SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Primeira operação completa entre real e yuan, startup americana de identidade digital chega ao Brasil e o que importa no mercado nesta quarta-feira (4).
**1ª TRANSAÇÃO YUAN-REAL**
Uma operação comercial entre o Brasil e a China foi feita pela primeira vez em circuito fechado com as moedas locais, com transações financiadas e liquidadas em yuan e convertidas diretamente para real.
A notícia foi divulgada pelo Banco da China Brasil SA, subsidiária do quarto maior banco estatal chinês.
O negócio: uma exportação de celulose da Eldorado Brasil, empresa de São Paulo com representação em Xangai, na China.
O embarque foi feito em agosto do porto de Santos para o de Qingdao, e a finalização da transação em moeda brasileira aconteceu em 28 de setembro.
O acordo aconteceu graças à criação em março de uma “Clearing House” (câmara de compensação), uma instituição bancária que permite o fechamento de negócios e a concessão de empréstimos entre os dois países sem que o dólar tenha que ser usado.
Outros grandes exportadores brasileiros, como a Suzano e a Petrobras, também estudam a possibilidade de exportar para a China pulando a etapa de conversão ao dólar. Os executivos dizem que a demanda vem dos importadores chineses.
Por que importa: além de a China ser o maior parceiro comercial do Brasil, o presidente Lula (PT) tem defendido alternativas ao dólar, hoje a principal moeda adotada em transações entre países.
A divisa americana é impactada por uma série de variáveis que às vezes fogem do controle do Brasil ontem (3), por exemplo, o dólar superou os R$ 5,15 impulsionado por apostas de mais juros nos EUA.
Apesar do incentivo chinês às transações envolvendo yuan, os economistas acham difícil que a moeda substitua a americana como a principal em transações envolvendo grandes economias.
Para um economista do FMI ouvido pela Folha em abril, seria preciso alterar as estruturas que sustentam o dólar no centro do câmbio global, algo considerado muito difícil, ao menos no curto prazo.
**PÁTRIA COMPRA CONTROLE DA ATAKAREJO**
A gestora Pátria anunciou nesta terça a compra de uma posição majoritária na rede baiana Atakarejo, dona de 28 lojas em Salvador, na região metropolitana e no interior do estado, além de dois centros de distribuição. O valor da operação não foi divulgado.
A estratégia: a aquisição marca a entrada do fundo no atacarejo, setor que mais cresce entre seus pares no país, segundo a consultoria NielsenIQ.
O segmento que oferece preços do atacado para o varejo teve um impulso principalmente durante a pandemia, quando a inflação corroeu o poder de compras dos brasileiros e atraiu a classe média para esses estabelecimentos.
A cada 100 lares no Brasil, 73 compram no atacarejo, enquanto 62 fazem compras em supermercados de grande porte, segundo a Nielsen.
Entre os maiores do segmento, estão o Assaí (dos controladores do Pão de Açúcar), o Atacadão (do Carrefour) e o Grupo Mateus, com atuação no Norte e Nordeste. Os três lideraram o faturamento do setor no ano passado.
Quem é quem:
Pátria: uma das maiores gestoras do país, tem R$ 140 bilhões em ativos administrados. A aquisição de parte do Atakarejo se soma a outros investimentos em alimentação e bebidas, como Junior Alimentos, Frooty e supermercados regionais.
Atakarejo: foi fundado em 1994, em Salvador, por Teobaldo Costa, que seguirá à frente da empresa com uma posição minoritária após a compra do Pátria. Fechou 2022 com receita líquida de R$ 3,2 bilhões, alta de 23% sobre o ano anterior.
**STARTUP DOS EUA DE IDENTIDADE DIGITAL CHEGA AO BRASIL**
A Incode, startup americana de identificação digital e prevenção de fraudes avaliada em US$ 1,2 bilhão, está abrindo um escritório no Brasil, mercado em que atua desde 2021 e já possui como clientes Nubank e Rappi.
Ela chega ao país para disputar uma briga de pesos-pesados, competindo inclusive com um unicórnio (startup avaliada em US$ 1 bi ou mais) local, a Unico.
O principal foco dessas empresas está em prevenir fraudes no setor financeiro, que registrou em 2022 uma tentativa de roubo de conta digital por minuto, segundo dados da AllowMe, que também atua na área.
“O Brasil sempre foi um mercado prioritário e a gente sentia a necessidade de ter uma operação aqui, para entender as necessidades locais”, disse à FolhaMercado Viviane Freitas, gerente da operação brasileira da Incode.
O escritório paulista será o quarto da startup, que além do Vale do Silício (EUA) está na Sérvia e no México, país do fundador, Ricardo Amper.
A Incode: fundada em 2015, a idtech se tornou um unicórnio em 2021, quando levantou US$ 220 milhões em uma série B liderada por Softbank e General Atlantic.
Para se destacar da forte concorrência por aqui, a startup aposta na tecnologia feita dentro de casa e abastecida com IA, que promete reduzir as fraudes em 99%.
Um de seus principais serviços é a prova de vida, que certifica junto a dados do governo a identidade da pessoa que está tentando abrir uma conta.
Ela consegue identificar se há uma tentativa de se passar por outra pessoa com uma foto ou um filtro de câmera, por exemplo.
O uso de ferramentas de identificação digital é cercado de questionamentos sobre seu potencial de reprodução de preconceitos e outros vieses dos humanos que as desenvolvem.
“Como a tecnologia é nossa, não contratada de um terceiro, conseguimos constantemente treinar nossos modelos para minimizar esses problemas”, diz a representante da Incode no Brasil.
**IA VAI DIMINUIR TRABALHO DOS HUMANOS, DIZ CEO**
O CEO do bancão americano JPMorgan, Jamie Dimon, é um dos mais otimistas em relação ao avanço da IA (inteligência artificial).
“Seus filhos viverão até os 100 anos e não terão câncer por causa da tecnologia”, disse em entrevista à Bloomberg
“E eles provavelmente trabalharão três dias e meio por semana.”
A visão positiva do CEO se reflete no dia a dia do JPMorgan:
3.500 vagas relacionadas a IA foram anunciadas pelo banco americano de fevereiro a abril, segundo a consultoria Evident.
300 diferentes usos da tecnologia estão sendo aplicados na instituição, disse o CEO em carta aos acionistas.
E o outro lado da ferramenta?
“O maior ponto negativo, na minha opinião, é a IA sendo usada por pessoas más para fazer coisas ruins”, disse Dimon.
O executivo reconheceu que a ferramenta pode substituir alguns empregos, mas afirma que isso já aconteceu com outras tecnologias que surgiram.
Por falar em IA no trabalho, um dos objetivos de Sam Altman, CEO da OpenAI, a dona do ChatGPT, é de que a ferramenta sirva para moderar conteúdo nas redes sociais.
A função muitas vezes inglória, que envolve eliminar publicações violentas ou sobre assassinatos, pedofilia e outros crimes, hoje costuma ser feita no modelo de microtrabalho sistema em que há uma recompensa por tarefa realizada.
Como essa atividade não exige presença física, pessoas de países de moeda barata podem realizar esses bicos, o que barateia o serviço para as big techs.
Para o colunista da Folha Ronaldo Lemos, porém, a IA não vai substituir a moderação de conteúdo, mas criar mais demanda por esses serviços.
ARTUR BÚRIGO / Folhapress