O incômodo com a queda de cabelo durante a pandemia levou Regina Nazaré, 65, ao consultório de uma dermatologista. Durante o exame, no entanto, uma pinta na testa chamou a atenção da especialista, que coletou o material, encaminhou para a biópsia e, assim, diagnosticou um melanoma.
A paciente passou por um cirurgião, que removeu a área ao redor da antiga pinta. A cirurgia é importante nos casos em que o tumor já tenha atingido tamanhos maiores, para garantir que não restaram células cancerígenas que podem se espalhar pelo corpo.
Regina foi uma das debatedoras do painel sobre melanoma no 10º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, que aconteceu nos dias 26, 27 e 28 de setembro, em São Paulo, nas modalidades online e presencial. Ao todo, foram cerca de 200 palestrantes, entre docentes, pacientes e autoridades.
Veridiana Camargo, médica oncologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que, para identificar os casos, é preciso ficar atento exatamente às pintas e outras manchas que surjam na pele, já que o tumor tem origem nas células responsáveis pela produção de melanina.
A incidência de melanoma vem aumentando nas últimas décadas. Embora não seja o câncer de pele mais comum, é o mais letal se não for tratado a tempo, devido à grande capacidade de se espalhar pelo corpo e atingir outros órgãos. No Brasil, ocorrem cerca de 5.000 novos casos por ano.
O principal fator de risco para a doença são tons de pele mais claros, ou seja, com menos proteção natural ao sol, e a exposição excessiva aos raios ultravioleta, os responsáveis por provocar as mutações.
Em homens, as pintas e manchas costumam surgir no dorso e na face, enquanto as mulheres podem ter maior incidência em outras áreas da pele. Na população negra, embora raro, surge com mais frequência sob as unhas, entre os dedos ou embaixo dos pés. O acompanhamento desses sinais permite o diagnóstico precoce e contribui para as chances de tratamento.
Camargo diz que é preciso analisar se as marcas do corpo mudam de cor e se têm uma borda estranha ou um halo, ou seja, uma parte despigmentada em volta. Ela destaca que o melanoma não é necessariamente uma pinta saltada ou verrugosa. “Às vezes, o problema está em uma pinta pequena, que parece inofensiva”.
Identificar os pontos suspeitos na pele é uma tarefa que pode ser feita por observação, inclusive de partes como o couro cabeludo e as costas, mas o ideal é comparecer anualmente a um dermatologista, diz a médica, já que os profissionais têm um olhar mais atento às alterações.
Veridiana Camargo alerta para a necessidade do paciente voltar para buscar o resultado da biópsia. “Muitos pacientes acham que basta retirar a pinta, mas não é verdade”. Segundo a médica, quem já teve melanoma ou outro câncer de pele deve comparecer com mais frequência ao dermatologista, e o mesmo vale para aqueles com histórico na família.
O melanoma pode surgir em qualquer faixa etária, mesmo entre quem tem 20 a 30 anos. Além de buscar diagnóstico e tratamento, outra medida que pode ajudar contra a doença é a prevenção.
A melhor maneira de evitar o surgimento do câncer é evitar o contato com o sol, seja cobrindo o corpo, seja com o uso de protetor solar nas quantidades adequadas e com reaplicação frequente. Mesmo em dias nublados, ou para saídas rápidas pela rua, o produto é um aliado importante -Camargo recomenda aqueles com FPS (fator de proteção solar) maior que 70.
A prevenção é importante, tendo em vista as dificuldades de acesso aos sistemas de saúde. Embora casos avançados de melanoma, mesmo em metástase, tenham grande chance de cura com a imunoterapia, pacientes do SUS enfrentam longas filas de espera para chegar aos centros de tratamento e, além disso, apenas a quimioterapia está disponível no sistema público.
“Eu sou agraciada porque tenho plano de saúde e não precisei da rede pública”, diz Regina. “Mas precisamos melhorar isso. Estamos com um alto número de casos de melanoma e a incidência de raios solares está aumentando.”
ACÁCIO MORAES / Folhapress