FOLHAPRESS – Após o fracasso do derivado “Espiral”, lançado em 2021, a franquia “Jogos Mortais” copia a estratégia de “Halloween” e volta no tempo com “Jogos Mortais 10” que, apesar de levar o número dez no título, se passa logo depois do original, livrando o espectador da tortura de assistir todas as outras sequências para compreender o novo filme.
Em 2004, “Jogos Mortais” pegou carona na onda de “Seven – Os Sete Crimes Capitais” e deu início ao subgênero conhecido como “torture porn”, ou “pornografia de tortura”, além de alavancar a carreira do diretor James Wan, também responsável por “Sobrenatural”, “Invocação do Mal” e o recente “Maligno”.
Ainda que tenha passado no teste das bilheterias, “Jogos Mortais” nunca foi ovacionado pela imprensa. Em seu programa de televisão, o crítico Roger Ebert, vencedor do prêmio Pulitzer, batizou o terror de “vomitório”. Mal sabia ele como as continuações seriam ainda mais violentas e execradas por seus colegas.
Em “Jogos Mortais 10”, o ator Tobin Bell retorna como John Kramer, o sádico Jigsaw. Sofrendo com um câncer no cérebro em estágio terminal, ele procura tratamentos alternativos e acaba conhecendo a Dra. Cecilia Pederson, filha de um médico que alega ter descoberto uma cura milagrosa.
Vivida pela norueguesa Synnøve Macody Lund, a Dra. Pederson atende seus pacientes em um rancho isolado, perto da Cidade do México. A clínica é ultrassecreta, pois o procedimento não é aprovado por qualquer órgão regulatório e a doutora se diz vítima de perseguição da indústria farmacêutica.
Aí nos deparamos com o primeiro grande problema da premissa. Como um homem inteligente como Kramer cai em um golpe como esse? Para um serial killer tão exímio em devassar detalhes da vida alheia, por que ele não fez uma investigação básica antes de se submeter ao bisturi?
Porque é preciso manter a franquia pulsando, é claro.
Depois de perceber todo o esquema, Kramer rapta os envolvidos e, com o auxílio da comparsa Amanda, interpretada pela atriz Shawnee Smith com uma peruca digna da atriz Liza Minelli, força os vigaristas a participarem de seus testes maléficos. Parece que Jigsaw levou todo o seu arsenal de arapucas, inclusive o boneco Billy, para a clínica mexicana.
Dos mesmos roteiristas de “Espiral” e “Jigsaw”, “Jogos Mortais 10” menciona a sanguinolência da civilização maia, mas poderia ser ambientado em qualquer outro país, já que o local não tem relação com a trama.
A escolha deve ter sido determinada por uma estratégia de marketing visando um público latino, e não por uma decisão criativa.
Com direção de Kevin Greutert, de “Jogos Mortais 6” e da propaganda falsa “Jogos Mortais – O Final”, a sequência que também serve como prelúdio aposta em quase todos os elementos mais característicos de seu universo. A maior parte da ação se dá em um único espaço, com cores saturadas, decisões burras e reviravoltas absurdas.
Antes de cruzar o caminho de Jigsaw, a Dra. Pederson já enganava pacientes terminais há quase uma década e, durante todo esse tempo, ninguém da gangue teve a brilhante ideia de adotar nomes falsos perto dos alvos escolhidos. Mais tarde, um dos farsantes agarra um arame farpado com as próprias mãos, ou seja, a esperteza não é forte do grupo.
Há membros decepados, miolos, litros de sangue e alguns metros de tripa. Há também, como manda a tradição de “Jogos Mortais”, atuações fracas e momentos de humor involuntário.
Falta o aspecto policialesco, que dava uma pátina ao original de ser algo além de pura crueldade sanguinária, mas a honestidade é bem-vinda.
Em pleno 2023, não há nada que possa causar aflição ao fã de terror mais calejado. De certa forma, “Jogos Mortais” e o sul-coreano “Oldboy”, também de 2003 e remasterizado há pouco tempo, são semelhantes. Ambos foram lançados nos anos 2000 e são filmes violentos que dependem de suas reviravoltas.
A diferença é que, em “Jogos Mortais”, não nos importamos com ninguém.
JOGOS MORTAIS 10
Avaliação Regular
Quando Estreia nesta quinta (28) nos cinemas
Classificação 18 anos
Elenco Tobin Bell, Shawnee Smith e Steven Brand
Produção Estados Unidos, 2023
– Direção Kevin Greutert
IEDA MARCONDES / Folhapress