Saiba tudo sobre o Prêmio Nobel, que chega a sua 122ª edição

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma das principais premiações mundiais para reconhecimento de pessoas que desenvolvem trabalhos, ações e pesquisas em benefício da humanidade nos campos da física, química, medicina, literatura, economia e para promover a paz, o Prêmio Nobel chega este ano a sua 122ª edição.

Idealizada pelo químico, engenheiro, inventor, empresário e filantropo sueco Alfred Nobel (1833 – 1896), a premiação teve início no ano de 1901 e desde então tem distribuído um valor em dinheiro para os agraciados da diversas áreas. No entanto, o mais importante é o reconhecimento a esses cientistas, escritores e ativistas da paz a cada ano.

Confira abaixo essas e outras histórias relacionadas ao Prêmio Nobel.

Como surgiu o Prêmio Nobel?

Inventor da nitroglicerina, da dinamite e de um detonador que tornou mais seguro o uso desses explosivos, o químico sueco Alfred Nobel (1833 – 1896) fez fortuna no século 19 levando suas criações mundo afora para serem usadas em mineração e construções.

Em 1888, porém, ele levou um susto ao ver uma manchete de jornal em Paris (FRA): “O mercador da morte está morto!”. Na verdade, quem havia morrido era seu irmão, Ludvig, o que causou a confusão da publicação. A forma como foi descrito, porém, fez com que Alfred começasse a pensar como gostaria de ser conhecido no futuro. Assim, teve a ideia de criar um prêmio que levasse seu nome.

Ele deixou em testamento que 94% de sua fortuna (cerca de R$ 1,3 bilhão em valores atuais) teriam de ser usadas para premiar, anualmente, “a quem tiver feito a descoberta mais importante” nos campos da física, química, medicina, literatura e para promover a paz.

Inspirado na iniciativa de Nobel, o banco central da Suécia criou, em 1968, o Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas, que passou a ser chamado de Nobel de Economia, somando-se às outras premiações.

Quem administra o prêmio?

Criada em 1900, a Fundação Alfred Nobel é a instituição que administra e fiscaliza a entrega dos prêmios. A principal missão da fundação é “gerenciar a fortuna de Alfred Nobel de forma a garantir uma posição financeira segura para o Prêmio Nobel a longo prazo e garantir a independência das instituições que concedem o prêmio em seu trabalho de seleção dos premiados”.

Quem decide os premiados?

A Real Academia Sueca de Ciências é responsável pela seleção dos laureados de Física, Química e Economia; os indicados de Medicina ou Fisiologia são definidos pelo Instituto Karolinska; e a Academia Sueca, as grandes obras da Literatura. Já o Nobel da Paz é decidido por cinco membros do Comitê Norueguês do Nobel, escolhidos pelo parlamento da Noruega.

Por que o Nobel da Paz é decidido na Noruega?

Em seu testamento, Alfred Nobel determinou que o prêmio da Paz deveria ser decidido por um comitê norueguês. Isso porque, naquela época, Noruega e Suécia estavam unidas em uma monarquia, que durou até 1905, quando a Noruega tornou-se um reino independente. O Prêmio da Paz é concedido em Oslo, pelo rei da Noruega, e os demais, em Estocolmo, pelo rei da Suécia.

Quando serão anunciados os prêmios de 2023?

O Nobel de Fisiologia ou Medicina é o primeiro dos prêmios deste ano e será anunciado em 2 de outubro, seguido por Física, Química, Literatura e Paz nos dias seguintes, respectivamente. A cerimônia de entrega dos prêmios será no dia 10 de dezembro, a data do aniversário de morte de Alfred Nobel.

Quanto recebe cada premiado?

Além de uma medalha de ouro reciclado de 18 quilates, pesando 175 g (185 g, a de Economia), e um diploma, o premiado recebe 11 milhões de coroas suecas, valor equivalente a R$ 4,95 milhões.

Um prêmio pode ser dividido entre dois trabalhos?

Sim. Nos estatutos da Fundação Nobel, diz-se: “Um valor de prêmio pode ser igualmente dividido entre dois trabalhos, cada um dos quais é considerado merecedor de um prêmio. Se um trabalho que está sendo recompensado foi produzido por duas ou três pessoas, o prêmio será concedido a eles conjuntamente. Em nenhum caso um valor de prêmio pode ser dividido entre mais de três pessoas.”

Quais os mais famosos laureados do prêmio?

Normalmente, os mais conhecidos do grande público são os ganhadores do Nobel da Paz e de Literatura. No entanto, alguns cientistas também gozam desse prestígio, como o alemão Albert Einstein (prêmio de Física em 1921), o britânico Alexander Fleming (prêmio de Fisiologia ou Medicina de 1945) e a polonesa Marie Curie (ganhadora em Física em 1903 e em Química, em 1911).

Em literatura, destacam-se o alemão Thomas Mann (1929), os americanos William Faulkner (1949) e Ernest Hemingway (1954), o português José Saramago (1998), o colombiano Gabriel-García Márquez (1982) e o britânico Winston Churchill (1953), mais conhecido por ter sido premiê britânico durante a Segunda Guerra.

Já o Nobel da Paz possui uma extensa lista de famosos: o ativista americano Martin Luther King Jr. (1964); os presidentes americanos Theodore Roosevelt (1906) e Barack Obama (2009); os sul-africanos bispo Desmond Tutu (1984) e Nelson Mandela (1993); o tibetano Dalai Lama (1989); o polonês Lech Walesa (1983); a indiana Madre Teresa de Calcutá (1979); e a paquistanesa Malala Yousafzai (2014).

Alguém já ganhou o Prêmio Nobel mais de uma vez?

Sim. A primeira pessoa a ganhar dois prêmios foi a polonesa Marie Sklodowska Curie, que também foi a primeira mulher laureada. O primeiro prêmio, de Física, em 1903, foi pelas pesquisas sobre radiação, dividido com seu marido, Pierre Curie, e o físico Henri Becquerel. O segundo, de Química, foi dado em 1911 pela descoberta dos elementos polônio e rádio, que revolucionou o tratamento de câncer (radioterapia).

O químico quântico e bioquímico norte-americano Linus Pauling também recebeu o Nobel de Química em 1954, por sua pesquisa sobre as ligações químicas, e outro da Paz em 1962, pela luta contra a corrida armamentista nuclear entre Oriente e Ocidente durante a Guerra Fria.

O americano John Bardeen ganhou dois prêmios de Física. O primeiro, em 1956, pela contribuição na invenção do transistor, e o segundo em 1972, pelo desenvolvimento da teoria quântica da supercondutividade.

O bioquímico inglês Frederick Sanger também conquistou dois prêmios de Química. Em 1958, a láurea foi por seu trabalho sobre a estrutura das proteínas. O segundo, em 1980, pelo desenvolvimento de uma técnica de sequenciamento do DNA que é usada ainda hoje.

Karl Barry Sharpless, 81, é um químico americano que ganhou dois Nobel de Química, em 2001 e em 2022, pelo que chamou de ‘química do clique’, técnica amplamente utilizada atualmente no desenvolvimento de produtos farmacêuticos.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, no entanto, é o maior ganhador de prêmios Nobel. Ele conquistou o prêmio da Paz em 1917 e em 1944, pelo seu trabalho durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, e novamente em 1963, como homenagem aos cem anos da organização.

Já o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) foi premiado em 1954 e 1981.

Quem foi o vencedor mais jovem e o mais velho?

A mais jovem laureada foi a paquistanesa Malala Yousafzai, que dividiu o Nobel da Paz de 2014 com Kailash Satyarthi “pela luta contra a opressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação”. Na ocasião, Malala tinha apenas 17 anos.

Quando o movimento islâmico Taleban assumiu o controle do vale onde morava, em 2008, as escolas para meninas foram incendiadas. Malala manteve um diário dos eventos, que foi publicado em 2009 pela BBC Urdu. Em seu diário, ela se manifestou contra o regime terrorista. Um documentário americano fez com que Malala se tornasse famosa internacionalmente.

O mais velho premiado foi o químico John Goodenough, de 97 anos, em 2019. Nascido na Alemanha mas com cidadania americana, ele desenvolveu, em 1980, as baterias de íon-lítio, que são usadas atualmente em telefones celulares e carros elétricos.

Algum brasileiro já foi premiado?

Depende do critério. Peter Medawar, ganhador do Nobel de Medicina em 1960 pela descoberta da tolerância imunológica, nasceu em Petrópolis (RJ), porém teve sua formação superior e atuação no Reino Unido.

Ninguém que tenha vivido a maior parte de sua vida no país ganhou o prêmio, mas vários nomes chegaram a ser cotados, como o físico Cesar Lattes, codescobridor da partícula méson pi.

Na literatura, alguns dos cotados foram o baiano Jorge Amado, os mineiros Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa e o pernambucano João Cabral de Melo Neto.

Para o Nobel da Paz, estiveram na lista Herbert de Souza, o Betinho, a Irmã Dulce, e os irmãos indigenistas Orlando e Cláudio Villas-Boas. Recentemente, o cacique Raoni Metuktire esteve entre os favoritos para vencer o prêmio –ele inclusive é um dos nomes cotados agora em 2023.

Na Medicina, Carlos Chagas, Vital Brasil, Adolfo Lutz, Oswaldo Cruz e Manuel de Abreu receberam indicações ao prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina.

Alguém já se recusou a receber o Nobel?

Sim, dois indicados. O primeiro foi o filósofo, escritor e intelectual francês Jean-Paul Sartre. Ele rejeitou o Nobel de Literatura de 1964, assim como já havia rejeitado outras distinções. Mesmo assim, ele é reconhecido pela Fundação Nobel como o ganhador daquele ano.

Mesmo caso do líder militar do Vietnã Le Duc Tho, agraciado com o Nobel da Paz de 1973 em conjunto com o secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger. Eles receberam o prêmio por negociar o acordo de paz na Guerra do Vietnã, mas Le Duc Tho afirmou que não estava em posição de aceitar o prêmio, citando a situação no Vietnã como motivo.

Algum premiado foi forçado a desistir do Nobel?

Quatro laureados foram forçados pelas autoridades a recusar o Prêmio Nobel. Adolf Hitler proibiu três alemães –Richard Kuhn, Adolf Butenandt e Gerhard Domagk– de aceitar o prêmio. Todos eles puderam receber posteriormente o diploma e a medalha, mas não o valor em dinheiro. Outro foi o escritor Boris Pasternak, laureado com o Nobel de Literatura em 1958. Ele aceitou de início, mas foi posteriormente coagido pelas autoridades da então União Soviética a recusar o Nobel.

Quantos prêmios já foram concedidos até hoje?

Entre 1901 e 2022, os Prêmios Nobel e o Prêmio do Banco da Suécia em Ciências Econômicas foram concedidos 615 vezes a 989 pessoas e organizações. Com alguns recebendo o prêmio mais de uma vez, isso totaliza 954 indivíduos e 27 organizações.

O prêmio é obrigatório em todos os anos?

Não. Desde o início, em 1901, houve anos em que os Prêmios Nobel não foram concedidos, no total de 49 vezes. A maioria deles durante a Primeira (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Segundo os estatutos da Fundação Nobel, se nenhum dos trabalhos em análise for considerado de importância indicada, o valor do prêmio será reservado até o ano seguinte. Se, mesmo assim, o prêmio não puder ser concedido, o valor será adicionado aos fundos restritos da fundação.

CLAUDINEI QUEIROZ / Folhapress

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