SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo da China negou ter perdido 55 marinheiros em um acidente com um submarino nuclear em agosto, conforme sugere um persistente rumor na comunidade de inteligência militar, trazido à tona nesta semana pela imprensa britânica.
Tudo começou em sites taiwaneses e de chineses no exílio no fim de agosto, conforme relato do conhecido blog militar Secret Shores, do americano H.I. Sutton, colaborador do Instituto Naval dos EUA.
Segundo a versão, um submarino de ataque Tipo 093, que carrega armamentos convencionais mas tem propulsão nuclear, ficou preso no mar Amarelo no dia 21 de agosto em uma armadilha contra outros submersíveis adversários. Ela consiste de uma âncora e correntes.
A embarcação, sempre segundo a versão, teve problemas então com seu sistema de purificação de oxigênio, levando à asfixia de parte de sua tripulação, incluindo o capitão e outros 20 oficiais. O submarino em si não foi perdido, e ninguém sabe se havia mais pessoas a bordo.
Contra tal versão, o próprio Sutton lembra, há o fato de que submarinos de propulsão nuclear usualmente conseguem ultrapassar tais obstáculos. Além disso, eles não ficam sem oxigênio só por ficarem eventualmente presos aí seria preciso considerar um defeito no sistema de renovação do ar da embarcação.
O governo chinês e também o de Taiwan, ilha autônoma que monitora os passos de Pequim, que a considera seu território, e o assunto ficou em banho-maria até esta terça (3), quando jornais britânicos citaram a existência de um relatório ultrassecreto da Marinha do país relatando o incidente.
Ele foi divulgado inicialmente pelo tabloide Daily Mirror, de baixa confiabilidade e usual propaganda exagerada contra os adversários do Reino Unido, mas depois também foi citado pelo tradicional jornal The Times. Os veículos trouxeram a negativa chinesa e taiwanesa.
Seja qual for a verdade, dificilmente ela será conhecida. A ditadura comunista da China tem um dos mais duros controles de informação do mundo, com especial opacidade em assuntos militares.
Recentemente, as Forças Armadas foram colocadas sob escrutínio por uma série de notícias misteriosas. O ministro da Defesa, Li Shangfu, desapareceu da vista pública por semanas, só para ter uma investigação de corrupção anunciada contra si o que costuma acabar em fuzilamento no país.
Dois dos principais comandantes da Força de Foguetes do Exército de Libertação Popular, que cuidam do arsenal convencional e nuclear do país, foram demitidos sem explicação. Para coroar a fase, o PLA Daily, jornal ligado aos militares conhecido por artigos laudatórios a comandantes e à excelência técnica presumida de armamentos, publicou dois textos críticos, um sobre defeitos em mísseis e outro, sugerindo a necessidade de “purificar o círculo social” dos oficiais.
Nesse contexto, a boataria sobre o submarino ganha um peso que pode ou não ser desproporcional.
Em termos técnicos, se o acidente ocorreu, é bem grave. O Tipo 093 é um dos modelos de ataque mais modernos da China, em operação há 15 anos. Ele tem 107 metros e pode levar até 100 tripulantes, sendo armado com torpedos e mísseis de cruzeiro antinavio. Há seis em operação hoje, incluindo o 093-417, barco que sofreu o acidente segundo os relatos.
O episódio ecoa casos famosos, como o do submarino nuclear russo Kursk, afundado em 2000 após a explosão de um torpedo.
IGOR GIELOW / Folhapress