SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao evitar embates com o governo Lula, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi chamado de diplomata pelo jornalista Pedro Bial, em entrevista exibida na madrugada desta terça-feira (3) na TV Globo.
“Obviamente a gente não vai pensar igual em tudo, mas a gente está bem alinhado”, disse sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “O tempo é o melhor remédio. O tempo vai passando e a pessoa olha e diz: realmente ele está tentando ajudar”.
Segundo ele, várias pessoas contribuíram para a construção desse relacionamento. Campos Neto afirmou saber que o trabalho de Haddad é complexo. “É difícil cortar gastos”, disse, apesar de reforçar que essa é uma medida necessária.
Após encontro com o presidente Lula na semana passada, Campos Neto busca construir uma relação de confiança com o governo.
Na entrevista, ele contou que conversou com Lula em apenas duas ocasiões: no final de 2022, antes da posse presidencial, e na semana passada.
“O Lula gasta mais tempo prestando atenção no que você fala e tem mais paciência para as conversas”, analisou, ao comparar a reunião com o atual presidente com as que manteve com Jair Bolsonaro (PL). “Bolsonaro era mais rápido. Sabia que teria três minutos com ele, depois dos três minutos ele ficava mais disperso”.
Na última conversa com Lula, o presidente do Banco Central preferiu ouvir mais do que falar ao contrário do primeiro encontro. Segundo ele, é possível que ocorram novos diálogos, mas nada ficou marcado.
Apesar da relação diplomática, Campos Neto voltou a defender a autonomia do Banco Central para que seja realizado um trabalho técnico independente dos ciclos políticos, o que, na visão dele, é melhor a longo prazo para a economia.
“A gente pilota olhando para frente”, comparou sobre os tempos diferentes entre economia e política.
Campos Neto negou a intenção de renunciar ao cargo antes do final do mandato, em 2024, mesmo recebendo pressões políticas. E garantiu também que não pretende disputar nenhum cargo ao deixar a presidência do BC.
“No projeto de autonomia, eu tinha pedido para incluir uma cláusula dizendo que o presidente do Banco Central não pode ser candidato a nada por dois anos após sua saída. Exatamente para não ter nenhum tipo de vínculo entre o trabalho técnico e uma vontade de participar do governo e ter que fazer alguma coisa diferente”.
CRISTINA CAMARGO / Folhapress