Sem greve no Metrô e na CPTM, transporte em SP volta ao normal… normal com falhas!

A greve dos sindicatos que representam os trabalhadores do Metrô e da CPTM durou 24 horas e foi encerrada à meia-noite desta quarta. Todas as 13 linhas que compõem o sistema sobre trilhos da Região Metropolitana operam normalmente hoje. E, entenda-se por normal, com as falhas que costumam gerar transtornos aos usuários.
Desde ontem, a linha 9-Esmeralda, operada pela Viamobilidade, tem problemas por causa de falhas no sistema elétrico. A operação é feita em via única entre as estações Morumbi e Pinheiros e a a concessionária chegou a registrar boletim de ocorrência por vandalismo na via.
Na assembleia realizada na noite desta terça-feira (3), um total de 2.331 trabalhadores (79%) votou pelo encerramento da greve. Outras 587 pessoas (19%), votaram pela manutenção da paralisação. Uma nova reunião está prevista para a próxima segunda-feira (9) para discutir sobre mais uma paralisação.

A greve de funcionários do Metrô e da CPTM prejudicou cerca de 4 milhões e meio de paulistanos. Trabalhadores da Sabesp também aderiram à greve. Os sindicatos das categorias protestam contra o plano de privatizações do governo do estado.

Só quatro das 13 linhas sobre trilhos e justamente as sob concessão da iniciativa privada funcionaram. A linha 9 – Esmeralda – apresentou um problema operacional durante à tarde e a circulação foi paralisada entre seis estações.

A greve causou um pico de congestionamento de 767 quilômetros durante a noite. O índice é 15% acima da média para o horário, mas não foi recorde. Em 15 de setembro foram registrados 1.350 quilômetros de vias congestionadas.

Nesta terça-feira, às 6 da manhã, muitos já estavam nas ruas antes do horário, com medo de engarrafamentos maiores por causa da greve. Com isso, a capital já tinha 118 quilômetros de lentidão, 368% a mais que a média de 25 quilômetros que costuma ser registrada nesse horário.

No horário de pico da manhã, foram registrados 598 quilômetros de lentidão às 8h, cerca de 7% acima da média horária. Após as 10h da manhã, o trânsito ficou próximo da média registrada em outros dias, inclusive com menos lentidão que o normal entre uma e cinco e meia da tarde.

Por conta da paralisação, o rodízio de veículos foi suspenso pela prefeitura de São Paulo, que ainda determinou que toda a frota de ônibus esteja rodando durante todo o dia, e ampliou o itinerário ou reforçou as frotas de algumas linhas municipais de ônibus.

A Justiça determinou que 100% dos trens circulassem nos horários de pico e 80% no resto do dia, com multa prevista de R$ 500 mil. A decisão do Tribunal Regional do Trabalho se baseou em um entendimento do Tribunal Superior do Trabalho que, na época da privatização da Eletrobrás, considerou a greve abusiva pelo caráter político. Como os sindicatos não cumpriram a decisão de manhã, a Justiça do Trabalho decidiu triplicar o valor da multa para os ferroviários e elevou para R$ 2 milhões a multa para os metroviários.

As linhas paralisadas nesta terça-feira foram:

Linha 1–Azul (Metrô)

Linha 2–Verde (Metrô)

Linha 3–Vermelha (Metrô)

Linha 15–Prata (Metrô)

Linha 10–Turquesa (CPTM)

Linha 12–Safira (CPTM)

Linha 13–Jade (CPTM)

Operaram parcialmente:

Linha 7–Rubi (CPTM): de Luz até Caieiras

Linha 11–Coral (CPTM): de Luz até Guaianases

Funcionaram:

Linha 4–Amarela (ViaQuatro): de Vila Sônia até Luz

Linha 5–Lilás (ViaMobilidade): de Capão Redondo até Chácara Klabin

Linha 8–Diamante (ViaMobilidade): de Itapevi até Júlio Prestes

Linha 9-Esmeralda (ViaMobilidade). Teve a operação paralisada entre as estações Morumbi e Osasco por uma falha no sistema de energia. Ela voltou a operar por via única nesse trecho.

Entenda plano de privatização da gestão Tarcísio que motivou a greve em São Paulo

A motivação da greve de metroviários, ferroviários e funcionários da Sabesp (Companhia de Saneamento de São Paulo) nesta terça-feira (3) provocou fortes críticas do governo estadual, que classificou a paralisação como “ilegal e abusiva”.

No centro da disputa entre grevistas e governo está o planejamento, considerado estratégico na proposta do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para o estado, de repassar serviços públicos à iniciativa privada.

Os planos para o Metrô, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e a Sabesp estão em estágios de maturidade diferentes. As propostas enfrentam resistência de sindicatos de funcionários das estatais, de movimentos sociais e partidos de esquerda.

SABESP

A venda da Sabesp é o projeto mais avançado até agora. Como mostrou o Painel da Folha de S.Paulo, a gestão Tarcísio quer enviar o projeto de lei da privatização ainda neste mês e espera aprová-lo até o fim do ano.

Hoje, o governo estadual controla a empresa de saneamento e tem 50,3% do seu capital social. O restante das ações é negociado na Bolsa de Valores de São Paulo e na de Nova York.

A intenção é vender participação do governo na empresa e ficar com menos da metade das cotas, ou seja, repassando a administração para o setor privado. Os detalhes finais da proposta, como a participação final do governo na empresa, ainda estão sendo definidos.

CPTM

Já em relação à CPTM, o governo encomendou um estudo para privatizar todas as linhas que hoje são administradas diretamente pela empresa pública. Já existe um edital publicado para a concessão da linha 7-rubi, a mais antiga da CPTM, que conecta a capital com Jundiaí, no interior.

A concessão da 7-rubi já está marcada, pois faz parte do processo de reativar a antiga conexão férrea entre São Paulo e Campinas, o Trem Intercidades. Após um adiamento, a previsão da gestão Tarcísio é que o leilão seja feito em fevereiro de 2024.

Paralelamente, há o estudo em andamento para a concessão das linhas 10-turquesa, 11-coral, 12-safira e 13-jade. O governo estima que o investimento nessas linhas seja de R$ 5,5 bilhões caso a concessão vingue, e há a previsão no projeto de que a linha 13 tenha novas estações.

Essas linhas funcionariam no mesmo modelo de operação hoje em vigor nas linhas 8-diamante e 9-esmeralda, com administração de uma empresa privada e a fiscalização do poder público. Esse exemplo atrai a maior parte das críticas de funcionários e usuários, pois desde a concessão para a ViaMobilidade houve um aumento de casos de descarrilamento e outros tipos de falha.

METRÔ

No Metrô, alguns planos já estão em andamento. Está prevista a concessão dos serviços de atendimento ao público nas estações, hoje feito por servidores públicos, e da manutenção da linha 15-prata. Os dois pregões estão agendados para o mês de outubro.

Além disso, Tarcísio já manifestou intenção de privatizar a operação das quatro linhas públicas do Metrô -1-azul, 2-verde, 3-vermelha e 15-prata-, também segundo o Painel. Oficialmente, o processo de estudo para essas concessões ainda não teve início.

Para a implementação de linhas de metrô que ainda serão construídas, o governo já deu início à consulta para uma PPP (parceria público-privada) que viabilize duas delas: a 19-celeste (que conectaria a capital a Guarulhos) e a 20-rosa (até o ABC Paulista), próximas na lista de planejamento da STM (Secretaria de Transportes Metropolitanos). Há ainda um projeto de PPP para reformar e administrar a Estrada de Ferro de Campos de Jordão, no interior do estado, contra a qual o sindicalistas também protestam.

A maior parte desses projetos são coordenados pela SPI (Secretaria de Parcerias e Investimentos), chefiada pelo secretário Rafael Benini. A mesma pasta coordenou o leilão do trecho norte do Rodoanel e tem projetos em andamentos para vários setores, principalmente na área de infraestrutura.

Todos os 17 projetos da pasta somariam R$ 192 bilhões em investimentos do setor privado caso sejam realizados -é comum que a modelagens demorem anos até ficarem prontas para a publicação de edital.

Enquanto isso, os sindicatos e a oposição a Tarcísio defendem que a população seja consultada diretamente sobre as privatizações. Metroviários, ferroviários e funcionários da Sabesp realizam um plebiscito independente sobre as concessões de linhas, e pede que o governador oficialize a consulta.

Na semana passada, a deputada estadual Mônica Seixas (PSOL) protocolou um projeto de lei para que se faça uma consulta popular para cada processo de privatização. Entre as justificativas está um estudo do TNI (Transnational Institute) que mapeou 835 casos de serviços públicos que foram reestatizados no mundo, após ficarem sob responsabilidade do setor privado, desde o ano 2000. A proposta tem pouca chance de ser aprovada na Casa.

O governo Tarcísio recusa a ideia de plebiscito para aprovar privatizações e diz que todos os projetos passarão por audiências públicas antes de serem aprovados.

Redação + Folhapress

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