomendas externas de itens fabricados na ilha caíram 15,7% em agosto, em relação ao mesmo mês de 2022. Com isso, são 12 meses de queda constante nas encomendas.
Um terceiro fator a pressionar a queda nas ações da TSMC é o retorno da Huawei como concorrente da Apple em smartphones. A empresa chinesa usa em seus aparelhos chips avançados de 7nm (nanômetros) desenvolvidos e fabricados no próprio país e deve retomar parte do mercado local ocupado pela companhia americana, que usa chips da TSMC.
O cenário negativo para a TSMC vem sendo acompanhado por notícias ou rumores, na imprensa local de tecnologia, de que ela solicitou dos maiores fornecedores que adiassem a entrega de equipamentos e até que transferiu a produção de chips de 2nm para 2026.
Já houve anúncios oficiais nessa direção, como o adiamento da abertura e produção de sua futura unidade nos Estados Unidos, no Estado do Arizona.
Dois meses após divulgar a decisão, a TSMC vem dando mais atenção para outra fábrica no exterior, que está construindo no Japão e que, sem os obstáculos regulatórios e sindicais americanos, deverá iniciar produção no segundo semestre de 2024.
As “fabs”, como são chamadas as fábricas de chips ou semicondutores, estão sendo erguidas com estímulos de Washington e Tóquio, parte do esforço de ambos para reduzir sua dependência dos chips de Taiwan, ilha sob risco permanente de invasão pela China.
Mas a TSMC resiste. Na última semana, seu fundador, Morris Chang ou Zhang Zhongmou, 92, veio a público defender que Taiwan resguarde suas três vantagens na produção, a começar da mão de obra altamente qualificada e disposta a trabalhar muitas horas.
Era uma crítica indireta aos EUA, onde a empresa é atacada por não respeitar limites de horário. As outras vantagens seriam a baixa rotatividade na equipe e até o trem-bala entre as três “fabs” de Taiwan, que permite o pronto deslocamento de engenheiros.
A empresa se esforça por manter na ilha a pesquisa e a fabricação dos semicondutores mais avançados, de 3nm e menores, longe dos EUA e do Japão.
Em Taipé para um evento sobre a tensão geopolítica, Stephen Walt, da Universidade Harvard, disse que os EUA, mesmo com a nova fábrica, “não estarão aptos a substituir as capacidades da indústria de chips de Taiwan nos próximos dez anos, pelo menos”.
Detalhou que, “em termos de semicondutores mais sofisticados e menores, eles ainda serão em grande parte um monopólio taiwanês” até a próxima década.
Vale também para o Japão, apesar do avanço maior em sua “fab”. Segundo Dan Nystedt, especialista do setor em Taipé, também lá não serão produzidos chips avançados, de 3nm ou menos, mantidos em Taiwan, mas só os mais maduros, de 22nm até talvez 12nm.
NELSON DE SÁ / Folhapress