Governo Lula promete incursões com ‘mínimo efeito colateral possível’ na Maré

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, afirmou nesta sexta-feira (29) que as ações policiais com apoio do governo federal no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, serão feitas com o “mínimo efeito colateral possível”.

Ele e o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), se reuniram para discutir as ações, mas não divulgaram detalhes da “Operação Maré”, como o plano está sendo chamado. Foi confirmada apenas a convocação da Força Nacional de Segurança, composta por policiais militares de outros estados, para apoiar as ações.

“Vamos atuar com inteligência, com proporcionalidade, respeitando a ADPF [das Favelas], sem nenhuma ação pirotécnica ou espetacular. Com inteligência e com o mínimo efeito colateral possível, para devolver território para as 140 mil pessoas que moram ali”, disse Capelli em entrevista coletiva no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense.

Castro afirmou que não haverá ocupação do conjunto de favelas, como já ocorreu no passado com apoio do Exército. “Serão incursões e uma asfixia a essas atividades criminosas.”

Capelli afirmou que a Força Nacional de Segurança atuará em apoio às incursões, que serão realizadas pelas forças estaduais.

As operações no Rio de Janeiro são associadas por especialistas à alta letalidade policial no estado. No mês passado, o presidente Lula criticou a atuação da Polícia Militar fluminense após uma sequência de mortes de jovens atribuídas a agentes do estado. De frente para Castro no palanque, o petista cobrou que a polícia saiba “diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua”.

“O povo preto, pobre, da periferia, que precisa ser tratado com respeito. Para que nunca aconteça o que aconteceu com um menino de 16 anos, que foi assassinado por um policial despreparado ou irresponsável”, disse o presidente em agosto.

A operação foi anunciada após a divulgação de imagens de criminosos em treinamento de guerrilha dentro de uma área de lazer no conjunto de favelas. O flagrante foi captado por drones da Polícia Civil do Rio como parte de uma investigação que durou dois anos e identificou mais de mil criminosos que controlam a área.

Na gravação, exibida no último domingo (24) pelo Fantástico, da TV Globo, é possível ver dezenas de homens armados simulando confrontos, inclusive com uso de bombas, dentro de um espaço ao lado de uma creche e cinco escolas.

“As imagens que vimos são inaceitáveis. Treinamento de guerrilha urbana à luz do dia. Criminosos andando com fuzis não é aceitável”, disse Capelli.

Castro afirmou que as imagens tinham “um tom de libertação”. “Uma parte da sociedade coloca traficante como bonzinho, vitima da sociedade. São criminosos de altíssima periculosidade que não têm pena de usar criança como escudo”, afirmou.

O governador disse que não poderia dar detalhes sobre a operação para não tirar o “efeito surpresa”. Afirmou apenas que o planejamento prevê ação “não só para aquela área, mas para outras áreas”.

O Complexo da Maré já conviveu com outras operações especiais de ocupação. Entre 2014 e 2015, houve atuação do Exército antes da instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no conjunto de favelas. O programa de policiamento comunitário está esvaziado atualmente.

Segundo ele, a diferença entre o atual planejamento e as operações anteriores é o fato de que “inteligência, investigação e tecnologia serão estrelas dessa nova fase”.

“É o fim dos tempos que criminosos usem equipamentos públicos para enfrentar o estado.”

Várias facções estão no Complexo da Maré, que tem mais de 140 mil moradores. De acordo com a ONG Redes da Maré, a região é ocupada atualmente por Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e também por milicianos.

Uma pesquisa lançada pela ONG Redes da Maré mostrou que a exposição precoce à violência prejudica o acesso de crianças a educação e lazer, afetando o desenvolvimento delas.

O levantamento, que considerou a divisão dos domínios territoriais comandados por diferentes frentes criminosas, observou ainda que algumas escolas não usam suas áreas externas, por exemplo, devido à proximidade com grupos armados.

ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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