Dono da Gocil pede recuperação judicial e acumula dívidas de R$ 1,76 bi

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Grupo Handz, dono da Gocil Serviços de Vigilância e Segurança, entrou na sexta-feira (29) com pedido de recuperação judicial na Justiça paulista.

O grupo, formado por 12 empresas, dos setores de serviços gerais, segurança, imobiliário e agronegócio, informa dívidas de R$ 1,76 bilhão, a maior parte com instituições bancárias.

Na petição, elaborada pelo advogado Joel Luís Thomaz Bastos, da TWK Advogados -o mesmo que atende a plataforma de turismo 123milhas na recuperação judicial- também aparece entre as recuperandas o próprio dono do Grupo Handz, Washington Umberto Cinel.

O empresário ficou conhecido por ser um dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No ano passado, apoiou a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo de São Paulo.

“O sócio aparece entre as recuperandas quando empresta dinheiro ao negócio”, diz Filipe Denki, advogado especialista em recuperação judicial, do Lara Martins Advogados.

O Grupo Handz entrou com o pedido de recuperação judicial como um grupo econômico, reunindo operações de diferentes setores.

Sob a holding Handz Participações estão as empresas de serviços gerais e de segurança privada. Já sob a holding Maná estão as operações imobiliárias, de agronegócio e do próprio Washington Umberto Cinel, produtor rural.

O grupo atribui a crise à queda da demanda provocada pela Covid-19, à alta alavancagem para financiar as atividades agropecuárias e ao aumento na taxa de juros Selic.

“Quando o crédito se mostrou mais atrativo, na época mais aguda da Covid, as empresas foram pegando empréstimos”, diz Rodrigo Gallegos, sócio da consultoria RGF Associados, especializada em reestruturação empresarial.

“Mas com o aumento da taxa Selic, as companhias ficaram sem fôlego para honrar os pagamentos”, afirma. O caixa acabou, assim como o capital de giro, e muitas empresas não veem outra saída a não ser a recuperação judicial, diz Gallegos.

“Esses pedidos devem acontecer com cada vez mais frequência”, afirma o consultor.

O advogado Filipe Denki lembra que, no caso de uma prestadora de serviços, os ativos são muito reduzidos. “Neste tipo de empresa, a própria mão de obra é o seu maior ativo”, afirma.

De acordo com o especialista, no direito do trabalho, quando a mão de obra é terceirizada -como no caso das empresas de serviços gerais e segurança–, a contratante responde subsidiariamente.

“A empresa que contratou o serviço de quem está em recuperação judicial, temendo essa responsabilidade, rescinde o contrato e paga diretamente o funcionário, retendo a nota fiscal e a repassando ao administrador judicial”, afirma Denki.

“Isso aumenta ainda mais o desafio da recuperação judicial em uma empresa deste setor. Vi poucas empresas de serviços entrarem em recuperação judicial e efetivamente se recuperarem”, diz o advogado.

Empresário é ex-tenente da Polícia Militar

Cinel é ex-tenente da Polícia Militar, formado pela Academia de Polícia do Barro Branco. Ele criou a Gocil em Bauru, no interior paulista, em 1985. De acordo com a empresa, o grupo soma cerca de 20 mil funcionários e “impacta indiretamente” outros 100 mil.

As atividades do grupo giram entorno da figura de Washington Cinel. “O sr. Washington, na figura de produtor rural individual e detentor de quase a totalidade das quotas das empresas de segurança do grupo, figura como arrendatário em quase a totalidade das terras de propriedade das empresas do setor agro. Isto é, o sucesso da atividade agrícola explorada por parte do grupo -e consequentemente seu soerguimento a partir do presente pedido de recuperação judicial- depende diretamente do arrendamento celebrado com o sr. Washington. Além disso, ele presta garantias pessoais a sociedades dos ramo agro e de prestação de serviços, além de ter exercido, por anos, a administração das requerentes”, diz trecho da petição.

Entre os grandes clientes citados pela empresa na petição estão o Hospital Israelita Albert Einstein, a Universidade de Caxias do Sul (UCS), a multinacional de alimentos Nestlé, a empresa de shopping centers Iguatemi e o grupo DPSP, dono da Drogaria São Paulo.

Ainda, segundo a petição, o grupo “possui como um de seus maiores contratantes o governo do Estado de São Paulo, fornecendo mão de obra para diversas companhias estaduais, como, por exemplo, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM)”.

De acordo com o texto, as atividades no agronegócio começaram há 22 anos, mas se intensificaram desde 2015, “como consequência da onda de otimismo que viveu o setor nos últimos anos”.

Em 2020, o grupo adquiriu a unidade de produção agrícola em Balsas (MA), “cuja abertura para produção demandou -e ainda demanda- investimentos muito altos em tecnologia, maiores do que o originalmente programado pelo grupo”.

Há cerca de R$ 16,2 milhões retidos junto a instituições financeiras credoras do Grupo Handz. “Trata-se de valores que foram objeto de cessão fiduciária de aplicação financeira, em garantia a operações contratadas junto aos bancos credores”, diz a petição.

Em nota, o Grupo Handz afirmou que o pedido de recuperação judicial “visa ter a total segurança de preservar o emprego de seus 20 mil colaboradores diretos e 50 mil indiretos, a perfeita continuidade da manutenção de seus serviços e seus clientes, além do total, pontual e perfeito compromisso com os funcionários, fornecedores, parceiros comerciais e ex-colaboradores, resguardando a relação capital-trabalho”.

“O exacerbado crescimento da taxa de juros aliado ao efeito das consequências da Covid-19 afetaram severamente o mercado, impondo a necessária antecipação de medidas para prever a sua manutenção de caixa e a reestruturação adequada de seus negócios pela via judicial”, diz a nota.

DANIELE MADUREIRA / Folhapress

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