Gojira e Mastodon, ícones da música pesada no século 21, fazem show em São Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Bandas de heavy metal se preocupam em compor músicas pesadas e excursionar o mundo tocando para os fãs. Mas o Gojira quer mais. Além destas duas atividades, o grupo francês cumpre o papel de uma ONG.

Quando lançou seu último disco, “Fortitude”, em 2021, promoveu um leilão de guitarras, baixos e objetos diversos de integrantes de bandas de metal importantes para arrecadar fundos para comunidades indígenas da Amazônia.

“Levantamos US$ 350 mil para que esses povos pudessem comprar terra e prevenir que as árvores fossem queimadas”, diz Joe Duplantier, o vocalista da banda. O valor é de cerca de R$ 1,7 bilhão.

Naquele ano, o conjunto, um dos principais nomes do metal do século 21, lançou também um videoclipe onde se vê a Amazônia em chamas e tribos indígenas praticando seus rituais. Depois, Duplantier participou de um protesto em Brasília com integrantes dos Guarani Kaiowá contra o projeto do marco temporal e a destruição da floresta.

“Amazonia”, a música que simboliza o comprometimento do Gojira, deve fazer parte do show que o grupo vai mostrar dia 14 de novembro, em São Paulo, na segunda apresentação da banda no país em pouco mais de um ano -eles tocaram no Rock in Rio em 2022.

“Nós não escolhemos a Amazônia, a Amazônia nos escolheu. Sempre foi algo importante para nós”, ele afirma, quando questionado por que, de todas as causas possíveis que poderia ter apoiado como uma voz pública, optou pelo bioma.

O cantor diz que a Amazônia é basicamente um monte de árvores, e que elas são o que melhor representa o poder da natureza. “O símbolo da árvore é um dos emblemas mais poderosos que já usamos nos nossos discos”, acrescenta, lembrando do segundo álbum, “The Link”, de 2003, com o desenho de uma árvore na capa.

O Gojira surgiu em 2001 e conquistou o público com seu death metal cru e direto. Conforme o tempo passou, a banda, sempre conhecida por suas posições progressistas, incorporou groove e melodia no som, aumentando a base de fãs progressivamente, até se tornar um show esperado por todos.

Duplantier questiona por que tantas bandas de metal giram em torno de esqueletos, Halloween, fantasmas e a iconografia do horror. “Onde elas querem chegar com isso?” Uma das funções da música é educar as pessoas, de maneira não pretensiosa, diz ele, e sempre que o Gojira tem uma informação sobre o mundo que considera relevante, a ideia é passá-la para o público.

Na mesma noite, se apresentará também o Mastodon, banda americana que ganhou o Grammy em 2018 por melhor performance de metal com a música “Sultan’s Curse”. Apesar da premiação e do respeito dos fãs que conquistaram em 25 anos de carreira, o grupo não é tão popular quanto o Gojira, talvez porque seu som seja mais intrincado do que o do conjunto francês.

O quarteto de Atlanta não hesita em fazer músicas longas e com uma pegada progressiva, com várias mudanças de andamento numa mesma faixa. A canção ganhadora do Grammy, contudo, faz parte de um disco de apelo mais comercial -mas não por isso menos pesado.

Brann Dailor, o baterista, conta que o Grammy não deu à banda mais oportunidades, mas que ele se sente muito honrado de ter começado tocando em porões e hoje estar no mesmo nível de Stevie Wonder, também premiado com a estatueta.

“O Grammy não é só por uma música. É por todos os sacrifícios que fizemos na estrada, ao deixar as pessoas que amamos em casa, e por todas as festas de aniversário que perdemos. O prêmio não compensa isso, claro, mas é algo de que nossos avós podem se gabar. É divertido para eles”, afirma.

Nos últimos dois discos, o Mastodon lidou com temas pesados como o câncer, que afetou familiares de três dos integrantes da banda, e a morte. O álbum mais recente, “Hushed and Grim”, de 2021, se centra no luto pela perda de Nick John, o manager da banda e também amigo próximo de todos no grupo.

Segundo o baterista, os discos da banda são criados a partir das experiências de vida de cada integrante e, ao fazerem o último, eles passaram por todos os estágios do luto. Dailor conta também que os fãs se identificam com isso e dizem se sentir acolhidos ao ouvir sobre assuntos sérios nas músicas do Mastodon.

“Nós temos um impacto emocional nessas pessoas e isso é uma coisa legal. Mas não é que a gente esteja indo atrás de tragédias”, afirma ele. “Espero que nada aconteça no próximo ano e que os fãs ganhem mais músicas sobre ciclopes e vikings do espaço e coisas divertidas.”

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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