SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) criticou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em ato nesta segunda-feira (2) para receber o apoio do PC do B na eleição de 2024. O pré-candidato rebateu a pecha dada pelo adversário e disse que pregar contra a desigualdade é humanidade, não radicalismo.
Representantes do PC do B também discursaram contra Jair Bolsonaro (PL) e se disseram orgulhosos de serem chamados de comunistas, desdenhando dos ataques do ex-presidente. A legenda compõe uma federação com o PT, que já havia oficializado a aliança com Boulos. O PV, terceira sigla da coalizão partidária, também anunciará sua participação na campanha, segundo o pré-candidato.
O ato, realizado na sede paulista do PC do B, no centro da capital, com a presença de dirigentes, membros como a deputada estadual Leci Brandão e militantes, tratou a eventual vitória na cidade como peça estratégica para fortalecer o presidente Lula (PT), que apadrinha a candidatura.
“As acusações do outro lado são sempre as mesmas. ‘É radical’, ‘é extremista’, ‘vai tomar a casa dos outros'”, listou Boulos, em referência às falas do rival. “Lutar para que as pessoas tenham um teto é [ser] radical? Lutar para que na cidade mais rica da América Latina uma criança não revire o lixo para comer é [ser] radical? […] Isso é ser humano, isso é uma questão de humanidade.”
Boulos também disse que Nunes faz seu trabalho “mal, e faz com esquema, quando faz”, citando reportagens da Folha que mostraram a disparada de obras emergenciais, que não exigem licitação, e os contratos fechados pela atual gestão com a empresa de um compadre e ex-assessor do prefeito.
O deputado se disse honrado com o apoio do PC do B e, em conversa fechada com os integrantes da legenda antes, convidou o partido para participar da coordenação de sua campanha e da formulação do programa de governo.
Boulos afirmou ainda que está conversando com PV e Rede para que formalizem a entrada na aliança nos próximos dias e busca atrair ainda Avante e PDT. A Rede forma uma federação com o PSOL.
Na semana passada, o Solidariedade anunciou apoio a Nunes. O partido, que integrou a coligação de Lula em 2022, chegou a sinalizar publicamente que estaria com Boulos, como publicou a Folha em maio.
O pré-candidato do PSOL, em entrevista coletiva após o evento, contestou a ideia de que o apoio do PC do B tenha sido meramente protocolar em razão do encaminhamento dado pelo PT, que oficializou a adesão a seu nome em agosto, ficando sem candidato próprio na corrida municipal pela primeira vez.
Militantes e lideranças da sigla prometeram se engajar na disputa. “Isso tem um peso. Agora, nós queremos ampliar mais”, continuou, insistindo na mensagem de que tentará construir uma frente com a sociedade paulistana, e não só com partidos do campo. A retórica é semelhante à adotada pelo PT para a eleição de Lula no ano passado.
Vice-presidente nacional do PC do B, Walter Sorrentino disse na cerimônia que “a batalha que talvez, isoladamente, mais ajude a avançar o governo Lula é vencer as eleições em outubro de 2024 na capital de São Paulo”.
“Vamos formar um grande bloco diante das forças conservadoras, das forças reacionárias, diante do bolsonarismo, se vencermos essa eleição. E essa eleição é possível de vencer, faz parte dessa luta maior”, afirmou Sorrentino.
O dirigente expôs a vontade de o PC do B eleger ao menos dois vereadores. Hoje, não há nenhum.
Nádia Campeão, que foi vice-prefeita no governo Fernando Haddad (PT), disse que o partido tem muitos motivos para se envolver na campanha pelo retorno da esquerda à prefeitura. “[Um deles é] o motivo da batalha nacional, de ajudar o presidente Lula a realizar um governo vitorioso, como já está sendo.”
Ela destacou o fato de Boulos iniciar a corrida na liderança das pesquisas e lembrou que ele frequentava a prefeitura para apresentar reivindicações do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) enquanto ela era vice-prefeita.
O presidente estadual do PC do B, Rovilson Britto, disse que o apoio a Boulos foi construído “com muita tranquilidade” e aprovado por unanimidade. Ele, porém, reconheceu a força da aliança de centro-direita montada por Nunes, que conta com a máquina municipal em sua tentativa de reeleição.
“A luta é dura. Do outro lado perfilam muitas lideranças, muitas siglas e muito recurso. Do nosso lado, está a esperança, está a combatividade e está a história, porque ninguém está começando agora. O Guilherme é essa liderança que vem ajudando a construir essa transformação do Brasil. E São Paulo merece ter abertura para o futuro”, afirmou.
Ao discursar, sem citar o nome de Bolsonaro, Leci Brandão disse que “existia um cara neste país” que “quando ia xingar as pessoas falava ‘esses comunistas’, ‘seus comunistas'”.
“Que bom, né? Ele sempre xingou a gente de comunista, e nós temos um valor extraordinário. É muito bom ser comunista”, emendou, sob aplausos, acrescentando que as armas do grupo são as ideias.
O presidente municipal do PC do B, Alcides Amazonas, também evitou mencionar Bolsonaro, mas comemorou a saída dele do governo e descreveu a gestão Lula como um novo ciclo do país. “Derrotamos o coisa ruim, mas ainda existe muito adepto da política que ele defende, portanto a nossa luta continua. E essa luta aqui em São Paulo aparece com muita força.”
Durante o evento, um grupo puxou o coro “ele é de luta, tem meu respeito, PC do B com Boulos pra prefeito”. O deputado federal Orlando Silva (SP), em viagem oficial à Rússia, esteve ausente, mas mandou um vídeo, exibido no telão, em que exaltou o pré-candidato e o chamou de companheiro.
A pré-campanha de Boulos está sendo organizada em torno do Movimento Salve São Paulo, uma iniciativa do postulante para atrair partidos, organizações e líderes comunitários em torno da ideia de discutir os problemas da cidade e apresentar soluções que sejam transformadas em propostas eleitorais.
JOELMIR TAVARES / Folhapress