SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registrou nova alta de 0,30% e fechou a R$ 5,168 nesta quinta-feira (5), ainda beneficiado pelos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, enquanto o mercado aguarda novos dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos.
Já a Bolsa brasileira caiu 0,28% e terminou o dia aos 113.284, ainda operando em seus menores níveis desde junho, segundo dados preliminares. O Ibovespa foi pressionado pelas “small caps”, empresas menores e mais sensíveis aos indicadores domésticos, em dia de alta dos juros futuros no Brasil que, por sua vez, acompanharam os títulos americanos.
Na ponta positiva, altas de Vale, Petrobras e do setor financeiro apoiaram o índice e atenuaram as perdas da Bolsa.
As negociações desta quinta foram marcadas por incerteza de investidores, após dados econômicos dos EUA darem sinais mistos sobre o futuro da política de juros americanas.
De um lado, o Relatório Nacional de Emprego da ADP mostrou na quarta (4) que a criação de vagas no setor privado dos EUA ficou bem abaixo do esperado em setembro.
De outro, um relatório divulgado na terça (4) indicou que a abertura de vagas no país aumentou inesperadamente em agosto, sinalizando aquecimento. Além disso, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA aumentaram em 2.000, menos que o esperado por economistas, o que também indica aperto no mercado de trabalho americano.
“A divergência ocorre porque o ADP mostrou criação de postos de trabalho abaixo do esperado, o que demonstraria uma fraqueza da atividade, enquanto os pedidos de seguro-desemprego abaixo do esperado mostrariam uma maior firmeza”, afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.
Agora, o mercado aguarda a divulgação de um relatório de vagas fora do setor agrícola, prevista para a manhã de sexta (6), que é acompanhado de perto pelo Fed para suas decisões de juros e visto como crucial para alinhas as apostas de uma possível alta nas taxas ainda em 2023.
A avaliação do mercado, porém, continua sendo de que uma alta de juros nos EUA é cada vez mais provável, como aponta Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos.
“Várias casas já projetam que os juros americanos vão subir. Hoje, temos visto uma economia norte-americana ainda resiliente, em pleno emprego e com inflação com dificuldade de cair, o que impacta nas taxas de juros. As taxas do Fed estão elevadas, com possibilidade de subir ainda mais, o que impactaria todo o resto do mundo”, diz Meira.
Nesse cenário, os rendimentos dos títulos do governo americano continuam rondando seus maiores patamares desde 2007, apesar de terem apresentado leve queda nesta quinta, passando de 4,73% para 4,71%.
Taxas de juros mais altas nos Estados Unidos tendem a valorizar o dólar justamente por aumentar o rendimento da renda fixa americana, considerada altamente segura, e atrair recursos para o país.
“Se houver um escalonamento dessa incerteza e os juros americanos se mantiverem mais altos por mais tempo, o dólar pode, sim, continuar registrando algumas altas. Já há casas, inclusive, que estão revisando para a cima a projeção de câmbio daqui para frente”, diz Apolo Duarte, planejador financeiro e sócio da AVG Capital.
Por outro lado, países emergentes e ativos de risco são preteridos e tendem a ser penalizados. Os principais índices acionários americanos, inclusive, terminaram o dia em leve queda. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq caíram 0,13%, 0,12% e 0,03%, respectivamente.
No Brasil, o Ibovespa seguiu o pessimismo do exterior. O índice até chegou a operar em alta pela manhã, mas firmou queda durante a tarde puxado principalmente por empresas mais sensíveis às movimentações de juros no país.
Mais cedo, em evento em São Paulo, o diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, afirmou que a possibilidade de o Fed manter os juros altos por mais tempo é um tema central e que a alta dos rendimentos dos títulos dos EUA tem afetado previsões sobre a Selic no relatório Focus.
Ele observou que, normalmente, um cenário externo de juros altos não é bom para países emergentes, mas ressaltou que o Brasil tem uma posição bastante privilegiada por ter reservas internacionais robustas.
Com isso, as “small caps”, empresas menores e mais ligadas à economia doméstica, registraram as maiores quedas do dia e puxaram o Ibovespa para baixo. Hapvida, Magazine Luiza e MRV lideraram os tombos com recuos de 4,80%, 4,23% e 3,61%, respectivamente.
Redação / Folhapress