SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar disparou 1,15% e fechou cotado a R$ 5,046 nesta quarta-feira (27), atingindo seu maior valor desde maio, em a preocupações sobre uma nova alta de juros dos EUA, após o Federal Reserve (banco central americano) ter sinalizado que um aumento em suas taxas ainda em 2023 é provável.
Desde a última terça, um dia antes do anúncio de juros do Fed, a moeda americana acumula alta de 3,55% em relação ao real. A perspectiva de alta de juros nos EUA aumenta os rendimentos dos títulos do Tesouro americano e, consequentemente, atrai recursos para o país, valorizando a divisa.
A alta do dólar frente ao real também estava em linha com a valorização da divisa americana em relação a uma cesta de partes fortes.
Já a Bolsa brasileira teve uma sessão instável, alternando entre perdas e ganhos, e chegou a firmar queda durante a tarde pressionada pelos juros americanos. No fim do pregão, no entanto, o Ibovespa garantiu leve alta, apoiado principalmente por Petrobras e Vale em dia positivo para as commodities no exterior.
Nesse cenário, o Ibovespa subiu 0,11% nesta quarta, aos 114.327 pontos.
Na semana passada, o Fed decidiu manter os juros americanos na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas divulgou projeções que mostraram que a maioria das autoridades do banco prevê uma nova alta de juros em 2023 para controlar a inflação.
Desde então, os mercados globais têm registrado pregões negativos em série, impactados justamente pelo aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano. As ações europeias caíram pelo quinto pregão consecutivo nesta terça, e os principais índices de ações dos EUA também registram queda significativa desde a última semana.
No câmbio, o dólar teve alta tanto no Brasil quanto no exterior. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana ante outras divisas fortes, subiu 0,35% e atingiu seu maior nível desde novembro de 2022.
Além de ser penalizado pelos rendimentos dos títulos americanos, o desempenho do real sobre a moeda americana também sofre pressão de incertezas com o cenário fiscal no Brasil.
O economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, aponta que há ruídos sobre o pagamento de precatórios e o impacto das medidas de arrecadação propostas pelo governo para cumprir os objetivos do arcabouço fiscal.
“Existe um temor do mercado de que o governo não consiga entregar o déficit primário zero no ano que vem, que ele prometeu. Creio que esse valor mais puxado [do dólar] pode perdurar por algum tempo”, afirma o economista.
Nesta semana, o governo pediu ao STF a derrubada do limite para precatórios instituído no governo Jair Bolsonaro (PL) e propôs o pagamento de parte das sentenças judiciais como despesa financeira, sem esbarrar em regras fiscais. Apesar de a ideia de fazer a fila dos precatórios andar ter sido bem recebida, a manobra é criticada por alguns economistas, que já a classificam como “contabilidade criativa”.
O especialista em investimentos Dierson Richetti, sócio da GT Capital, também cita a deterioração do cenário fiscal como um dos motivos de volatilidade no mercado.
“O governo vem fazendo um trabalho de fazer taxações em diversos segmentos, porém não tem feito ajuste nas contas públicas. Isso deixa o mercado volátil com as previsões cada vez piores”, diz ele
Nesta quarta, a Bolsa brasileira ensaiou uma recuperação no início das negociações, após notícias positivas sobre estímulos econômicos na China, que eu força às commodities e apoiou empresas como Vale e Petrobras.
Ao longo do pregão, porém, o Ibovespa passou a operar instável. Como pano de fundo, os títulos americanos, que começaram o dia em queda, voltaram a subir, pressionando também as taxas de juros futuros no Brasil. Os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2025 saíram de 10,70% para 10,90%, enquanto os para 2027 subiram de 10,79% para 11,02%.
“A Bolsa foi contaminada pelo cenário internacional. O mercado tem digerido uma taxa de juros global mais alta e que deve durar por mais tempo. Por mais que o ciclo de queda da Selic tenha começado, o risco de contágio do exterior pesa sobre os ativos de risco”, diz André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Apesar da pressão dos juros, o Ibovespa conseguiu garantir um pregão positivo no fim das negociações, com a alta das commodities apoiando a Petrobras e a Vale, as duas maiores empresas da Bolsa brasileira. Enquanto a petroleira teve alta de 3,16%, impulsionada pela alta do petróleo no exterior, que registrou seu maior valor de fechamento do ano nesta quarta, a mineradora subiu 0,35% após notícias positivas sobre a China.
As principais quedas do dia foram de Renner, Itaú e Bradesco, que recuaram 0,61%, 0,45% e 0,28%, respectivamente, e ficaram entre as mais negociadas da sessão.
Redação / Folhapress